Cientistas curam TOC em camundongos
Novos estudos podem fornecer pistas sobre a causa do transtorno obsessivo compulsivo e ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para a doença
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma doença mental que se manifesta por manias como lavar as mãos muitas vezes em sequência, preocupar-se demais com o contágio de doenças ou checar repetidamente se as luzes estão apagadas. Para a ciência, as causas desse transtorno ainda não são claras, e muitos pacientes não respondem bem aos tratamentos disponíveis atualmente, que consistem em terapia e medicamentos. Dois novos estudos, publicados nesta sexta-feira na revista Science, indicam os primeiros passos para novos tratamentos, um grande avanço científico.
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O ato de se limpar repetidas vezes é sintoma de TOC em camundongos
Utilizando a técnica de optogenética, que consiste em utilizar a luz para manipular genes que determinam a ação de determinadas células nervosas, pesquisadores identificaram as regiões do cérebro relacionadas ao aparecimento de comportamentos repetitivos e conseguiram evitar sua ocorrência em camundongos que manifestavam sintomas semelhantes ao TOC nos seres humanos.
Causas – Em um dos estudos, liderado por Susanne Ahmari, pesquisadora da Universidade Columbia (Nova York), a técnica da optogenética foi utilizada para estimular em camundongos duas regiões cerebrais já relacionadas ao TOC em humanos, o cortex órbito-frontal e o estriado ventromedial. A primeira delas se relaciona ao controle de pensamentos e a segunda, aos movimentos. Segundo Susanne, já se sabia que pessoas com TOC apresentam intensa atividade cerebral concentrada nessas duas regiões. O que não se sabia era se isso é a causa das manias ou uma reação à própria doença.
Os pesquisadores liderados por Ahmari acreditavam que a hiperestimulação de tais regiões cerebrais causaria o aparecimento de sintomas compulsivos. Porém, ao contrário do que se esperava, a estimulação dessas regiões não provocou nenhum sintoma – nos camundongos, o ato de se limpar repetidas vezes é associado ao TOC. “Mas quando nós estimulamos essas regiões por vários dias seguidos, por apenas cinco minutos por dia, nós obtivemos uma evolução progressiva de comportamentos repetitivos”, explica Susanne. Para os autores, isso indica que o TOC pode ser causado por um pequeno aumento da atividade cerebral repetidas vezes, e não por apenas um evento isolado.
Os camundongos permaneceram com comportamento obsessivo por duas semanas após o fim das sessões de estimulação. Em alguns casos, o uso de Fluoxetina, medicamento comumente utilizado no tratamento de TOC em humanos, atenuou os sintomas desenvolvidos pelos roedores.
Tratamento – Um segundo estudo, realizado por Eric Burguière, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e sua equipe, teve como foco o tratamento da doença. Eles utilizaram a optogenética para bloquear os comportamentos repetitivos em ratos geneticamente desenvolvidos para apresentar a doença (a ausência do gene Sapap3 favoreceu o surgimento da mania de se limpar repetidamente). Os pesquisadores descobriram que o estímulo dos neurônios da parte lateral do cortex órbito-frontal, por meio da optogenética, provocou o desaparecimento dos sintomas obsessivos.
Para os autores, tais estudos podem abrir caminho para a descoberta de novos alvos para o uso da estimulação neural (que já tem sido testada como tratamento experimental para o TOC) e até para o desenvolvimento de novos medicamentos para o transtorno.
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