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Vilãs disfarçadas em figurino de mocinhas

Tons claros e roupas cheias de candura, ou modelos que remetem à beatice, têm feito parte do guarda-roupa de personagens de novelas que não se cansam de praticar o mal

Por Da Redação
1 out 2012, 08h24

A regra estilística é clara: em se tratando de vilãs, o dress code pede roupas ousadas e chamativas. Essa ordem, porém, vem sendo subvertida nos figurinos usados por malvadas em três novelas atualmente no ar. Em comum, o trio formado por Carminha (Adriana Esteves), de Avenida Brasil, Dorotéia (Laura Cardoso), de Gabriela, e Constância (Patrícia Pillar), de Lado a Lado, é mestre em disfarçar suas vilanias debaixo de roupas capazes de deixa-las acima de qualquer suspeita, pelo menos, na aparência. Do repetitivo conjunto de calça branca e camisa transparente da mau-caráter das nove às rendas usadas por Constância, passando pelo luto eterno da dona do bordão “Jesus Maria José”, é comprovada a elevação do figurino à recurso de primeira grandeza na teledramaturgia atual.

Diante disso, há algumas mensagens cifradas por trás do look totalmente branco usado por Carminha em Avenida Brasil. Em primeiro lugar, o estilo imaculado atende a um recurso que se tornou a marca registrada do autor João Emanuel Carneiro, especialista em confundir público e personagens sobre quem é a vilã ou a mocinha em suas novelas. Foi assim também em A Favorita, outra trama marcada por uma malévola disfarçada de boazinha, Flora (Patrícia Pillar). Além disso, o figurino é usado por Carminha como artifício de fingimento, eficiente em convencer a família Tufão de que realmente é uma mulher do bem e empenhada em superar a infância pobre passada no lixão. Por outro lado, a imagem cândida de Carminha faz lembrar que dentro de uma vilã também bate um coração, no caso dela, palpita fortemente pelo filho Jorginho (Cauã Reymond).

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Constância, personagem de Patrícia Pillar na novela das seis, segue os passos de Carminha e destila suas maldades sempre alinhada como uma dama do início do século XX, época em que se passa a trama. As camisas em renda ornam com os cachos loiros da atriz para compor a imagem de uma mulher bondosa. No caso, o estilo de Constância serve para corroborar sua origem nobre e representa, talvez, a última ligação com seu passado de baronesa, após sua família ir à bancarrota. Ela faz de tudo para retomar o poder e a riqueza, obriga a filha Laura (Marjorie Estiano) a se casar à força e destila frases racistas por todo lado, especialmente quando está diante da criada Isabel (Camila Pitanga). Até o caso que mantém com o sogro de sua filha, o senador Bonifácio Vieira (Cássio Gabus Mendes), passa despercebido debaixo de tantas rendas e tecidos nobres.

Se Constância faz de tudo para reviver seu passado glorioso, a vilã de Gabriela se empenha para que sua história de vida não seja descoberta pelos moradores de Ilhéus. Para isso, Dona Dorotéia (Laura Cardoso) se apoia no figurino de beata e também recita nomes de santos afim de se autoproclamar única detentora da moral de dos bons costumes na cidade. O empenho é tanto que seu bordão “Jesus Maria José” extrapolou os limites da televisão e virou piada nas redes sociais. Em breve, a carcaça de senhora respeitável de dona Dorotéia vai perder a serventia. Toda a cidade vai descobrir que a maior inimiga das quengas do Bataclã, na verdade, já fez parte desse time na juventude. E atendia os clientes sob o apelido de Dodô Tanajura.

Mais do que embananar a cabeça do telespectador – e das vítimas – a inversão de padrão estético das vilãs atenta para uma mudança em relação a essas personagens. As personalidades caricatas, que se assemelham às bruxas dos contos de fada, perdem espaço para tipos humanos multifacetados e, portanto, mais próximos da realidade. Assim como na vida real, na teledramaturgia também ninguém é 100% mau, e nem inteiramente bom. E é aí que entra a ajuda do figurino como elemento dramatúrgico, em vez de ser apenas mais um acessório cênico.

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