Esponja namíbia altera data da aparição da vida animal na Terra
Fósseis desses poríferos com 760 milhões de anos de idade derrubam a teoria dominante, de que a vida animal apareceu apenas 100 milhões de anos depois, após uma longa era glacial
A descoberta dos mais antigos fósseis de esponjas, animais quase sempre marinhos que se alimentam filtrando a água, em um parque na Namíbia, revelou que a vida animal surgiu na Terra muito antes do que a maioria das pesquisas indicava. O achado confirmou o que estudos baseados na datação molecular já indicavam: os animais surgiram há mais de 700 milhões de anos, no período Pré-Cambriano. Os fósseis são minúsculos, com um centímetro ou menos de comprimento, mas podem ter sido um dos mais importantes passos na evolução da vida no nosso planeta.
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DATAÇÃO MOLECULAR
O relógio molecular calcula o tempo que separa as espécies por meio das diferenças nas moléculas de suas sequências de DNA ou proteínas. Quanto mais parecidas geneticamente, menor o tempo de separação de duas espécies. Segundo a teoria, as moléculas evoluem em uma taxa constante. O ponto mais difícil dessa técnica é fazer a conversão da diferença entre as moléculas para períodos menores, medidos em poucos anos.
Os fósseis, encontrados em sua maioria no Parque Nacional de Etosha, norte da Namíbia, estão em rochas de até 760 milhões de anos. Os mais antigos descobertos até então têm, no máximo, 650 milhões de anos.
As esponjas, pertencentes ao filo porífera, estão estre os tipos menos complexos de animais. Sem órgãos internos, músculos ou sistema nervoso, elas se valem de seus poros para filtrar a água e reter partículas que podem alimentar suas células. Mas isso basta para que elas sejam consideradas animais segundo o biólogo evolutivo Antonio Carlos Marques, professor do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo). “Podemos conceituar animais como seres compostos de várias células que, ao contrário das plantas, são incapazes de produzir seu próprio alimento. Seu alimento é externo”, explica.
Tony Prave, um dos autores do estudo, afirma que essas esponjas são nossos ancestrais animais mais distantes. “Se pegarmos a árvore genealógica e remontarmos até o que se chama grupo mãe, o ancestral de todos os animais, então, sim, esta seria nossa mãe comum”, afirma ele, que é professor na Universidade de St. Andrew, na Escócia.
Bola de Neve – A descoberta desses fósseis é coerente com estudos baseados no relógio molecular segundo o professor Antonio Carlos Marques. “O problema é que esses estudos batem de frente com a teoria da Terra Bola de Neve. Para os geofísicos, é praticamente impossível que a vida tenha se diversificado nessa época”, afirma ele.
A teoria da Bola de Neve defende que há mais de 650 milhões de anos o planeta passou por um longo período glacial em que toda a parte seca do planeta ficou congelada como hoje ocorre com as regiões polares. A temperatura dos oceanos também teria ficado muito fria, o que deve ter freado a marcha da evolução da vida. A teoria é baseada em achados arqueológicos que indicam a formação de geleiras pré-históricas na região dos trópicos, a mais quente do planeta.
Para Marques, a era da Bola de Neve pode ter existido – há estudos que questionam isso – mas pode ter ocorrido mais cedo. “A datação molecular é bem fundamentada. E esses fósseis indicam que a conclusão alcançada por essa datação é real”, conclui.
(Com informações da Agência AFP)