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Nasa lança mais audaciosa missão a Marte desde anos 70

Reportagem do site de VEJA visitou o quartel-general da Nasa, em Washington, e sua ‘fábrica’ de robôs, na Califórnia, para conhecer o ambicioso programa espacial do Mars Science Laboratory, o jipe que parte na sexta rumo ao planeta vermelho para ajudar os cientistas a descobrir se lá existe ou existiu vida

Por Marco Túlio Pires, de Pasadena, Estados Unidos
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h54 - Publicado em 19 nov 2011, 01h30

No dia 25 de novembro, a Nasa vai lançar do Cabo Canaveral, na Flórida, a maior e mais audaciosa missão a Marte desde a década de 70. Trata-se do Mars Science Laboratory (MSL), um jipe de uma tonelada e do tamanho de um Fusca preparado para uma série de estudos sem precedentes. Se tudo der certo, o MSL pousará em solo marciano em agosto de 2012 para ajudar os cientistas a descobrir se lá existe ou já existiu vida e o que deve ser feito para que, daqui a décadas, uma missão tripulada alcance o planeta vermelho.

Batizado Curiosity, o jipe vai procurar os ambientes de Marte mais propícios à formação de vida. Para tanto, foi equipado com dez instrumentos capazes de localizar e analisar os ingredientes considerados essenciais à vida: água, energia na forma de luz ou calor e materiais orgânicos. Dos dez aparelhos, o mais importante pode detectar se uma amostra do solo ou da atmosfera possui moléculas orgânicas. Outros cuidarão de tomar medidas meteorológicas, fotografar o terreno, perfurar rochas, analisar minerais e buscar vestígios de água até dois metros abaixo da superfície.

O Curiosity também vai ajudar a determinar a quantidade exata de radiação cósmica na superfície de Marte, algo nunca medido antes. Esses dados ajudarão a desenvolver tecnologias para diminuir os efeitos da radiação em humanos e proteger futuros exploradores de Marte. O interesse da agência espacial americana revela que a intenção de enviar astronautas para o planeta é bastante séria. A coordenadora científica da Nasa, Gale Allen, vai além e acredita que o planeta possa abrigar a primeira colônia fora da Terra na segunda metade do século XXI. Para tanto, o reconhecimento de campo feito pelo Curiosity será fundamental.

Os pesquisadores que sonham com a chegada do homem a Marte também estarão atentos ao sistema de pouso desenvolvido para o jipe. Não foi possível adaptar as técnicas utilizadas em missões anteriores para fazer com que o MSL toque o solo marciano em segurança. “O jipe é pesado demais, e uma missão tripulada teria ainda mais massa”, diz Matt Wallace, engenheiro do Jet Propulsion Laboratory, o laboratório de robôs da Nasa, na Califórnia. Wallace foi o responsável pelo novo sistema de pouso, que contornou o problema. “Desenvolvemos uma espécie de guindaste voador que vai colocar o jipe no solo com uma precisão nunca antes alcançada.”

Tudo correndo bem, o Curiosity pousará precisamente na cratera Gale. Trata-se de uma região próxima ao equador marciano, com 154 quilômetros de diâmetro e canais que podem ter sido preenchidos por água no passado. No meio da cratera há uma montanha de 5,5 quilômetros de altura, com rochas expostas que podem “contar” a história do planeta. Assim como os geólogos podem descrever o passado da Terra ao analisar as camadas de rocha, os cientistas da Nasa esperam conseguir o mesmo em Marte.

Longa vida – A construção do Curiosity levou sete anos e passou por alguns percalços. O projeto custou 700 milhões de dólares a mais do que havia sido previsto e quase foi cancelado por problemas com os motores das rodas. Concluído o projeto, a expectativa é grande. O jipe funcionará dia e noite e não dependerá do Sol. Em vez de painéis solares, como os jipes Opportunity, Spirit e Pathfinder, o MSL tem um reator termonuclear que gera eletricidade a partir de material radioativo. “A duração oficial da missão é de dois anos, mas é possível que passe de 10”, diz Michael Meyer, cientista da Nasa responsável pelo programa de missões a Marte e cientista-chefe do MSL.

