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Plano de linhas de transmissão provoca irritação entre os amantes da natureza

A empresa de energia da Noruega quer levar atender às demandas das grandes cidades. Mas, para isso, comprou uma briga com a população de onde a eletricidade é produzida

Por The New York Times
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h12 - Publicado em 16 nov 2010, 07h34
Arte VEJA ()

A mudança ocorre com dificuldade ao redor dos fiordes profundos na costa oeste da Noruega. Quando o primeiro hotel foi construído em Norheimsund, em 1857, os piedosos moradores locais protestaram: os hotéis trariam o consumo de bebidas alcoólicas, temiam, e mulheres de cabeça vazia.

Assim, não surpreende que se oponham com firmeza ao fato mais recente do desenvolvimento das vizinhanças, a construção de enormes linhas de alta tensão a partir de usinas hidrelétricas nas montanhas acima dos fiordes até cidades litorâneas, particularmente Bergen, a segunda maior do país. Se forem construídas as linhas de transmissão sobre torres, como querem os engenheiros, ou se ao largo do leito do fiorde, como desejam os opositores, elas entrarão no mar pelo pequeno porto da cidadezinha.

“Simplesmente eles não as querem”, disse Hakon Borgen, de 42 anos, vice-presidente executivo da Statnett, a operadora de linhas de energia da Noruega, que busca construir pelo ar a linha de 150 quilômetros, cujo custo chega a 150 milhões de dólares, enquanto bebia café no hotel de madeira de 153 anos de idade, atualmente um marco local.

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Audun Gulbrandsen, 24 anos, saxofonista de jazz e opositor do projeto, deixou a música de lado pela causa. “A área não tem cabos dessa magnitude”, observou ele, ressaltando que vários das 270 torres mencionadas no plano seriam, com seus pouco mais de 40 metros, “as maiores da Noruega”.

Campanha no Facebook – No meio do ano, um grupo de manifestantes protestou em Oslo. Uma campanha no Facebook, organizada por Gulbrandsen e outros, rapidamente conseguiu reunir quase 110 mil partidários. A solução que os manifestantes propõem parece simples: no lugar de uma rede elétrica pelo alto, o cabo deveria passar ao longo do leito do profundo fiorde Hardanger, o principal e mais bonito da região.

Mas isso seria caro. Ainda que as linhas da rede elétrica por torres custassem 152 milhões de dólares, com base em estimativas do governo, Borgen, da Statnett, disse que uma combinação de um cabo por baixo d’água e linhas de altas tensão custaria quatro vezes mais.

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A maioria dos moradores de Norheimsund e das vizinhanças gosta da solução submarina. Atle Kvamme, da Câmara de Comércio local, disse que o aspecto mais importante era garantir energia à região de Bergen. No entanto, acrescentou: “Somos um país rico. Podemos nos dar ao luxo de construir no mar”.

Energia barata – Pouca gente aprecia a região mais que Borgen. Nascido em Bergen, duas horas a oeste do local, percorreu a região e navegou por suas águas antes de se mudar para Oslo em 1995, para trabalhar na Statnett. As mesmas pessoas que se opõem às linhas de transmissão, argumenta, aumentaram seu consumo de eletricidade em mais de 80% ao longo das últimas décadas.

Com fartura da barata energia hidrelétrica à disposição, os noruegueses aquecem suas casas com eletricidade, e nos meses de inverno a rede chega perto do limite. Por infelicidade, destacam Borgen e outros, a água está nas montanhas, mas os consumidores estão na costa.

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Habitantes da localidade negam que seu consumo de eletricidade seja o centro do problema. “O consumo médio por pessoa é bastante estável, de fato”, notou Ingunn Halvorsen, porta-voz da empresa de serviço público BKK. “As pessoas estão tendo cuidado com a eletricidade”, disse ele.

No entanto, a população e a indústria local cresceram, incrementando o consumo de eletricidade. Além disso, o governo quer reduzir a pegada de dióxido de carbono da Noruega mediante a eliminação de geradores que queimam gás e produzem eletricidade nas plataformas de petróleo na costa do país, alimentando-as com eletricidade do continente. Os geradores são uma importante fonte de dióxido de carbono.

Cabo submarino – Borgen concordou com uma decisão do governo de estudar a possibilidade de levar o cabo através do fiorde, que tem 797 metros em seu ponto mais profundo, exatamente em frente a Norheimsund. Fora o custo, disse, um cabo submarino enfrenta maiores riscos de falhas. Os resultados do estudo devem ficar prontos em fevereiro.

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Alguns dos detratores não acreditam, para começar, que uma linha de alta tensão seja necessária, pelo ar ou sob a água.

“O investimento deve ser feito até o limite, ou se deve buscar o progresso de forma caótica?”, pergunta Johan Odfjell, empresário norueguês que dirigiu companhias de seguro e operadores de rede ao longo dos anos. “A indústria de energia diz: invista.”

Odfjell, de 62 anos, se descreve como um “empresário social sem fins lucrativos” e apóia o movimento de protesto com dinheiro e experiência. Para ele, especialistas devem avaliar se um nova linha faz falta, ou se é possível atender a demanda mediante a conservação e atualização da redes atuais.

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No povoado vizinho de Sammanger, Marit Aksnes Aase, 63 anos, prefeita desde 1999, quer as novas linhas, mesmo que se conectem com a rede existente do povoado na terra. Onde alguns vêem destruição da natureza, ela vê oportunidades. “Nos concentramos nas oportunidades, não nos problemas.”

Obra de arte – Sammanger produz eletricidade para Bergen há 124 anos, alardeou, e nos anos recentes, à medida que a Noruega desregulamentou suas empresas de serviço público, surgiram cerca de uma dúzia de pequenas usinas elétricas que exploram os abundantes recursos de água de sua localidade. As novas linhas, disse ela, dariam e elas uma rota para vender sua eletricidade. Ela chegou a sugerir à Statnett que moldasse uma das torres como “uma obra de arte”.

Algumas pessoas estão resignadas com a chegada das novas linhas de transmissão como o preço do progresso. Trinta anos atrás, quando se construíram as primeiras linhas, Anna Hadeland estava furiosa. “Arruinaram a natureza”, disse, dentro da loja que sua família administra há gerações, no fundo de um fiorde, perto da prefeitura de Sammanger. “Deixei isso de lado”, disse. “Já aceitei. A natureza cresce ao redor das linhas.” Depois, acrescentou: “Há um pouco de histeria, mas é uma pena que façam isso”.

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