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Gleiser: partícula mais rápida que a luz é ‘muito improvável’

'Aposto dez dólares que em duas semanas eles vão descobrir o erro', diz o professor de física e astronomia do Darthmouth College, nos Estados Unidos

Por Marco Túlio Pires
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h59 - Publicado em 23 set 2011, 16h40

Conhecido por seus livros de divulgação científica, o físico Marcelo Gleiser, professor do Darthmouth College, nos Estados Unidos, recebeu com ceticismo o anúncio feito por cientistas do CERN de que neutrinos haviam superado a velocidade da luz, o que vai contra um dos pilares da física moderna. “Aposto dez dólares que em duas semanas eles vão descobrir o erro”, afirmou. Em entrevista ao site de VEJA, ele adiantou os possíveis problemas com o experimento (veja lista). Mas não descartou a possibilidade de a experiência estar de fato correta: “Grandes revolução já aconteceram com pequenas variações.”

Qual sua impressão imediata? Acho que vão encontrar um erro sistemático. É muito pouco provável que esse experimento detecte uma violação tão flagrante da Teoria da Relatividade Restrita (postulada por Albert Einstein). Eles estão dizendo que é muito simples – que basta dividir a distância pelo tempo -, mas não é assim. A maior imprecisão é no processo gerador dos neutrinos. Quando eles realmente aparecem? Ninguém sabe dizer ao certo. Estou apostando dez dólares que daqui a duas semanas vão descobrir o erro.

Pequenas variações,

grandes descobertas

A ciência também avança quando são descobertas pequenas variações em teorias já estabelecidas. Conheça algumas delas

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ÓRBITA DE MARTE

Kepler, em 1605 descobriu que a órbita de Marte era elíptica e não circular por causa de um erro de 8 minutos de grau no descrição da trajetória do planeta.

ÓRBITA DE MERCÚRIO

Existia uma anomalia de 1,5 grau por século na órbita de Mercúrio em torno do Sol que a física clássica não conseguia explicar. A Teoria da Relatividade de Einstein foi capaz de resolver o problema.

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Não está claro o processo de criação de um neutrino? Você precisa saber quando começa a corrida. Esse início ainda não é preciso. O processo de geração de neutrinos depende de probabilidades e o momento em que surgem não é conhecido.

Mas e se os cientistas do CERN estiverem certos? Significa que a velocidade da luz não é o limite máximo da velocidade da natureza e uma das consequências interessantes é quanto à causalidade. Um efeito precisa, necessariamente, ter uma causa anterior. Existe uma ordem natural das coisas: primeiro a causa, depois o efeito. Essa ordem depende da velocidade da luz. Como uma causa não pode ir mais rápida que a velocidade da luz, em principio você pode viajar para o passado se essa regra fosse violada. É interessante notar que, se o neutrino fizer isso, eles são como criaturas que vêm do futuro.

Como assim? A velocidade da luz tem a ver com a velocidade máxima que a informação pode atingir. Todas as informações viajam, no máximo, na velocidade da luz. Se tem algo mais rápido que isso, a informação chega antes dos processo que utilizamos para obter informação. Por exemplo: você me vê entrando numa sala. A luz bate em mim, você me detecta. Se eu tivesse emanando neutrinos e você pudesse percebê-los, você me veria antes de entrar na sala.

Se for confirmado, o que muda? No máximo vai ser aberto um subcapítulo para acomodar esse tipo de efeito. Continuo, no entanto, achando pouco provável. A diferença relativa entre as velocidades do neutrino e da luz é 10-5. Um décimo de milionésimo. Esse equipe de cientistas é muito cuidadosa, mas eles mesmos acham que tem alguma coisa que passou despercebida. Eles testaram todos os possíveis erros sistemáticos, porém talvez algo tenha escapado. É interessante isso estar acontecendo. É importante porque tem um efeito misterioso. Ciência adora mistério. Quanto mais crise melhor. É bom que surjam enigmas desse tipo. Grandes revoluções já aconteceram com pequenas variações.

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