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O histórico da Nasa é favorável em missões no planeta vermelho. O jipe Opportunity, por exemplo, foi projetado para uma missão de 90 dias e já está há sete anos enviando informações para a Terra. E o Curiosity leva a vantagem de poder percorrer distâncias maiores e locais mais acidentados que os jipes anteriores, graças a motores mais potentes e rodas maiores.

A procura pela água – Para explicar a importância do Curiosity, é preciso voltar 36 anos na história da exploração espacial. Em 1975, a Nasa deu início à missão Viking, a mais cara já lançada ao planeta vermelho: 4,1 bilhões de dólares, em valores atualizados, uma vez e meia os 2,5 bilhões gastos no MSL. Apoiados por dois satélites, dois laboratórios foram fixados em regiões distintas de Marte para registrar as primeiras imagens e tentar verificar se existia vida no planeta vermelho.

A missão Viking provou que era possível pousar na superfície de Marte com segurança, realizar experimentos e enviar as informações com sucesso à Terra, o que nenhuma missão anterior havia conseguido. Mas não achou pista nenhuma de vida. “Quando se percebeu que a missão havia fracassado em encontrar vida, perdeu-se um pouco do interesse em Marte”, diz Ramon de Paula, executivo brasileiro que trabalha há 20 anos na Nasa e representou o MSL entre 2008 e 2010 no quartel-general da agência, em Washington.

De qualquer forma, a missão mostrou que Marte, hoje aparentemente estéril, já foi um lugar muito diferente bilhões de anos atrás. “Ele era bem mais quente e tudo indica que havia água líquida na superfície”, afirma de Paula. “Era muito parecido com a Terra de hoje.”

Sinais mais contundentes da presença de água em Marte chegaram 20 anos depois do lançamento da Viking, quando uma série de satélites foi lançada para analisar a atmosfera e tirar fotos do relevo marciano. “Vimos que Marte tinha características geológicas que só poderiam ter sido formadas na presença de água, como no Grand Canyon ou no parque Yellowstone, nos Estados Unidos”, afirma de Paula.

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A partir de 1997, três jipes tocaram o solo do planeta para investigar de perto o terreno marciano: o Mars Pathfinder e os gêmeos Spirit e Opportunity, ambos da missão Mars Exploration Rovers. “Eram, contudo, missões de reconhecimento e não tinham instrumentos que pudessem investigar a fundo os mistérios do ambiente marciano”, diz Nilton Rennó, engenheiro brasileiro da Universidade de Michigan, nos EUA, um dos pesquisadores envolvidos no MSL. Apenas em 2008 o laboratório Phoenix, plantado na região polar marciana, descobriu uma gigantesca camada de gelo formado a partir de água, poucos centímetros abaixo da superfície de Marte. Enfim a água, um dos ingredientes essenciais à formação de vida, havia sido descoberta em Marte.

“Não há mais dúvidas de que a água existe em Marte. Resta confirmar se ela existe na forma líquida”, diz Rennó. “Na Terra, onde há água normalmente encontramos vida”, afirma Meyer. “E se Marte um dia teve condições necessárias à vida, é possível que ela tenha existido ou ainda exista no planeta”, diz. É esta hipótese que o Curiosity vai ajudar a testar.

Exploradores – A possibilidade de que Marte sustente vida é o que torna o planeta atraente para futuras missões tripuladas e até para a simulação de um ambiente favorável à subsistência de seres humanos. “Nos próximos 10 anos vamos procurar por ambientes habitáveis em Marte”, diz Meyer. Depois de identificados, os cientistas enviarão uma missão robótica que entre 2020 e 2030 vai trazer à Terra amostras do solo. “Os resultados vão ajudar a preparar melhor a visita de astronautas ao planeta depois de 2030.” Para Gale Allen, o Curiosity e o sonho de colonizar Marte representam valores que inspiram e emocionam o homem. “Hoje não existe valor comercial em ir a Marte”, diz. “Mas somos exploradores e curiosos. Queremos chegar lá.”

Infográfico Mars Science Laboratory ()
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