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A era do Big Brother espacial

Mais de 50 anos após o início da corrida espacial, 54 missões exploratórias ajudam o homem a entender o que faz da Terra um lugar tão especial

Por Marco Túlio Pires
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h09 - Publicado em 4 mar 2011, 15h23

“Quanto mais dados tivermos, mais saberemos o que faz a Terra tão especial”, diz Bill Barry, historiador-chefe da Nasa

Depois de mais de seis anos e 7,9 bilhões de quilômetros percorridos, a sonda americana Messenger aproxima-se do ápice de sua missão: entrar na órbita de Mercúrio, em 17 de março, e enviar à Terra informações detalhadas do planeta mais próximo do Sol. Se obtiver sucesso, pela primeira vez todos os planetas rochosos do Sistema Solar, além da própria estrela, estarão sob o monitoramento constante de satélites (Mercúrio, Vênus e Marte) e até jipes-robôs (Marte).

À Messenger, somam-se outras 53 missões exploratórias apontadas para planetas, estrelas, asteroides, luas e cometas, desde as vizinhanças da Terra até os confins do universo. Este Big Brother espacial, feito de sondas, telescópios, jipes e outras máquinas, já permitiu aos cientistas calcular a idade do universo, confirmar a existência dos buracos negros e descobrir planetas fora do nosso sistema. São essas “espiadinhas” que alimentam também a fixação maior das ciências espaciais: encontrar vida em outro planeta.

O espaço visto do espaço – A primeira “espiadinha” foi dada pelos soviéticos, em 1957, plena Guerra Fria, com o pioneiro satélite Sputnik. Além de aterrorizar os americanos com seu bip-bip particular, que qualquer radioamador podia sintonizar, a missão soviética informava ao centro de comando na Terra a densidade da atmosfera do planeta, o encontro de pequenos fragmentos de asteroides e a variação na temperatura da sonda. Abria-se então caminho para estudos espaciais de um ponto de vista privilegiado – o próprio espaço.

Desde o Sputnik, uma série de programas espaciais permitiu a montagem de uma verdadeira constelação de satélites em órbita da Terra: câmeras, sensores, radares e todo tipo de maquinário capaz de observar e medir nosso planeta – são mais de mil ativos, nas contas da Nasa. Colocar objetos em órbita é hoje tão corriqueiro que qualquer pessoa pode ter o seu próprio satélite. Desde 2009, a empresa americana InterOrbital vende por 8.000 dólares o lançamento de um pequeno cilindro de 750 gramas que, por algumas semanas, pode ser programado para fazer experimentos científicos, transmissão de rádio e até propaganda.

O universo como ele é – Já as missões que exploram outros astros não têm nada de corriqueiro. O historiador-chefe da Nasa, Bill Barry, cita com entusiasmo as sondas Voyager 1 e 2. Lançadas em 1977, são as mais antigas ainda em funcionamento. Já passaram por Júpiter, Saturno, Urano e Netuno e agora estão nos limites do Sistema Solar, a mais de 17 bilhões de quilômetros. José Bezerra Filho, pesquisador do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos (SP), concorda. “É coisa de ficção científica”, diz ao site de VEJA. “Por causa da posição dos planetas no percurso da sonda, o trajeto feito pela Voyager só é possível a cada 176 anos.”

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As missões seguintes à Voyager aproveitaram os avanços tecnológicos na captura e transmissão de dados espaciais. “A Voyager tem um poder de processamento igual a 99 calculadoras de bolso”, compara Eric Conway, historiador do Jet Propulsion Laboratory (JPL), o laboratório que constrói os robôs da Nasa. “Hoje, os computadores das naves em atividade são milhares de vezes mais rápidos”.

