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Água líquida prova que Marte não é o deserto inóspito que a ciência imaginava

A água salobra que corre pelas crateras e encostas do planeta sugere que há regiões que poderiam permitir a existência de vida, revelando que Marte é muito diferente da paisagem gelada concebida pelos cientistas duas décadas atrás

Por Gabriela Neri e Rita Loiola
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h01 - Publicado em 28 set 2015, 20h04

Água líquida e salobra flui em largos sulcos esculpidos nas crateras e canyons de Marte, anunciou a Nasa nesta segunda-feira. As informações, colhidas pela missão Mars Reconnaissance Orbiter (MRO, na sigla em inglês), revelam que a água escorre por largos veios nos verões (que no planeta chega a até 23°C negativos) e desaparece nos invernos. De acordo com a agência espacial americana, a descoberta aumenta a possibilidade de que exista, atualmente, algum tipo de vida no planeta. Água na forma líquida é uma das condições primordiais para o surgimento e desenvolvimento de vida em qualquer parte do Sistema Solar.

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O estudo, publicado no periódico Nature Geoscience e liderado por Lujendra Ojha, cientista do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, é o primeiro a trazer evidências concretas de que Marte tem pequenos “córregos”, apesar de os cientistas suspeitaram disso há alguns anos. Estudos anteriores haviam revelado a existência de gelo na superfície de Marte e também no subsolo.

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Água líquida – A suspeita da água na forma líquida chegou por meio das imagens da MRO, que orbita Marte desde 2006. Em 2011, a missão revelou o que os cientistas conhecem pela sigla RSL (Recurring Slope Linear, em português algo como Linhas Recorrentes de Encosta), sulcos escuros que surgem nas bordas de crateras, cânions ou montanhas. Sazonais (aumentam nos meses quentes e diminuem no período frio), elas são normalmente relacionadas à presença de água. No entanto, as imagens não conseguiram mostrar claramente a presença de líquido.

Em maio deste ano, dados do robô Curiosity revelaram a existência de perclorato de cálcio na superfície do planeta, um sal que, misturada à água, permite que ela continue em estado líquido mesmo em temperaturas abaixo de zero. A substância foi encontrada na Cratera Gale, próxima do equador de Marte, considerada uma das áreas mais secas do planeta. Quanto mais longe dali, maior a possibilidade de existir água líquida em maior concentração.

Os cientistas da equipe de Ojha resolveram então reunir as duas informações: foram para longe da Cratera Gale tentaram detectar a presença dos sais nos sulcos de Marte – se eles fossem encontrados nessas regiões, a presença da água líquida seria quase certa. Para isso, os pesquisadores combinaram as imagens feitas pela câmera HiRISE da missão MRO, que obtém fotografias em alta resolução, às medições de um outro instrumento da missão, chamado CRISM (Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars, ou Espectômetro de Imageamento de Reconhecimento Compacto para Marte). O espectrômetro, capaz de medir a luz de um lugar e inferir que tipo de substâncias emitem as radiações, revelou a presença dos sais hidratados nos veios de Marte. Era o indício que faltava para comprovar a existência de água corrente. Foram encontrados clorato de magnésio, perclorato de magnésio e perclorato de sódio.

Quatro regiões do planeta foram analisados: as crateras Horowitz, Hale e Palikir e um cânion chamado Coprates. Todas exibiram os sais hidratados. Imagens espetaculares do que se assemelham a cachoeiras em uma das crateras foram divulgadas pela Nasa durante o anúncio da descoberta.

“Agora sabemos que Marte está longe de ser o deserto inóspito que imaginávamos há duas décadas. Essa é a prova definitiva de que o planeta tem água na forma líquida, substância essencial para as reações químicas básicas de todos os seres vivos”, afirmou ao site de VEJA o astrônomo brasileiro Douglas Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da USP

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Vida microbiana – De acordo com os especialistas, a presença do líquido é apenas uma das condições propícias à vida – ainda há um longo caminho para a detecção da vida propriamente dita, no planeta.

Ainda não se sabe qual a fonte dessa água ou qual sua composição. “O que sabemos é que essa água é equivalente a um líquido mais salino que o do Mar Morto. É por isso que permanece líquida em temperaturas tão baixas”, disse ao site de VEJA o astrônomo Amâncio Friaça, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP). “A presença dessa água salina é um requisito para a existência de vida, não sinônimo dela. Contudo, é uma das principais condições, que parece estar satisfeita.”

Segundo a Nasa, a descoberta deixa os cientistas um passo mais perto de descobrir se existiu ou existe vida no planeta e compreender se ele foi ou poderá ser habitável “Parece que quanto mais estudamos Marte, mas aprendemos como a vida pôde ser sustentada e onde estão os recursos para a sustentação de vida no futuro”, afirmou o astrônomo Michael Meyer, cientista-chefe do programa de exploração de Marte da Nasa, em comunicado.

A presença de água, mesmo salina, pode também indicar que futuros astronautas em viagem ao planeta ou prováveis colonizadores de Marte, como previsto para 2030, talvez não precisem levar água para sobreviver na superfície do planeta. “Aos poucos, descobrimos que há muita água em diversas partes do Sistema Solar. Essas ‘cachoeiras de água salgada’ encontradas em Marte poderão ajudar a exploração do planeta, sendo usadas para abastecer foguetes ou futuras colônias no planeta”, diz Galante.

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