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Exoesqueleto: confira algumas dúvidas que ficaram no ar após a demonstração

Será que o exoesqueleto foi realmente comandado pelo cérebro? A televisão cortou partes da apresentação? Conheça mais sobre a demonstração do projeto Andar de Novo, que consumiu 33 milhões de reais dos cofres públicos e sumiu na cerimônia de abertura da Copa

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2016, 14h46 - Publicado em 14 jun 2014, 08h54

https://youtube.com/watch?v=TbVz8xZCVuk

A cerimônia de abertura da Copa do Mundo não fez bem à reputação do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. Desde 2011, quando lançou o projeto Andar de Novo, Nicolelis prometia que a exibição do seu exoesqueleto comandado pelo cérebro seria tão grandiosa quanto a chegada do homem à Lua. Não foi o que aconteceu. A apresentação durou 3 segundos e ninguém entendeu nada. Nicolelis culpou a Fifa em entrevista ao Jornal Nacional e usou o Twitter para rebater as dúvidas e críticas, de forma hostil.

A promessa era que um adolescente paraplégico, usando uma veste robótica que seria comandada pelo cérebro, iria se levantar da sua cadeira de rodas, caminhar até o centro do gramado e, sozinho, dar o pontapé inicial do campeonato. O que se viu na televisão foi um rapaz, vestido com as cores da bandeira do Brasil, usando uma grande armadura robótica e apoiado por duas pessoas na lateral do campo. Ali, ele recebeu uma bola arremessada por uma pessoa e tocou-a levemente com a perna direita. O ato, exibido de relance antes do espetáculo musical que apresentou a faixa-título da Copa do Mundo, mostrou o resultado do trabalho de Miguel Nicolelis – uma das grandes apostas de 2014, de acordo com a revista Nature.

Na época, o cientista, que desde 1994 dirige um laboratório de neuroengenharia na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, garantiu que o pontapé inicial do jogo de abertura da Copa seria dado por um adolescente tetraplégico usando um exoesqueleto, uma veste robótica controlada pelo cérebro. Para tornar isso uma realidade, Nicolelis liderou uma equipe de 156 cientistas de 25 nacionalidades e recebeu 33 milhões de reais não reembolsáveis do governo brasileiro, por meio da Finep – Inovação e Pequisa, empresa pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

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Em janeiro, a promessa foi renovada e divulgada em entrevista de vídeo dada por Nicolelis e publicada no site do governo federal sobre a Copa do Mundo. Só que não seria mais um tetraplégico e, sim, um paraplégico, o responsável pelo show. “A ideia é que se possa demonstrar a habilidade de um paciente com uma lesão medular severa, que faz com que ele seja paraplégico, que ele pode se levantar de uma cadeira de rodas usando a atividade cerebral para controlar o exoesqueleto, caminhar até o centro do campo, recebendo todo o feedback tátil desses passos e, finalmente, chutar a bola para inaugurar a Copa do Mundo”, disse o cientista na entrevista.

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Divulgação no Facebook – Todas as informações sobre o projeto foram divulgadas pela página de Nicolelis no Facebook e pelo site do governo. Vídeos mostravam os testes, que teriam sido feito com oito jovens entre 20 anos e 40 anos que estariam usando a estrutura, que seria feita de metal leve e leria os sinais elétricos emitidos pelo cérebro. Por meio de um sistema chamado interface cérebro-máquina (ICM), esses sinais seriam captados por uma touca repleta de eletrodos de eletroencefalograma (EEG) e enviados a um computador em uma mochila, nas costas do robô. Ali, eles seriam traduzidos e transformados em comandos de movimento. Giroscópios acoplados às costas do robô garantiriam o equilíbrio do exoesqueleto.

Uma das novidades anunciadas pelos cientistas que projetaram a estrutura é que ela faria os jovens sentirem a sensação de contato com o solo, como se ele fosse percebido pelos pés. Sensores acoplados aos pés do robô enganariam a mente, passando a informação da proximidade do chão como se ela viesse do corpo. Com isso, a ideia da equipe responsável pelo projeto é que o exoesqueleto fosse compreendido pelo cérebro e controlado como mais um membro do organismo.

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A descrição do projeto, dos testes e do que seriam essas novas tecnologias não foi publicada em revistas científicas, submetidos à revisão crítica. Nicolelis tem trabalhos publicados sobre interface cérebro-máquina em animais, mas ainda nenhum em humanos. Nos últimos meses, o cientista tem recusado pedidos de entrevista da imprensa brasileira e estrangeira e preferiu responder às críticas pelo Twitter.

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questionaram a relevância da demonstração do exoesqueleto para a ciência

“Nicolelis preferiu uma abordagem secreta. Para a ciência, esse tipo de atitude é garantia de fracasso, como se viu na demonstração”, diz o neurocientista americano Edward Tehovnik, pesquisador visitante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pós-doutorado pelo MIT. “Trabalho científico é feito por pesquisadores que publicam seus trabalhos, recebem críticas de seus pares e, assim, melhoram suas descobertas. Sem isso, não há ciência. Não há como saber se o que Nicolelis mostrou na Copa é, realmente, um avanço científico.”

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Tehovnik, que pesquisa interfaces cérebro-máquina (ICM), o mesmo campo de estudos de Nicolelis, também questiona o uso de eletrodos cerebrais para movimentar exoesqueletos. “Sensores de EEG, como os que teriam sido usados na demonstração, têm o inconveniente de captar outros sinais elétricos, além dos cerebrais. Ele capta também sinais enviados pelos músculos – e quem garante que o exoesqueleto não poderia ser movimentado por um sinal elétrico vindo de outra parte do corpo?”

Para Alberto Cliquet Júnior, professor titular do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unicamp e de Engenharia Elétrica na Universidade de São Paulo (USP), as dúvidas científicas sobre a validade do uso de sinais cerebrais para o controle de exoesqueletos são grandes e a demonstração ajudou pouco nesse sentido. “A impressão que tivemos é que ele não funcionou. Além disso, um exoesqueleto, para realmente ajudar alguém com lesão medular deve ser simples, prático e funcional. O que vimos pela televisão não vai ajudar paciente algum a andar de novo”, diz o professor.

Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, os cientistas do Andar de Novo afirmam que “a parte científica desta fase do projeto foi concluída em 28 de maio de 2014, com todos objetivos científicos, tecnológicos e clínicos alcançados. Durante o período de três meses, em um laboratório localizado na cidade de São Paulo, oito pacientes conseguiram caminhar usando somente sua atividade cerebral para comandar o exoesqueleto. Os resultados serão publicados em revistas científicas nos próximos meses. Esta conquista completa um trabalho de 30 anos de pesquisas na área de neurociência e uma década e meia de pesquisa com interfaces cérebro-máquina.”

Confira abaixo as principais dúvidas relacionadas à demonstração do exoesqueleto:

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