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Nobel de Química destaca pesquisas na área médica

Descoberta dos receptores celulares levou ao desenvolvimento de inúmeros medicamentos e à compreensão dos processos bioquímicos do corpo

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h26 - Publicado em 10 out 2012, 21h23

Nesta quarta-feira, dois médicos americanos foram agraciados com o Prêmio Nobel de Química. Robert Lefkowitz e Brian Kobilka foram responsáveis por descobrir a existência dos receptores celulares acoplados à proteína G, estruturas que estão presentes na parede das células e realizam sua comunicação com o ambiente externo. Seus estudos foram realizados em laboratórios médicos, explicaram processos do corpo humano e salvaram muitas vidas – o que talvez justificasse o Nobel de Medicina. Mesmo assim, o prêmio de química também é válido, pois as descobertas da dupla tiveram forte influência na área, principalmente na bioquímica e no desenvolvimento de novos medicamentos. “Hoje a ciência é vista como um processo interdisciplinar. Eles tiveram uma grande importância na compreensão dos mecanismos bioquímicos de sinalização celular”, diz Rosely Godinho, professora de farmacologia celular na Universidade Federal de São Paulo.

Perfil

Robert J. Lefkowitz, vencedor do Prêmio Nobel de Química 2012 ()

Robert J. Lefkowitz

Nasceu em 1943, na cidade de Nova York. Ele se formou no College of Physicians and Surgeons, da Universidade de Colúmbia, em 1966. Desde 1976, é pesquisador no Instituto Médico Howard Hughes e, desde 1977, trabalha no Centro Médico Universitário Duke, de Durham (EUA).

Brian Kobilka, vencedor do Nobel de Química 2012 ()
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Brian Kobilka

Nascido em 1955, em Little Falls, Minnesota, Kobilka é professor de Medicina, Cardiologia e Fisiologia Molecular e Celular na Escola de Medicina de Stanford. Ele se formou na Escola de Medicina de Yale, em 1981. Após sua residência em clínica médica no Barnes Hospital, em Saint Louis, ele se juntou ao laboratório de Robert Lefkowitz como um pesquisador em cardiologia na Universidade de Duke.

O trabalho de Lefkowitz e Kobilka é daqueles que têm implicações que vão muito além de sua área de atuação e influenciam novas descobertas científicas décadas depois. Ao explicar os mecanismos por meio dos quais as substâncias externas às células podem influenciar seu comportamento, a pesquisa levou a uma revolução na compreensão dos efeitos dos remédios. “Saber como esse mecanismo se estrutura possibilita o desenho de compostos químicos específicos para alterar seu funcionamento e, com isso, o próprio funcionamento interno de uma célula”, diz Bettina Malnic, pesquisadora do Instituto de Química da USP, que estuda como os receptores celulares presentes no nariz são afetados pelos aromas.

Mensageiro – Os receptores celulares acoplados à proteína G têm uma função primordial no corpo humano. Eles são capazes de receber diversos tipos de sinais externos, que podem vir de neurônios e neurotransmissores (veja como o processo funciona no infográfico abaixo).

O primeiro indício desses receptores foi encontrado em 1968, quando Robert Lefkowitze descobriu os chamados beta-adrenérgicos, que respondem especificamente à ação da adrenalina no corpo. “Quando nos deparamos com uma situação de estresse agudo, a adrenalina ativa esses receptores em células do músculo cardíaco, que, por sua vez, ativam moléculas que aumentam a força e a frequência da contração do coração”, diz Rosely Godinho, que estuda a ação desses receptores em músculos esqueléticos.

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De lá para cá, os pesquisadores já descobriram cerca de mil tipos diferentes de receptores, que podem responder a informações tão diferentes quanto o tato, a luz e o paladar. “Descobrimos tantos tipos que hoje temos receptores órfãos. São aqueles que nós fomos capazes de identificar, mas não sabemos por quais moléculas são ativados”, afirma Godinho.

Medicina e química- Com o conhecimento sobre a natureza dos receptores, os cientistas passaram a ser capazes de criar substâncias químicas que manipulam esses mecanismos e, assim, modificar o funcionamento interior das células. “Hoje conseguimos desenhar drogas tendo em mente especificamente essas reações”, diz Rosely Godinho. Exemplos não faltam: broncodilatadores para tratar a asma, remédios contra a gastrite, anti-hipertensivos e anti-inflamatórios agem ativando ou inibindo os receptores. “O próprio desenvolvimento dessas drogas está na fronteira entre química e medicina, justificando o prêmio”, diz Bettina Malnic.

Essa não é a primeira vez que pesquisas que mais parecem ser da biologia ganham o Nobel de Química. Em 2003, o prêmio foi para cientistas que descobriram como as membranas da célula deixam passar sal e água; em 2006, para estudos com o RNA; e em 2009, para uma pesquisa sobre a natureza dos ribossomos. Recentemente, a Academia Real de Ciências da Suécia parece ter percebido a importância de pesquisas na área da química orgânica – principalmente na genética e na atividade intracelular. Não deixa de ser um modo de reconhecer a amplitude desses estudos. “A pesquisa de Lefkowitz e Kobilka teve implicações em inúmeras áreas, inclusive a química. Mas ninguém estranharia se eles tivessem ganhado o Nobel de Medicina”, diz Godinho.

Info-Nobel-Química-2012 ()
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