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Grã-Bretanha estuda autorizar fertilização de embrião com DNA de três pessoas

Nova técnica usa o DNA mitocondrial de uma terceira pessoa para evitar a transmissão de doenças genéticas

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h19 - Publicado em 28 jun 2013, 18h46

O governo britânico anunciou que discute a autorização de uma nova técnica de fertilização que usa o material genético de três pessoas para gerar uma criança, evitando a transmissão de doenças hereditárias incuráveis. O Ministério da Saúde do país redigirá as normas relacionadas ao procedimento e as submeterá a uma consulta pública antes de apresentá-las ao Parlamento em 2014. Com isso, a Grã-Bretanha pode se tornar o primeiro país em todo o mundo a aprovar o método.

O novo procedimento de fertilização foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Newcastle para evitar que mães transmitam aos seus filhos doenças genéticas presentes no DNA de suas mitocôndrias – as organelas responsáveis por produzir energia dentro das células. Segundo os cientistas, uma em cada 200 crianças nasce com alguma mutação em seu DNA mitocondrial. Na grande maioria dos casos, as disfunções são muito leves ou mesmo assintomáticas. No entanto, uma em cada 6.500 crianças desenvolve doenças severas, como cegueira, fraqueza muscular, falência do coração e do fígado e diabetes, que podem até matar.

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MITOCÔNDRIAS

As mitocôndrias são estruturas responsáveis por fornecer energia, a partir da quebra de nutrientes, para as células. Esse processo é conhecido como respiração celular. O número de mitocôndrias por célula varia muito, de milhares a poucas. A quantidade depende da função da célula. Células musculares, que necessitam de muita energia para funcionar, têm mais mitocôndrias que células nervosas, por exemplo.

O DNA mitocondrial só é transmitido da mãe para o filho – sem nenhuma intervenção do genoma paterno. Assim, uma mulher que possui alguma mutação nesses genes vai transmiti-la às gerações seguintes. A nova técnica pretende, justamente, livrar a criança dessa herança genética. “Os cientistas têm desenvolvido procedimentos inovadores que podem deter a transmissão destas doenças, o que dá esperanças a muitas famílias que buscam prevenir que seus futuros filhos as herdem”, declarou Sally Davies, assessora médica do governo britânico.

O procedimento desenvolvido pelos pesquisadores utiliza um óvulo fertilizado pelo casal que deseja ter o filho e o óvulo de uma doadora. Os pesquisadores retiram o DNA presente no núcleo do óvulo fecundado – que carrega os genes de ambos os pais – e o coloca no núcleo do óvulo doado. Desse modo, eles deixam para trás a mitocôndria materna doente e se apropriam de uma saudável, presente na nova célula. Se a transferência for bem-sucedida, o novo embrião é colocado na barriga da mãe e a criança se desenvolve normalmente. No núcleo de suas células, ela deverá carregar os genes de seu pai e sua mãe. Em suas mitocôndrias, no entanto, estará o DNA da doadora.

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Troca de bateria – A autorização do procedimento, atualmente proibido por lei, será um avanço radical na área da pesquisa genética, pois permitirá alterar os genes de uma criança e transmiti-los para as gerações seguintes, indefinidamente. A técnica tem recebido críticas por permitir que os bebês nascidos por meio dela compartilhem os genes de três pessoas, algo completamente inédito.

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Os pesquisadores dizem, no entanto, que o DNA mitocondrial representa apenas uma pequena parcela de todo o genoma, fazendo com que apenas 0,1% dos genes da criança venham da doadora. Além disso, as crianças teriam as características físicas dos pais, pois essas informações estão codificadas no DNA do núcleo da célula. Os cientistas comparam o procedimento à troca da bateria de um laptop, no qual a peça responsável por produzir energia é alterada, mas o resto da máquina continua a mesma.

A técnica já foi testada em animais, mas ainda é inédita em seres humanos. Caso seja autorizada, o governo prevê que apenas de cinco a dez bebês sejam gerados por ano por meio do procedimento na Inglaterra. “É correto que busquemos adotar este tratamento que pode salvar vidas o mais rápido possível. O que vamos fazer agora é começar a desenvolver a regulamentação, a fazer consultas sobre ela, para depois levá-la ao Parlamento”, diz Sally Davies.

Opinião da especialista

Lygia da Veiga Pereira

Professora Titular e Chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) da Universidade de São Paulo.

“É algo inovador, sem dúvida. Apesar de fazer muita manipulação de gameta com as técnicas de fertilização in vitro, a gente nunca mexeu no núcleo da célula. Por outro lado, isso não é clonagem, porque só envolve núcleos de gameta, não células adultas. É como se fosse um transplante de mitocôndrias.

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“Já foram feitos muitos estudos mostrando que é um procedimento seguro, mas é impossível ter certeza que todo embrião será viável.

“O DNA é 99,9% da mãe, só o mitocondrial é da doadora saudável. Do ponto de vista ético não vejo problema, se estão todos bem informados e de acordo. E ainda livra a criança de uma possível doença que está na família da mãe.”

(Com Agência France-Presse)

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