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O ‘circo’ da ONU deixa o Riocentro

A maratona de negociações, pronunciamentos, reclamações e muito trabalho da Rio+20 terminou oficialmente às 19h15 desta sexta-feira,

Por Luis Bulcão, do Rio de Janeiro
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h32 - Publicado em 22 jun 2012, 19h37

“A conferência histórica. Opa, corta! Vamos de novo: A Rio+20, que entra para a história como uma das maiores conferências já realizadas…” O ensaio da repórter da televisão norte-americana que empunhava o microfone em frente à redoma de vidro que sela o Pavilhão 5 do Riocentro, local reservado aos líderes do mundo, indicava que o ‘circo’ da Rio+20 começava a ser desmontado. Durante 10 dias, representantes de 188 países estiveram circulando pelo território cedido às Nações Unidas na zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo o Comitê Nacional Organizador, a conferência recebeu 45.381 participantes. A maratona de negociações, pronunciamentos, reclamações e muito trabalho da Rio+20 terminou oficialmente Às 19h15 desta sexta-feira. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado bateu o martelo, oficializando a aprovação do documento final, intitulado ‘O Futuro que Nós Queremos’, após ser atingido o consenso entre os 188 países que enviaram representantes à conferência.

Os ares de fim de festa também ficavam evidentes nas cabines de áudio reservadas aos tradutores. A Babel que se instala nos corredores e salas de conferência só se desfaz porque um esquadrão de multilíngues transmite simultaneamente tudo o que é dito para espanhol, francês, inglês, russo, árabe e chinês, além da língua do país sede. Animadas pela proximidade do fim do expediente, as gaúchas Débora Manhães e Ana Paula Brasil conversavam em uma das cabines. A dupla foi responsável por descrever às pessoas com deficiência visual tudo o que acontecia nas salas de conferências. “Falamos nos intervalos dos discursos, quando tem uma pausa”, diz Ana Paula. “Descrevemos as roupas, o que elas estão fazendo, se fazem um sinal, um gesto”, explica Débora. Entrosadas, as duas se revezam entre um discurso e outro. Planejada pelo Itamaraty, a acessibilidade foi realmente um dos pontos fortes da conferência. Todas as principais plenárias tiveram acompanhamento de intérpretes para linguagem de gestos. Havia disponibilidade de textos em braile sob demanda, os vídeos eram transmitidos com legendas e os cadeirantes tiveram pleno acesso às dependências do Riocentro.

Também não houve incidente de segurança. Preparados com um impressionante aparato para encarar de protestos a ameaças terroristas, os 4.363 homens e mulheres envolvidos no esquema dentro e fora do Riocentro não tiveram maiores problemas. No corredor do pavilhão 3, Winfrey Babdou caminhava tranquila. Vestida de camisa azul, revólver na cintura e rádio próximo ao ombro, ela é uma dos 100 oficiais da ONU encarregados de coordenar a segurança no Riocentro. Apesar da vestimenta lembrar as fardas dos policiais de Nova York, ela explica que é do Quênia. Trabalha em Nairobi, na sede do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma). “Foi tudo bem, agora está calmo. É o último dia”, suspirou aliviada. “Ainda não tive a oportunidade de ir à praia. Vou amanhã”.

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Se a ousadia das decisões políticas ficou aquém do esperado, a convivência pacífica de diferentes ideologias e culturas no Riocentro vigorou até o final. No pátio do centro de convenções, Takaiy Ablaney, uma canadense de 11 anos de idade, roubava a cena. Mais pela eloquência do discurso do que pela novidade do conteúdo: “Eu quero ter ar para respirar quando eu crescer. E os oceanos? Vocês vão me deixar um oceano vazio, sem peixes, sem vida?”, perguntava desafiante diante das câmeras. Enquanto isso, pessoas se juntavam próximo a um televisão que transmite ao vivo a plenária. Representantes de centenas de países discursaram. Na plenária, circularam ditadores, como Robert Mugabe – que andava cercado por oito seguranças pessoas – príncipes, como Albert II, de Mônaco, presidentes, como Hollande, da França e Evo Morales, da Bolívia, e substitutos, como Dmitri Medvedev, da Rússia, e Hillary Clinton, dos Estados Unidos. Normalmente, subiam à plenária proferiam discursos preparados e deixavam a cúpula. Foram pouquíssimos os que ficaram para ver o que os colegas tinham a falar. Mahmoud Ahmadinejad, para o bem ou para o mal – mais para o mal – foi quem mais chamou a atenção. Wen Jiabao, da China, colocou um pouco de dinheiro na mesa – 37 milhões de dólares. Mas o que os chefes de estado e seus substitutos mais gastaram mesmo foi tempo, com discursos longos que tomaram três dias de plenárias que começaram e terminaram atrasadas.

No café localizado em uma das extremidades do Pavilhão 3 – um dos lugares mais procurados por diplomatas, membros de delegações, representantes da sociedade civil e jornalistas para aplacar o cansaço do trabalho que invadiu madrugadas, principalmente antes da aprovação do documento oficial -, Hsiu-Man Lin, ou simplesmente Lisa de Nova York, como as pessoas a conhecem, estava abaixada atrás do balcão. O barman, Wilson Neto, 23 anos, mostrava as gavetas e as prateleiras e explicava: “acho que não temos”. A ativista estava à procura de leite de soja. “É tão fácil proteger o ambiente. É só ser vegetariano. Essa é a minha mensagem, sejam vegetarianos!”, dizia Lisa, frustrada pela restrição alimentícia. Wilson, um dos 5 mil trabalhadores que prestaram serviço no Riocentro, se orgulhava: “sou o único barman bilíngue por aqui. Trabalhar quase 14 horas por dia foi um desafio, mas pude falar com as pessoas de outros países, saber o que elas pensam. Estou cansado, mas vou sentir saudades”.

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