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Metas anunciadas por Dilma são insuficientes, dizem ambientalistas

Para eles, zerar o desmatamento ilegal deveria ser prioridade atual, já que se trata de fazer cumprir a lei; meta energética parece tímida frente ao potencial do país

Por Raquel Beer Atualizado em 9 Maio 2016, 14h45 - Publicado em 30 jun 2015, 18h21

Nesta terça-feira (30), em encontro com o presidente americano Barack Obama, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o Brasil pretende zerar o desmatamento ilegal e que 20% da matriz energética brasileira será renovável até 2030. No evento, o presidente americano revelou que os Estados Unidos também cumprirão essa mesma meta energética. O discurso, porém, é mais temperado por marketing do que por real eficiência.

Segundo a imprensa americana, o governo de Obama buscava estabelecer com o Brasil um acordo mais ambicioso, que também abrangesse cortes de emissões de carbono. Dilma, porém, se recusou a oferecer propostas dentro desse tópico, o mais crucial para garantir o real controle das mudanças climáticas que afetam o planeta.

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Em novembro do ano passado, pouco antes da realização da Cúpula do Clima em Lima, o presidente americano fechou acordo similar com a China. O gigante asiático, porém, foi mais ambicioso: se comprometeu a tornar 20% de sua fonte energética renovável até 2030, o que é um feito muito maior para a China do que para o Brasil, já acostumado a operar com essas matrizes. Já os americanos sinalizaram para uma redução de emissões de 26% a 28% até 2025, em relação aos valores de 2005.

Os acordos entre os países visam prepará-los para a Cúpula do Clima de Paris, que acontecerá em dezembro. No evento, deve ser assinado o documento que substituirá o Protocolo de Quioto e que, portanto, regulará as emissões de gás carbônico no planeta. Ao que tudo indica, o Brasil não deve se comprometer com cortes de CO2.

Energia – Há, porém, boas notícias. Se cumprida, a meta do governo de fazer com que a matriz energética brasileira passe para 20% até 2030, sem contabilizar a parcela gerada por hidrelétricas, foi vista com bons olhos por ambientalistas. Hoje, cerca de 10% do quadro energético brasileiro tem fonte renovável. Com o compromisso do governo, portanto, o potencial atual seria dobrado.

“É um avanço positivo, claro, mas segundo os nossos cálculos, com desentraves, incentivo público e financiamento diferenciado de bancos privados, poderíamos chegar a 33%. Contas do próprio governo mostram que só com a energia solar gerada por painéis acoplados a telhados conseguiríamos atender duas vezes a demanda doméstica”, disse o mineiro André Nahur, porta-voz do WWF. Ou seja, a meta proposta por Dilma não é das piores. Mas está longe de ser tão ousada quanto ela diz ser.

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Desmatamento – O objetivo de zerar o desmatamento ilegal até o fim da década vem a calhar. No país, cerca de 35% das emissões vêm dessa atividade. No ano passado, só na Amazônia, o desmatamento foi de 4 848 quilômetros quadrados, uma baixa de 17,7% em relação ao ano passado. Mas ainda representa uma área maior que a da cidade de Cuiabá. No cerrado, a situação é surpreendentemente mais preocupante, com a taxa de desmatamento chegando a 7 000 quilômetros quadrados a cada ano.

Em setembro do ano passado, 31 países e a União Europeia assinaram a Declaração das Florestas de Nova York, que estabelecida cortar pela metade o desmate até 2020 e zerá-lo até 2030. O Brasil não foi um dos signatários, e os argumentos levantados pela presidente para justificar a decisão foi o fato de o país não ter sido convocado para participar da elaboração do documento (apesar de a ONU alegar que procurou os brasileiros, mas não obteve resposta), e a defesa do desmatamento legal. “A lei brasileira permite que façamos o manejo florestal. Muitas pessoas vivem do manejo florestal, que é o desmatamento legal sem danos ao meio ambiente”, disse Dilma na época.

Para o paraibano Beto Veríssimo, pesquisador sênior da ONG Imazon, que monitora o desmatamento na Amazônia, as metas anunciadas pela presidente foram positivas no sentido de mostrar que o governo está abordando o assunto, mas frustrantes e vexatórias em termos de grau de ambição. “Vamos demorar 15 anos para garantir que a lei seja cumprida e que o desmatamento ilegal acabe? Isso deveria ser prioridade de hoje. Segundo nossos estudos, o país deveria se comprometer com por um fim no desmatamento, seja ele legal ou ilegal, até 2020”, disse.

Nesse ponto, a questão pode se tornar até deveras jocosa. Nos Estados Unidos, o governo federal promete encerrar com uma atividade ilegal que nem deveria existir. Ao menos se houvesse a fiscalização devida que – aqui está a piada – deveria ser realizada pelo proprio governo.

Veríssimo ainda ressalta que outros biomas brasileiros, como a caatinga e a Mata Atlântica, cuja proteção não chama tanto a atenção da comunidade internacional, não são monitorados da mesma forma que a simbólica floresta amazônica. “Áreas como o cerrado, de menor apelo midiático, estão sendo devastadas para virar plantação de soja”, defende o pesquisador.

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