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Morre Alexander Grothendieck, o eremita gênio da matemática

Famoso por suas posições pacifistas e ecologistas, ele foi premiado com a Medalha Fields, o 'Nobel da Matemática', se recusou a receber o prêmio por questões políticas, mas depois o leiloou e doou o dinheiro aos vietcongues

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h08 - Publicado em 14 nov 2014, 17h38

Alexander Grothendieck, um gênio da matemática famoso por suas posições pacifistas e ecologistas, morreu na quinta-feira, aos 86 anos, após viver as duas últimas décadas como um eremita em um povoado dos Pirineus, na França. Grothendieck morreu no hospital de Saint-Girons, na cordilheira que separa França e Espanha, onde vivia isolado desde 1990, de acordo com fontes ligadas ao pesquisador.

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Considerado por muitos de seus colegas um dos matemáticos mais importantes do século XX, Grothendieck, nascido em Berlim em 1928, era filho de uma jornalista socialista e de um fotógrafo anarquista judeu russo que emigrou para a Alemanha após ser condenado primeiro pelo regime czarista e depois pelos comunistas.

Durante a II Guerra Mundial, o pai de Grothendieck morreu em Auschwitz, enquanto a mãe e o garoto foram enviados ao campo de concentração de Rieucros, nos Pirineus. Sobrevivente, Alexander Grothendieck começou a se interessar pela matemática e, sem um histórico escolar brilhante, formou-se e foi estudar em Montpellier, na França. Foi ali que um professor detectou no jovem algumas aptidões extraordinárias para a matemática.

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Gênio – O mito sobre sua genialidade não surgiu até os matemáticos Laurent Schwartz e Jean Dieudonné entregarem a ele, quando tinha 20 anos, uma lista com catorze problemas e pedirem para ele escolher um.

Alexandre Grothendieck, em foto da década de 1970 ()

Meses mais tarde Alexander Grothendieck voltou a se encontrar com seus professores e entregou os catorze problemas resolvidos. Nos meses posteriores, redigiu o equivalente a seis teses, trabalho que um aluno aplicado teria levado entre três e quatro anos.

Nos anos seguintes, com o passaporte Nansen que a ONU dava aos refugiados sem pátria, já que se recusava a assumir a nacionalidade francesa, Grothendieck trabalhou, a partir de 1953, no Brasil, onde lecionou durante dois anos na Universidade de São Paulo, e nos Estados Unidos. Em seguida, passou a fazer suas pesquisas no Instituto de Altos Estudos Científicos (IHES), ao sul de Paris.

Foi nessa instituição que dirigiu um seminário de geometria algébrica que trouxe uma nova visão sobre a geometria inspirada em sua obsessão por repensar o espaço. Gothendieck destacou-se por sua capacidade para generalizar e criar novos pontos de vista em sua área.

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Protesto – Premiado em 1966 com a Medalha Fields, conhecida como o “Nobel da Matemática”, decidiu não viajar a Moscou para receber o prêmio por motivos políticos – ativista contrário à Guerra do Vietnã, ele protestava tanto contra a interferência da União Soviética quanto dos Estados Unidos no conflito. O prêmio acabou sendo recebido pelo diretor do IHES em nome de Grothendieck , que depois o leiloou para financiar os vietcongues no conflito contra os americanos. Não foi o único prêmio que o matemático recusou. Ele dizia que seus trabalhos deveriam ser julgados pelo tempo e não pelos homens.

Aos poucos, afastou-se da comunidade científica e se aproximou de movimentos ecologistas radicais. Recusou seu posto no prestigiado Colégio da França para se transformar em professor da Universidade de Montpellier e, entre 1984 e 1988, trabalhou no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS).

Em 1990 se retirou aos Pirineus, em um local que era conhecido somente por poucos amigos e exigiu que seus escritos não publicados fossem destruídos. Além de um matemático extraordinário, Grothendieck foi também “uma personalidade fora do comum em sua filosofia de vida”, disse o presidente da França, François Hollande, em homenagem ao gênio.

(Com agência EFE)

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