Emissões de dióxido de carbono param de subir pela primeira vez em 44 anos
Com crescimento econômico global de 3%, o ano de 2014 foi o primeiro em que as emissões de CO2 ficaram estáveis desde 1971, excetuando anos de crise financeira como 1980, 1992 e 2009
Um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) revelou na sexta-feira que as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) não cresceram em 2014. De acordo com a entidade, é a primeira vez em 44 anos que as taxas de emissões permaneceram estáveis sem uma recessão econômica mundial – descontados anos de crise econômica global, como 1980 e 2009.
Em 2014, foram emitidos 32,3 bilhões de toneladas de gás carbônico no planeta, exatamente a mesma quantidade registrada em 2013. A AIE atribui a estagnação aos esforços mundiais de mitigação de emissões, especialmente na China e em países como Estados Unidos e Canadá. Na Europa Ocidental, houve mudanças nos padrões de consumo de energia, destacou a AIE.
“Isso me dá ainda mais esperança de que a humanidade será capaz de trabalhar unida para combater as mudanças climáticas, que são a mais importante ameaça que enfrentamos atualmente”, disse o economista-chefe da AIE, Fatih Birol, recentemente indicado para ser o próximo diretor executivo da agência com sede em Paris.
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Em 2014, segundo a AIE, a China aumentou consideravelmente a geração de eletricidade a partir de fontes renováveis, como a energia hidrelétrica, solar e eólica, diminuindo a queima de carvão.
Em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), foram feitos esforços recentes para promover o crescimento sustentável, como o aprimoramento da eficiência energética e investimentos em fontes de energia renovável.
Nos últimos cinco anos, nações que integram a OCDE registraram crescimento econômico de cerca de 7%, enquanto suas emissões diminuíram 4%, de acordo com a AIE. No mesmo período, a taxa de crescimento do consumo de energia na China caiu de 10% para 3% ao ano.
Histórico – A AIE começou a coletar dados sobre as emissões de dióxido de carbono em 1971. Desde então, as emissões anuais de gás carbônico só estagnaram ou caíram outras três vezes, sempre associadas a crises econômicas globais. A primeira foi em 1980, após o choque no preço do petróleo e a recessão americana; a segunda, em 1992, depois do colapso da União Soviética; e a terceira, em 2009, durante a crise financeira global. Em 2014, no entanto, a economia mundial cresceu 3%, segundo a AIE.
“A notícia fornece a oportunidade necessária para os negociadores que estão se preparando para traçar um acordo climático global em Paris, em dezembro: pela primeira vez, as emissões de gases de efeito estufa estão se dissociando do crescimento econômico”, disse Birol.
A atual diretora-executiva da AIE, Maria van der Hoeven, afirmou que os dados são “animadores”, mas acrescentou que “não há tempo para complacência e certamente não é hora de usar essas notícias positivas como uma desculpa para arrefecer futuras ações”.
A AIE dará mais detalhes sobre os dados em um relatório sobre energia e clima que será lançado em 15 de junho, em Londres.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou, em 2007, que as emissões globais de dióxido de carbono precisariam chegar ao pico até 2020, para que a temperatura do planeta não subisse mais de 2 graus, nível tido como limite para que os efeitos das mudanças climáticas não se tornem irreversíveis.
(com Estadão Conteúdo)