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Cientista-chefe da Coca-Cola deixa cargo após denúncias de “manipulação” de pesquisas a favor dos refrigerantes

Rhonda Applebaum e a empresa estão no centro de uma grande discussão a respeito da influência da companhia nos estudos e mensagens veiculadas pela ONG Global Energy Balance Network, formada por médicos e cientistas

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h00 - Publicado em 25 nov 2015, 19h12

A diretora do setor de ciência e saúde da Coca-Cola, Rhonda Applebaum, deixou o cargo nesta terça-feira (24), após acusações de que a empresa estaria influenciando pesquisas e campanhas antiobesidade de uma ONG americana. A Coca-Cola, maior companhia do setor de bebidas do globo, anunciou que Rhonda “decidiu se aposentar” e a transição do cargo “está em andamento”.

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Rhonda e a Coca-Cola estão no centro de uma grande discussão levantada nos Estados Unidos sobre a relação da empresa com a Global Energy Balance Network (GEBN), organização financiada pela companhia. No início de agosto, um artigo publicado no jornal The New York Times afirmou que a Coca-Cola estaria usando os recursos doados para orientar as pesquisas e mensagens veiculadas pela ONG de que bebidas açucaradas (como os refrigerantes) teriam papel menor no aumento das taxas de obesidade que a falta de exercícios físicos.

A GEBN é formada por um time de médicos e cientistas com a missão de encontrar soluções inovadoras para prevenir e reduzir a obesidade com base na ciência do balanço calórico (o equilíbrio ideal entre o número de calorias ingeridas e queimadas pelo organismo). De acordo com o artigo, o financiamento de estudos que dariam destaque para a importância da maior quantidade de exercícios físicos no combate da obesidade em detrimento do total de açúcar da dieta seria uma estratégia corporativa para combater o declínio nas vendas dos refrigerantes em todo o mundo.

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Em comunicados, a empresa e a ONG afirmaram que a Coca-Cola não tem qualquer influência sobre estudos e campanhas da GEBN. Em setembro, a companhia publicou em seu site uma lista de todas as organizações que recebem fundos da Coca-Cola e o montante destinado a cada uma, reafirmando seu compromisso com a transparência. Em 2014, a GEBN recebeu 1,5 milhão de dólares (cerca de 5,6 milhões de reais) da companhia.

Nesta terça-feira, contudo, a agência Associated Press divulgou trechos de e-mails trocados entre Rhonda Applebaum e cientistas da ONG, em que a chefe do setor de ciência e saúde da Coca-Cola ajuda a direcionar as pesquisas da Global Energy Balance Network.

No fim do dia, Muhtar Kent, um dos executivos da Coca-Cola, afirmou em comunicado que o papel da companhia em pesquisas científicas era baseado no “desejo de identificar uma abordagem mais holística e prática, baseada nas melhores evidências”. Kent também disse que ficou claro que “não havia um nível suficiente de transparência sobre o envolvimento da companhia com a Global Energy Balance Network. Claramente temos mais trabalho a fazer para refletir os valores desta ótima companhia em tudo o que fazemos.”

A confirmação da aposentadoria de Rhonda foi divulgada no mesmo dia e a Coca-Cola afirmou que a decisão foi tomada em outubro. A chefe do departamento de ciência e saúde é especialista em microbiologia e segurança alimentar e entrou na Coca-Cola em 2004. Fez parte do grupo de consultores do Food and Drug Administration (FDA), órgão americano que regula alimentos e medicamentos.

Níveis de obesidade – A discussão sobre o método ideal para combater a obesidade e doenças crônicas como a diabetes tipo 2, ligadas à dieta, ocorrem em um momento em que os Estados Unidos enfrentam taxas alarmantes de sobrepeso. No país, a obesidade atinge mais um terço dos adultos (78,6 milhões) e quase um quinto das crianças (12,7 milhões), de acordo com dados do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano.

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Neste ano, o consumo de açúcar e bebidas açucaradas se tornou um dos focos da luta contra a obesidade. Em março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que o açúcar deixe de representar mais de 10% do consumo diário de um indivíduo e sugeriu que os governos aumentem os impostos sobre alimentos ricos em açúcar, como refrigerantes e alimentos processados.

Na última década, no entanto, com a opção dos consumidores por alimentos mais saudáveis, a venda de refrigerantes caiu, obrigando gigantes do setor, como a Coca-Cola e a Pepsi, a aumentar a oferta de bebidas menos calóricas e oferecê-las em embalagens menores.

Além de ressaltar os métodos para o combate da obesidade, a discussão sobre a relação entre a Coca-Cola e a GEBN também coloca em evidência a difícil relação entre pesquisadores e órgãos financiadores de estudos. Essa ligação tem sido alvo de alertas constantes de cientistas neste ano, em periódicos respeitados como a Science. De acordo com os especialistas, é preciso parâmetros mais rígidos que privilegiem a qualidade de pesquisas científicas isentas, sua reprodutibilidade e a independência dos organismos financiadores.

(Da redação)

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