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Estudo mostra que crianças aprendem a linguagem por meio da gramática, não pela repetição

Pesquisador americano comparou a forma que crianças americanas aprendem a falar com a aquisição de linguagem de sinais pelos primatas

Por Juliana Santos
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h21 - Publicado em 2 abr 2013, 20h28

Um estudo realizado por Charles Yang, professor da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, sugere uma nova explicação para como as crianças aprendem a se comunicar. A hipótese comumente aceita pelos pesquisadores é a de que as crianças aprendem uma língua por imitação e memorização daquilo que ouvem e não são capazes de combinar palavras livremente. Mas, para Yang, essa não é a explicação correta. De acordo com o pesquisador, seu estudo mostra que o linguista americano Noam Chomsky está correto no que diz há muitos anos: a linguagem é um instinto humano.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Ontogeny and phylogeny of language

Onde foi divulgada: periódico Proceedings of the National Academy of Sciences

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Quem fez: Charles Yang

Instituição: Universidade da Pensilvânia, EUA

Resultado: O autor concluiu que as crianças aprendem a linguagem por meio do estabelecimento de regras gerais, ou seja, pelo uso da gramática, e não apenas a memorização de conjuntos de palavras.

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Na pesquisa, publicada nesta segunda-feira, no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, Yang propõe que o aprendizado das crianças se dá primeiramente por regras gerais, ou seja, gramática, e não através da memorização de séries de palavras. Isso significa que elas seguem um modelo lógico para juntar palavras quase idêntico àquele usado por adultos falantes do mesmo idioma.

“Já se sabe que a linguagem das crianças é mais complexa do que seu discurso revela. Por exemplo, elas entendem a linguagem melhor do que conseguem falar. E há histórias de pessoas famosas, como Einstein, por exemplo, que demoraram para falar, mas assim que começaram tinham a gramática perfeita – elas apenas não gostavam de falar!”, explicou Yang ao site de VEJA.

Para chegar a esta conclusão, Yang analisou frases formadas por um artigo e um substantivo na língua inglesa. Ele observou que a frequência que as crianças combinam artigos definidos ou indefinidos (no caso do inglês, “a” ou “the”) com cada substantivo era quase idêntica a dos adultos. De acordo com o autor, mesmo nos estágios mais iniciais do aprendizado da linguagem, as crianças raramente cometem erros no uso dessas estruturas. “Combinações agramaticais, como “the a dog” (“o um cachorro”) e “cat the” (“gato o”) são praticamente inexistentes”, escreve Yang no artigo.

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O autor utilizou no estudo nove amostras de discurso de crianças que estavam aprendendo a formar frases em inglês americano, assim como amostras presentes no corpus de Brown. Em linguística, um corpus é um conjunto de dados coletados com intuito de servirem para pesquisa de uma língua. O corpus de Brown, com um milhão de palavras em inglês americano, foi compilado pelos linguistas W.N. Francis e H. Kucera, da Universidade de Brown, com base em textos publicados em 1961 nos Estados Unidos. Ele é considerado um dos primeiros corpora eletrônicos existentes.

Primatas – Yang comparou esses dados com o registro do desenvolvimento da linguagem do chimpanzé Nim Chimpsky, que aprendeu a Língua de Sinais Americana (American Sign Language, ASL) para a realização de um estudo sobre aquisição de linguagem na década de 70. Nim foi separado de sua mãe com dias de vida e passou a ser criado como um ser humano, em uma família americana. O objetivo do estudo, conduzido por Herb Terrace, professor de psicologia da Universidade de Columbia, era descobrir se o animal, devido à sua criação, poderia aprender a utilizar a linguagem para se comunicar.

Quando o estudo foi encerrado, quatro anos depois, Nim sabia 125 palavras em língua de sinais, e seus professores acreditavam que ele era capaz de juntar palavras e se comunicar. Porém, ao analisar os dados coletados, Terrace concluiu que o chimpanzé havia apenas aprendido a imitar os gestos dos pesquisadores a fim de conseguir as coisas que desejava.

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Yang afirma que seus resultados confirmam a conclusão de que Nim aprendeu apenas a fazer imitações de sinais, e não a utilizar a gramática, característica principal da linguagem humana.

O autor não descarta o papel da memória na aquisição da linguagem, dando como exemplo o fato de que é preciso memorizar palavras para se expressar por meio da fala, mas “os resultados mostram que a memória não substitui o poder combinatório da gramática, mesmo nos estágios iniciais do aprendizado da linguagem”, escreve Yang. Para o pesquisador, esses resultados podem ajudam a avaliar o desenvolvimento da linguagem em crianças.

Saiba mais

PROJETO NIM

O chimpanzé Nim Chimpsky (uma troça com o nome do linguista Noam Chomsky, que afirmou que somente humanos têm a capacidade inata de aprender uma linguagem e criar sentenças completas), nascido em 1973, tinha poucos dias de vida quando foi separado de sua mãe, Carolyn, para viver com Stephanie LaFarge, que seria sua “mãe-humana-adotiva”. Nim era parte de um projeto científico de Herb Terrace, professor de psicologia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Como parte da pesquisa, Nim foi criado como um ser humano e contou com diversos professores para ensinar a ele a Língua de Sinais Americana (ASL). O objetivo era estudar sua capacidade de adquirir linguagem e se comunicar.

Nim Chimpsky ()
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Porém o estudo, que ficou conhecido como Projeto Nim, teve um desfecho desanimador. Terrence decidiu acabar com o experimento cerca de quatro anos depois de seu início, quando Nim começou a apresentar comportamentos agressivos e atacou uma de suas professoras. Ao término do estudo, Nim havia aprendido 125 palavras em língua de sinais e os pesquisadores acreditavam em sua capacidade de formar frases e se comunicar. Mandado de volta para um abrigo, Nim enfrentou alguns problemas de adaptação: além de ter sido criado como humano, usando roupas e dormindo em uma cama, ele nunca havia entrado em contato com outro chimpanzé.

Terrace, analisando os dados e as gravações do estudo, concluiu mais tarde que Nim não havia de fato aprendido a se comunicar, mas apenas a imitar seus professores e utilizar os gestos necessários para conseguir o que queria. Apesar dos resultados negativos, o estudo foi significativo na década de 70, momento em que os cientistas acreditavam que a maneira com a qual um ser era criado poderia se sobrepor à sua natureza.

Nim morreu por causa de um ataque cardíaco no ano 2000, aos 26 anos, cerca de metade da idade média de chimpanzés em cativeiro. Em 2011, foi lançado o documentário Projeto Nim (Project Nim), dirigido por James Marsh. O longa é baseado no livro Nim Chimpsky: The Chimp Who Would Be Human, de Elizabeth Hess (Bantam Books, 2008, 384 páginas).

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