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Fóssil siberiano é de primo de neandertal e ancestral de habitantes da Nova Guiné, revela DNA

Os genomas de habitantes da Nova Guiné contêm 4,8% do DNA do fóssil encontrado na Sibéria

Por The New York Times
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h11 - Publicado em 24 dez 2010, 14h54

Os neandertais espalharam-se pelo oeste, estabelecendo-se no Oriente Médio e na Europa. Os denisovanos foram para o leste. Cerca de 50 mil anos atrás, se miscigenaram com humanos que se expandiam da África pela costa do sul da Ásia, legando algum DNA a eles.

Uma equipe internacional de cientistas identificou um grupo até então obscuro de seres humanos conhecidos por denisovanos como primos de neandertais que viveram na Ásia, entre 400 mil e 50 mil anos atrás e se miscigenaram com ancestrais dos atuais habitantes da Nova Guiné.

Tudo o que os denisovanos deixaram para trás foi um osso quebrado de dedo e um dente do siso, em uma caverna na Sibéria. Mas os cientistas conseguiram extrair todo o genoma dos denisovanos desses escassos restos mortais. Uma análise do antigo DNA, publicada na quarta-feira na revista Nature, revela que os genomas de habitantes da Nova Guiné contêm 4,8% do DNA denisovano.

Uma incompleta análise prévia do DNA denisovano colocou o grupo distante tanto de neandertais quanto de seres humanos. Com base nas novas descobertas, os cientistas propõem que os ancestrais de neandertais e denisovanos surgiram na África meio milhão de anos atrás. Os neandertais espalharam-se pelo oeste, estabelecendo-se no Oriente Médio e na Europa. Os denisovanos foram para o leste. Cerca de 50 mil anos atrás, se miscigenaram com humanos que se expandiam da África pela costa do sul da Ásia, legando algum DNA a eles.

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“É uma descoberta excitante”, disse Carlos Bustamante, geneticista da Universidade Stanford que não está envolvido na pesquisa.

Ancestral comum – A pesquisa foi conduzida por Svante Paabo, geneticista do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária em Leipzig, na Alemanha. Paabo e seus colegas são pioneiros em métodos para resgatar fragmentos de DNA de fósseis antigos e costurá-los juntos. Em maio, por exemplo, publicaram o genoma completo do neandertal.

Os atarracados neandertais deixaram um registro fóssil que se estende de 240 mil a 30 mil anos atrás na Europa, Oriente Médio e Rússia. Analisando o genoma do neandertal, Paabo e seus colegas concluíram que os humanos e neandertais descendem de um ancestral comum que viveu há 600 mil anos.

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Mas os cientistas também descobriram que 2,5% do genoma do neandertal é mais similar ao DNA de europeus e asiáticos vivos do que de africanos. A partir dessa constatação, concluíram que os neandertais cruzaram com seres humanos depois que saíram da África, cerca de 50 mil anos atrás.

Hominídeos – O sucesso de Paabo com fósseis europeus de neandertais o inspiraram a olhar adiante. Ele e sua equipe começaram a trabalhar com Anatoli Derevianko, da Academia de Ciências da Rússia, que explora cavernas na Sibéria em busca de fósseis de hominídeos (espécies mais estreitamente relacionadas com seres humanos do que com chimpanzés, nossos parentes mais próximos).

No ano passado, Derevianko e seus colegas enviaram a Paabo um fragmento de osso de dedo de uma caverna chamada Denisova. Derevianko pensou que o fóssil, de pelo menos 50 mil anos, poderia ter pertencido aos primeiros seres humanos que viveram na Sibéria.

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Paabo e seus colegas isolaram um pequeno pacote de DNA do mitocôndria do osso, as estruturas que geram energia dentro de nossas células. Paabo e seus colegas ficaram surpresos ao descobrir que o DNA de Denisova era marcadamente diferente do de humanos ou de neandertais. “Foi um grande choque para nós que fosse distinto daqueles grupos”, disse Paabo.

Paabo e sua equipe imediatamente começaram a coletar todo o DNA do osso de Denisova. Com o genoma sequenciado, enviaram os dados para pesquisadores da Harvard Medical School e do Instituto Broad, em Cambridge, Massachusetts, para compará-los com o de outras espécies.

Os cientistas de Massachusetts concluíram que o osso do dedo pertencia a um ramo de hominídeos que se separou de seus ancestrais neandertais cerca de 40 mil anos atrás. Paabo e seus colegas têm chamado essa linhagem de denisovanos.

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Em seguida, os pesquisadores procuraram evidências de miscigenação. Nick Patterson, geneticista do Instituto Broad, comparou o genoma denisovano com o genoma completo de cinco pessoas, da África do Sul, Nigéria, China, França e Papua-Nova Guiné. Para seu espanto, uma fatia considerável do genoma denisovano era parecido com o DNA da Nova Guiné.

“A reação correta quando se obtém um resultado surpreendente é ‘o que fiz de errado?'”, disse Patterson. Para ver se o resultado era um erro, ele e seus colegas sequenciaram o genoma de outras sete pessoas, incluindo outro indivíduo de Nova Guiné e um da vizinha ilha de Bougainville. Mas mesmo na nova análise, o DNA denisovano apareceu nos genomas da Nova Guiné e Bougainville.

Retrato falado – Se os denisovanos efetivamente se espalharam largamente da Sibéria ao sul da Ásia, deve ter sido uma espécie muito bem sucedida de hominídeos. Apesar de ter todo o genoma de um denisovano, Paabo não pode dizer muito sobre como eles eram. “Ao sequenciar meu genoma completo, você pode prever muito pouco sobre como me pareço ou como me comporto”, disse ele.

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Um indício sólido de com quem os denisovanos se pareciam surgiu em janeiro. Paabo e sua equipe tinham voado para Novosibirsk para dividir os resultados iniciais com Derevianko, que os presenteou com um dente do siso de Denisova.

Bence Viola, paleontólogo do Departamento de Evolução Humana do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, que estava na reunião, ficou confuso. “Olhei para aquilo e disse: ‘ah, ok, isso não é de ser humano moderno, e definitivamente não é de um neandertal'”, disse Viola. “Isso ficou muito claro.”

De volta à Alemanha, Paabo e seus colegas conseguiram extrair algum DNA mitocondrial do dente. Ele batia perfeitamente com o osso do dedo de Denisova. Essa identidade oferece alguma esperança de que, caso os pesquisadores encontrem o mesmo tipo de dente em um crânio fossilizado, ou em um esqueleto completo, serão capazes de ver com o que esses fantasmagóricos primos e ancestrais eram parecidos na vida real.

Bustamante também acredita que outros casos de miscigenação ainda estão por ser descobertos. “Há muitas possibilidades. Mas a única maneira de obtê-las é sequenciar mais desses genomas antigos.”

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