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A volta ao mundo em 89 minutos

Há 50 anos, a bordo da nave Vostok 3KA, o soviético Yuri Gagarin tornava-se o primeiro homem a viajar até o espaço

Por Marco Túlio Pires
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h09 - Publicado em 9 abr 2011, 08h47

“Não tenham medo. Sou um soviético como vocês. Vim do espaço e preciso telefonar para Moscou!” -Yuri Gagarin, ao voltar à Terra, dirigindo-se a uma fazendeira e sua filha

“Não fosse a determinação soviética para colocar um homem no espaço, os EUA jamais teriam financiado uma missão à Lua” -Gerard DeGroot, historiador

Às 11h05 da manhã de 12 de abril de 1961, um homem de macacão laranja e capacete branco pousava de paraquedas em uma propriedade rural no Cazaquistão, então parte da União Soviética. Ele acabara de dar a volta ao mundo em 89 minutos a bordo de uma pequena espaçonave chamada Vostok 3KA. Enquanto recolhia o paraquedas, o russo Yuri Gagarin dizia a uma fazendeira e sua filha, que o observavam atônitas: “Não tenham medo. Sou soviético como vocês. Vim do espaço e preciso telefonar para Moscou”. A cena pitoresca marcou o desfecho vitorioso de um daqueles raros momentos na humanidade em que as fronteiras do desconhecido são deslocadas adiante: a primeira viagem do homem ao espaço.

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Gagarin foi lançado ao espaço dentro da cápsula Vostok a partir do mesmo lugar em que os russos lançam seus foguetes até hoje, o Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Durante o voo, na conversa entre Gagarin e o centro de comando na Terra, o cosmonauta – o equivalente russo para astronauta – relatava o tempo todo o que estava sentindo. “Estou ótimo”, dizia, à medida que dava uma volta na Terra a uma velocidade de 27.400 quilômetros por hora. Assim que subiu o suficiente, deparando-se com uma vista espetacular, jamais contemplada por um ser humano até então, só teve palavras para o óbvio: “Vejo a Terra!”.

Saiba quem foi Yuri Gagarin e como foi o primeiro voo espacial

Primeiro passo – Após o fim da II Guerra Mundial, poucos eram os motivos científicos que estimularam o envio de um ser humano ao espaço. Um deles era saber se o ser humano seria capaz de sobreviver em um ambiente de baixíssima gravidade e se altitude afetaria o corpo de alguma maneira. “Eram conquistas políticas, mais do que científicas”, afirma David Williams, pesquisador da agência espacial americana, a Nasa. “A corrida espacial mostraria ao mundo qual sistema – o capitalismo ou o comunismo – era mais avançado”, disse em entrevista ao site de VEJA. A queda de braço estimulou rapidamente o desenvolvimento da tecnologia necessária para colocar homens e máquinas no espaço e ampliar as fronteiras do conhecimento.

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“Os seres humanos são exploradores”, diz Williams, lembrando a chegada de desbravadores europeus ao continente americano, mais de 500 anos atrás, em travessias com poucas chances de sucesso. Hoje, toda a superfície da Terra está devidamente mapeada. “O voo de Gagarin abriu as portas para que o homem explorasse o universo além da Terra“, afirma.

Novas tecnologias – Não fosse a determinação soviética para colocar um homem no espaço, os Estados Unidos jamais teriam financiado uma missão à Lua, na opinião do historiador Gerard DeGroot, autor do livro Dark Side of The Moon (New York University Press). Em um artigo publicado pelo jornal inglês The Daily Telegraph, DeGroot defende que, apesar da aparente falta de propósito científico, os soviéticos “puxaram o governo americano pelo nariz” até a Lua. “Antes de Gagarin, os americanos não tinham uma política espacial definida”, escreveu. Para o historiador, o sucesso soviético “mexeu com as pessoas, engajou a comunidade científica e inspirou governantes.” Oito anos depois, o astronauta americano Neil Armstrong dava as primeiros passos no solo lunar.

