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Pesquisa brasileira mostra alterações cerebrais durante abstinência do álcool

Estudo da Unifesp aponta aumento no número de receptores canabinoides no cérebro durante crises de abstinência, o que pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos e terapias

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h19 - Publicado em 11 jul 2013, 09h23

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos alcoólatras quando tentam se livrar do vício são as crises de abstinência. Após anos consumindo a substância regularmente, o corpo reage ao corte repentino da bebida com uma série de sintomas como ansiedade, irritabilidade, tremores, náuseas e, em casos mais extremos, convulsões e delírios. Pesquisadores do Laboratório de Neurobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriram que, durante essas crises, algumas regiões cerebrais diretamente envolvidas com a dependência sofrem alterações importantes, com um aumento na produção de receptores canabinoides.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Temporal and Behavioral Variability in Cannabinoid Receptor Expression in Outbred Mice Submitted to Ethanol-Induced Locomotor Sensitization Paradigm

Onde foi divulgada: periódico Alcoholism: Clinical and Experimental Research

Quem fez: Cássia C. Coelhoso, Douglas S. Engelke, Renato Filev, Dartiu X. Silveira, Luiz E. Mello e Jair G. Santos-Junior

Instituição: Universidade Federal de São Paulo, entre outras

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Dados de amostragem: Camundongos que passaram 21 dias consumindo doses diárias de álcool

Resultado: : Os pesquisadores separaram os animais entre aqueles mais sensíveis e mais resistentes aos efeitos cumulativos do álcool. Após cortar a administração da droga, eles analisaram seus cérebros e descobriram que os mais sensíveis apresentavam uma quantidade maior de receptores canabinoides em áreas relacionadas à dependência

O cérebro humano produz uma série de substâncias conhecidas como endocanabinoides, que possuem estrutura semelhante ao tetrahidrocanabinol (THC) – componente responsável pelos principais efeitos da maconha. Essas substâncias possuem várias funções corporais, entre elas a regulação de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, relacionados a transtornos psiquiátricos, ao sistema de recompensa do cérebro e à dependência.

No estudo, a intenção dos pesquisadores da Unifesp foi analisar a quantidade de receptores a esses endocanabinoides que poderia ser encontrada no cérebro de camundongos em meio a crises de abstinência. Para isso, eles forneceram aos animais doses diárias de álcool, e separaram aqueles que pareciam mais sensíveis aos efeitos da droga daqueles que se mostraram resistentes.

Após 21 dias, eles cortaram a administração do álcool. Ao analisar o cérebro dos animais, eles descobriram que a ausência súbita da substância produzia, apenas nos ratos mais sensíveis, um aumento na quantidade de receptores canabinoides em regiões responsáveis pela aprendizagem, memória, emoções, motivação, tomada de decisão e estresse. “Além disso, uma nova dose de álcool reverteu totalmente os efeitos da abstinência sobre estes receptores”, afirma Cassia Coelhoso, pesquisadora da Unifesp e uma das responsáveis pelo estudo.

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Tratamento contra alcoolismo – Segundo os pesquisadores, ainda não é possível saber por que o número de receptores canabinoides aumenta nesses animais. “Não sabemos se esse aumento causa os sintomas de abstinência ou se ele acontece justamente para diminuir esses efeitos. Precisaremos de mais pesquisas para saber se ele é um desencadeador da crise ou um protetor do sistema nervoso”, afirma Renato Filev, pesquisador da Unifesp e coautor do estudo.

Para o cientista, o que a pesquisa mostra claramente é uma relação entre os receptores canabinoides e o alcoolismo. Isso pode levar, no futuro, ao desenvolvimento de melhores tratamentos para a dependência da substância. “O sistema endocanabinoide pode ser um importante alvo terapêutico para o alcoolismo, principalmente durante a fase de abstinência, caracterizada por altas taxas de recaídas. No futuro, podemos encontrar algum tipo de molécula que possa manipular esse sistema. O problema é que ainda não sabemos se procuramos por algo que o ative ou desative”, afirma o pesquisador.

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