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Da Vinci: o futurista do século XV

Mostra inaugurada em São Paulo dá vida aos desenhos de Leonardo da Vinci, que antecipam em muitos séculos diversas tecnologias essenciais ao mundo de hoje. Cientistas selecionam as principais obras da exposição e explicam seu significado para a ciência atual

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2016, 14h46 - Publicado em 16 nov 2014, 08h01

Em seus cadernos de desenhos, Leonardo da Vinci (1452-1519) anotou: “Nunca o homem inventará nada mais simples nem mais belo do que uma manifestação da natureza”. Ao observar morcegos, tartarugas ou sementes, o italiano buscava compreender o cosmos e transformar seus princípios em tecnologias que ajudariam o homem. Por meio dessa mecânica sofisticada, inventou os ancestrais do helicóptero, avião, metralhadora ou de teares automáticos, que só ganhariam vida séculos depois de sua morte. Usando os desenhos do engenheiro, arquiteto, matemático e artista, o Centro Cultural Fiesp, em São Paulo, inaugurou na última semana uma mostra que coloca em prática cerca de 40 dessas ideias que, na época, não passavam de ficção.

“Da Vinci pensava na realidade e agia com base nas leis da natureza. Era um futurista do século XV”, diz físico Vanderlei Salvador Bagnato, professor do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP).

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Da Vinci, o anatomista

Desenhos – Durante o Renascimento italiano, que floresceu entre os séculos XV e XVI, ainda não existia a ciência atual, baseada em formulação e investigação de hipóteses. A metodologia científica só seria desenvolvida nos séculos posteriores, com nomes como o francês Renée Descartes (1596-1650) e o inglês Isaac Newton (1643-1727). Da Vinci, no entanto, investigava a natureza de modo sistemático, criando mecanismos para provar seus conceitos, o que o tornou um precursor do método de criação e teste de teorias.

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Uma das ferramentas mais importantes para essa investigação eram seus desenhos – que estão espalhados por toda a exposição. Da Vinci usou a perspectiva, técnica de geometria aperfeiçoada no século XV, para criar projetos que eram feitos e refeitos até que alcançassem a perfeição.

“O desenho permite elaborar conceitos e ideias, testar proporções e fazer cálculos. Ele esboçava todas as peças antes de executá-las, colocava medidas e investigava as possibilidades. Observava a natureza com o ímpeto de investigar, algo que está na essência da ciência moderna”, afirma Ricardo Pisanelli, especialista em história e arquitetura e gerente do Catavento Cultural, museu do Estado de São Paulo dedicado à divulgação científica.

Mais que criar mecanismos que funcionassem na vida real, Leonardo da Vinci estava interessado em compreender a mecânica da natureza. Respeitando suas leis, ele criava engenhos que multiplicariam as capacidades humanas – fazendo-o voar, ter mais força, agilidade, velocidade ou produtividade.

“Ele tinha insights que foram precursores de tudo o que seria feito nos séculos futuros. Foi um dos primeiros a olhar para a natureza de forma racional”, diz Pisanelli. “Imaginou uma quantidade surpreendente de coisas, mesmo que não pudessem ser executadas, pois não tinha as ferramentas matemáticas e materiais que teriam que ser inventados para que funcionassem.”

“Cientista-artista” – As peças expostas vieram do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão, na Itália, e foram construídas de acordo com os desenhos do artista. Em 1952, os profissionais do museu interpretaram os esboços de Leonardo da Vinci e conceberam roupas de mergulho, teares, uma grua de 4 metros, aparatos de guerra ou de voo de acordo com suas indicações. Há dois anos, as obras viajaram até Paris para celebrar o centenário de nascimento de Da Vinci. No Brasil, elas ficarão até maio, na mostra gratuita.

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Divididas em seções que buscam abarcar as diversas áreas do conhecimento exploradas pelo italiano, as obras demonstram o talento de Da Vinci para unir os campos do saber em engenhos que se tornaram essenciais para o mundo de hoje.

“Ele não era o melhor em todas as áreas do conhecimento, mas tinha uma capacidade única para reuni-las e criar algo novo. Aperfeiçoava o trabalho de outros homens de sua época e pensava como resolver os problemas de seu mundo: guerras, manufatura, arquitetura, transportes”, diz o historiador italiano Claudio Giorgione, do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci e curador da mostra brasileira.

Para Da Vinci, antes de tudo, suas obras deveriam refletir a verdade. Manivelas, alavancas, roldanas e sistemas de força espelhavam a mecânica do cosmos, refletida em cada pequeno elemento da natureza e em tudo que fosse criado. A beleza dessa estrutura primordial estava embutida não só em seus engenhos, mas era também o princípio de sua arte, que retratava suas investigações científicas. Como um homem do Renascimento, em Da Vinci, os atos de pintar, fazer projetos ou construir catedrais eram, essencialmente, a mesma coisa: revelar as leis universais.

“A arte que pretender ser fiel à natureza e sua beleza tem que ser científica. Afinal, a grande diferença entre a arte da natureza e a ciência é a linguagem. Neste sentido, Da Vinci foi um grande cientista,” diz físico Vanderlei Salvador Bagnato, professor do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP).

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