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Como reduzir seus preconceitos enquanto dorme

Estudo publicado na revista 'Science' mostra que um treinamento feito durante o período desperto e completado no sono é capaz de reduzir preconceitos sexuais e raciais

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2016, 14h45 - Publicado em 29 Maio 2015, 10h46

Ainda não é possível aprender dormindo, uma ideia atraente sem base científica. Mas cientistas da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, mostraram que é possível, sim, reeducar moralmente um ser humano enquanto ele sonha. O estudo, publicado nesta quinta-feira na revista Science, mostra como 40 homens e mulheres “desaprenderam” dessa forma alguns de seus mais profundos preconceitos sexuais e raciais. Como ridículas crenças de que negros são pessoas más ou de que mulheres não combinam com ciências exatas.

“Nosso experimento é novo em muito sentidos. Normalmente, os efeitos de testes como o que fizemos são efêmeros mas, como usamos o reforço durante o sono, eles duraram até uma semana”, explica ao site de VEJA o psicólogo Ken Paller, um dos autores do estudo. “O sono é fundamental para a reativação das memórias.”

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Aprender dormindo – O objetivo dos pesquisadores era trabalhar com preconceitos que agem de maneira inconsciente nos atos do cotidiano. De acordo com estudos anteriores, a maior parte dos indivíduos tende a associar negros ao crime e mulheres à inaptidão para a ciência. Para testar se essas crenças poderiam ser desfeitas, os cientistas selecionaram 40 adultos da universidade e os submeteram a um treinamento. Em computador, observaram imagens femininas relacionadas a palavras como matemática ou ciência e, em seguida, imagens de pessoas negras ligadas a termos agradáveis (como raio de sol ou alegria). Durante o condicionamento, dois tipos de sons eram tocados, um para as figuras femininas, e outro para as negras.

Assim que terminaram o treinamento, os participantes tiraram uma soneca de 90 minutos (o tempo levado para que o ciclo com todas as fases de sono se complete) e, quando entraram no estágio de sono profundo, os sons associados aos pares eram tocados, sem que as pessoas despertassem. Para termos de comparação, eles também tiraram cochilos sem ouvir os sons.

Depois do treinamento e antes do cochilo, os preconceitos diminuíam. Mas, quando as pessoas dormiam sem escutar os sons, as crenças voltaram a aparecer com a mesma força.

Quando os sons foram tocados durante o sono, os preconceitos diminuíam até 56%, comparados ao nível antes da soneca. Uma semana após o treinamento eles ainda se mantinham 20% menores.

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De acordo com os pesquisadores, mais testes são necessários para mostrar a efetividade da redução dos preconceitos a longo prazo. Eles sugerem, entretanto, que o experimento pode ser adaptado para ajudar na mudança de maus-hábitos, como o fumo ou a compulsão alimentar. Ele pode ainda ser usado em tratamentos de stress pós-traumático.

Questões éticas – Um comentário que acompanha o artigo, escrito pelos psicólogos alemães Gordon B. Feld e Jan Born, sugere que o experimento marca a possibilidade de aplicações médicas para alterar permanentemente um comportamento indesejado pela ativação da memória durante o sono. No entanto, chamam a atenção para as implicações éticas do estudo, pois durante o sono a mente está aberta a qualquer tipo de sugestões. “O sono é um estado em que a consciência individual está suscetível e, portanto, vulnerável”, escrevem.

No livro Admirável Mundo Novo, do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), as crianças da ficção científica aprendem valores morais enquanto dormem, por meio de condicionamento. De acordo com os autores, a ciência está chegando perto da técnica empregada na distopia mas, por apresentar efeitos duráveis nas vidas humanas, ela deve ser usada com cuidado.

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