De todas as missões, a que levou às maiores descobertas científicas foi a do Hubble. O telescópio americano-europeu permitiu “que o homem enxergasse o universo como ele é”, segundo Bezerra. Isso porque o Hubble pode captar, para além do espectro visível, radiação ultravioleta e infravermelha. Feito o regitro inicial, em preto e branco, os cientistas associam cores conforme as diversas faixas de radiação. Como resultado, uma galáxia aparentemente escura e pouco brilhante a olho nu acaba gerando “imagens impressionantes”, diz o pesquisador. O Hubble já fez mais de meio milhão de imagens, que permitiram, por exemplo, datar o Big Bang há 13,7 bilhões de anos. Em 2015, depois de mais de 20 anos de serviços prestados, o Hubble será substituído por lentes ainda mais poderosas, a do observatório espacial James Webb, que vai mirar as primeiras estrelas formadas após a explosão que deu origem ao universo.

Outras Terras – Lançado em 2007, o Kepler é o telescópio que atualmente recebe mais atenção. O “caçador de exoplanetas” (ou seja, de planetas que ficam fora do Sistema Solar) não faz as mesmas belas imagens do Hubble, mas tem um mecanismo bastante engenhoso. Ele analisa uma pequena parte do céu onde é alta a concentração de estrelas e mede a quantidade de luz. Se um corpo longínquo passa à frente de uma certa estrela, o telescópio nota uma pequena variação na quantidade de luz. Se a variação é periódica, é sinal que esse corpo está orbitando a estrela. Depois de analisar a energia emitida pelo astro, os físicos conseguem dizer se o corpo é ou não um planeta. Em seu censo espacial, o Kepler já encontrou mais de 1.500 exoplanetas, pelo menos 54 deles considerados “habitáveis”, ou seja, nem quentes, nem frios demais. “Muitos outros serão encontrados”, adianta Barry.

A procura por vida em “outras Terras” é um dos principais motores da exploração espacial. É o que explica porque os planetas gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) estão numa espécie de paredão: são objeto de poucas missões e apenas um satélite, o Cassini, que orbita Saturno. “Sabemos que a chance de existir vida nesses locais é próxima de zero”, diz o historiador da Nasa.

Marte, ao contrário, já tem a atenção de cinco missões, incluindo os jipes Spirit e Opportunity. Lançados em 2003, os veículos escrutinam o terreno valendo-se de uma série de recursos: um imã que atrai rochas magnéticas para dentro do jipe, onde são estudadas em um mini-laboratório; uma espécie de escova que ajuda a encontrar as pedras; sensores que medem as condições da atmosfera e do solo marciano.

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Até o fim da década, mais dois jipes estão agendados para explorar o planeta vermelho: o europeu ExoMars, em 2018, e o americano Mars Science Laboratory, em 2012. O novo jipe americano irá vasculhar a superfície do planeta em busca de moléculas orgânicas complexas que indiquem se ali há ou houve vida. “É uma missão que está recebendo muito investimento”, diz o brasileiro Ramon de Paula, executivo da Nasa que participa do projeto, em entrevista ao site de VEJA.

A Terra – O satélite Messenger é o sucessor da Mariner 10, a única sonda que já se aproximou de Mercúrio. A Mariner foi programada para fazer nos anos 70 três passagens pelo planeta. Fez as três pelo mesmo lado, e por isso mais da metade de Mercúrio nunca foi observada. É a missão que a Messenger pretende cumprir, a partir deste mês. Resultado de 30 anos de pesquisa, em particular de materiais capazes de protegê-lo das proximidades do Sol, o novo equipamento da Nasa leva nove instrumentos científicos para mapear o planeta, determinar sua composição e sondar sua evolução geológica.

Mas nada disso impressiona o astronauta americano William Anders. Para ele, o grande achado da exploração espacial continua sendo… a própria Terra. “Viajamos toda a distância até a Lua e o mais importante é que descobrimos o nosso planeta”, diz o tripulante da primeira missão que orbitou a Lua, a Apollo 8, em 1968.

“Se você perguntar aos cientistas, eles gostariam muito de ter um sistema de vigilância em todo o Sistema Solar”, afirma Bill Barry. “Isso porque quanto mais dados tivermos do universo, mais saberemos o que faz a Terra e a humanidade tão especiais.”

Confira abaixo os detalhes de todas as missões:

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