Missões espaciais tripuladas estimularam o desenvolvimento de tecnologias que hoje fazem parte da nossa rotina. É o caso dos computadores. A inclusão de seres humanos em foguetes fez com que os engenheiros quebrassem a cabeça para fazer com que os componentes ficassem menores e mais leves, e o espaço útil, maior. As técnicas de miniaturização do maquinário serviram de impulso para que, décadas mais tarde, fossem desenvolvidos os primeiros computadores pessoais, os celulares e os tocadores de música portáteis.

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Novas fronteiras – O voo de Gagarin também foi o marco inicial de um objetivo “inevitável”, nas palavras do presidente da Space Exploration Technologies (SpaceX), o sul-africano Elon Musk: a colonização de outros planetas. Otimista, Musk acredita que será possível levar o homem a Marte em dez anos, uma década e meia antes do que espera a Nasa e a agência espacial europeia (ESA). As maiores agências espaciais do mundo têm se movimentado para tornar a empreitada possível. No dia 7 de abril, ocorreu em Washington a conferência “Explore Mars”, para discutir como os americanos irão organizar missões a Marte, inclusive tripuladas. Além disso, no dia 15 de abril, a Nasa e a Roscosmos, a agência espacial russa, irão se reunir para discutir o desenvolvimento de uma espaçonave movida a energia nuclear. A ideia é criar um motor que supere a tecnologia atual.

A ambição de levar o homem ao planeta vermelho levou a ESA e a Roscosmos à criação do Marte500, uma simulação na Terra de uma missão até Marte, com todos os detalhes. Seis voluntários estão enfurnados desde junho de 2010 em uma cápsula simulando o lançamento, viagem de ida, estadia em Marte e volta para casa. A missão, prevista para acabar em novembro, tem como objetivo estudar os efeitos do isolamento humano durante o tempo que se imagina durar uma missão a Marte. O planeta é o destino mais provável por ser o que mais se parece com a Terra. Vênus e Mercúrio são quentes demais, e os que estão além de Marte, gelados e distantes demais. Outro destino para missões tripuladas, apontado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, é o cinturão de asteroides que fica entre Marte e Júpiter.

Legado – Enviar seres humanos ao espaço é realmente importante? Embora resultados os imediatos não sejam evidentes, Williams diz que a história sempre foi generosa com a vontade humana de tornar familiar aquilo que uma vez já foi desconhecido. Na opinião do cientista, praticamente tudo o que está escrito em livros de ciências foi aperfeiçoado pela persistência das missões espaciais. “Se não tivéssemos tido a coragem de enviar o homem ao espaço, jamais teríamos ampliado o conhecimento que temos sobre a nossa existência”.

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Quem foi Yuri Gagarin?

Yuri Gagarin

Piloto soviético, primeiro ser humano a fazer uma viagem tripulada ao espaço a bordo da cápsula Vostok 3KA, em 1961

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O piloto soviético Yuri Alekseyevich Gagarin se tornou mundialmente famoso após realizar o primeiro voo espacial tripulado em 1961, a bordo da cápsula Vostok 3KA. O soviético nasceu no dia 9 de março de 1934 em uma fazenda comunitária na cidade de Gzhatsk (hoje a cidade se chama ‘Gagarin’), a 166 quilômetros de Moscou.

Depois da II Guerra Mundial, Gagarin mudou-se para a capital e aprendeu a pilotar aviões em um aeroclube. Em 1957 graduou-se na Força Aérea Soviética. Foi escolhido como o primeiro cosmonauta em 1961. Se tornou uma celebridade após ir ao espaço. Visitou várias cidades ao redor do mundo, inclusive Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Em março de 1968, durante um voo de treino na base aérea de Chkalovsky, morreu aos 34 anos em um acidente de avião nunca esclarecido.

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