Ameaça de boicote ronda maior pesquisa sobre o cérebro
Em carta aberta à Comissão Europeia, cientistas protestam contra a má administração do projeto e argumentam que ele poderá ser um fracasso
O maior projeto do mundo para compreender o cérebro humano corre o risco de ser interrompido por seus próprios cientistas. Nesta segunda-feira, 155 pesquisadores divulgaram uma carta aberta à Comissão Europeia, financiadora do Projeto Cérebro Humano (HBP, na sigla em inglês), protestando contra a má administração do programa e expressando o temor de que ele esteja fadado ao fracasso.
Lançado em outubro com investimento de 1 bilhão de euros, o HBP tem o objetivo de contribuir para o avanço da compreensão das funções cerebrais humanas. Um de seus propósitos é produzir um modelo do cérebro feito por um supercomputador, com base nas últimas pesquisas em neurociência. Cerca de 80 instituições internacionais fazem parte do projeto, que tem previsão de terminar em dez anos.
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No entanto, desde seu início, os objetivos se tornaram cada vez mais confusos. Em maio, discussões sobre o foco do HBP levaram o comitê executivo a cortar alguns ramos da pesquisa, que incluíam neurocientistas cognitivos. No fim do mesmo mês, Stanilas Dehaene, diretor da Unidade de Neuroimagem Cognitiva do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica da França (Inserm, na sigla em francês), deixou o projeto, citando falta de confiança nas decisões do comitê e em sua administração. Agora, grande número dos cientistas planeja um boicote se os objetivos não forem revistos. Divulgada no site do projeto, o Neurofuture, a carta aberta chamava novos signatários. No final do dia, os nomes haviam aumentado para 251.
Redirecionamento de recursos – Em resposta à atitude dos cientistas, o coordenador do HBP, o neurocientista Henry Makram, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Lausanne (EPFL, na sigla em francês), afirmou à revista Nature que as críticas representam uma visão da minoria e que as acusações de falta de transparência são infundadas.
Na carta aberta, os cientistas pedem para que seja revisada a segunda parte do projeto – que deve ser renovado em 2016 – levando-se em consideração a transparência e os diferentes pontos de vista dos grupos que o compõe. Do contrário, o melhor seria direcionar os recursos do projeto para outras pesquisas.