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Thalita Rebouças lança primeiro livro para adultos

Coletânea de crônicas de seu blog em VEJA Rio, 'Adultos Sem Filtro' é um raro momento em que a campeã de vendas se dirige ao público maduro. "Não tenho a menor vontade de me enveredar pelo mercado adulto. Gosto de fazer companhia para adolescentes"

Por João Marcello Erthal, do Rio de Janeiro
12 dez 2012, 14h30

“Estava lendo os ‘Cinquenta Tons’ porque precisa entender, como li só o primeiro Harry Potter. Tenho amigas que amaram e amigas que odiaram ‘Cinquenta Tons’. Eu não odiei, mas estou longe de ter amado. Mas se vamos falar de literatura erótica, prefiro falar de Hilda Hilst”

No lançamento da noite desta quarta-feira, os beijos de batom e as dedicatórias ‘fofas’ devem ser mais contidos. Mas o entusiasmo dos leitores de Thalita Rebouças certamente estará presente, no contato dos fãs com o primeiro livro adulto da autora da série adolescente Fala Sério. Adultos Sem Filtro e Outras Crônicas (Editora Rocco, 194 páginas) nasceu do pedido de leitores mais maduros que, depois de segui-la no blog que mantém no site de VEJA Rio, quiseram ter os textos também no papel. Inicialmente, os leitores mais velhos de Thalita eram basicamente pais e mães das meninas, instigados pelo sucesso que suas histórias faziam com os filhos. Mas, aos poucos, a escritora descobriu que parte do mais de um milhão de livros ia também para as mãos de avós, casais sem filhos e jovens na faculdade.

É melhor, no entanto, os adultos se contentarem com o blog, as participações esporádicas em coletâneas e, claro, com os temas adolescentes. Thalita não quer e não vai escrever para outro público que não a turma da mudança de voz, das espinhas, dos primeiros amores e todas as aventuras e desventuras da adolescência. “Adolescentes são adultos melhorados”, defende, deixando claro que prefere que seu público, na fase adulta, conheça outros autores.

Nada contra os adultos – é bom que se diga. No momento, Thalita se dedica também a finalizar seu primeiro livro infantil – Por que só as princesas se dão bem?, dedicado à afilhada, e a acompanhar os ensaios do musical Tudo por Um Popstar, inspirado em um de seus livros. Mas as crianças também estão fora dos planos, por enquanto. “Gosto de fazer com que os adolescentes se apaixonem pela leitura comigo”, explica, em entrevista ao site de VEJA.

Conheça o Blog da Thalita Rebouças

‘Adultos sem Filtros’ chega no mesmo momento em que o mercado editorial volta os olhos para J.K. Rowling, autora da série Harry Potter, que fez sua estreia na ficção para adultos. Sua intenção é avançar com seu público e escrever para adultos, ou manter o foco nos adolescentes?

Vou me manter escrevendo para os adolescentes. Me perguntam muito sobre isso, se vou passar a escrever para pessoas mais velhas. Para minha felicidade e até surpresa, muita gente mais velha, que está se formando, continua lendo os meus livros. Tanto que a Rocco, percebendo esse fenômeno, mandou preparar uma nova edição para a série ‘Fala Sério’, com uma capa mais madura, sem as figuras que infantilizam o livro. Assim, a menina mais velha pode ler e não ser ‘zoada’. Não tenho a menor vontade de me enveredar pelo mercado adulto. Gosto de fazer companhia para adolescentes. É um privilégio participar de uma fase da vida que sabemos ser complicada. ‘Adultos sem Filtro e Outras Crônicas’, que nasceu de um blog na VEJA Rio, é o momento em que me dirijo ao público adulto. Descobri que pessoas de 30 anos também me leem, gente sem filhos adolescentes. Teve avó de leitora me perguntando: ‘por que não publica as crônicas em livro, acho chato ler no computador’. Mas não é uma vontade de acompanhar o crescimento dos leitores, porque quando eles crescem tem muita coisa boa para eles no mercado. Prefiro ficar com os adolescentes, que têm muitas vezes uma repulsa pelos livros. Gosto de fazer com que os adolescentes se apaixonem pela leitura comigo.

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O que você leu mais e o que ainda não leu?

Sou apaixonada por Saramago. É quem mais me arrebata quando estou lendo. Gosto de Vargas Llosa, amo Clarice Lispector. Dostoievski? Alguns clássicos? Não li. E não me sinto na pressão de ter que ler clássicos. Os ‘clássicos’, para mim, são os textos que me fizeram me apaixonar pela leitura, que foram as crônicas do Sabino, do Veríssimo e do João Ubaldo, nos meus 13, 14 anos. Esses caras foram os que mudaram meu caminho. Eles são geniais. Poderia ter me tornado uma não leitora sem eles. Claro, amei José de Alencar, ‘Senhora’. Amei ‘Dom Casmurro’, e quando li com 24 anos consegui entender o que não tinha entendido aos 15, na escola. Mas essa coisa de clássicos, não sei. O hábito da leitura tem que ser para a vida toda. Não importa se o que você gosta de ler é ‘Melancia’, ‘Brigitte Jones’. É importante ler o que te apetece. O que importa é estar lendo.

Sua relação com o livro físico, de papel, é marcante para seus leitores. Os beijos de batom nas noites de autógrafos são uma atração à parte nas feiras e lançamentos. Como você vê o avanço do livro digital?

Acho sensacional ter mais essa plataforma. Ontem uma menina me disse pelo Twitter: Poxa, você não vai poder beijar os e-books! Acho que é um longo caminho, porque até agora os livros digitais estavam engatinhando no Brasil, enquanto nos Estados Unidos já são 20% do mercado. No caso do meu público, a maioria esmagadora ainda é leitora do papel. Não acho que seja comum dar leitores digitais ou tablets para pessoas de 11, 12 anos. Eu sinto que meus leitores ainda têm muita vida no papel, tanto que quiseram transformar em livro textos que estão na internet. Tenho e adoro ler no meu Kindle, acredito que o avanço dos livros digitais é algo inevitável. Mas é um processo lento, ainda.

Em que texto você trabalha no momento?

Acabei de mandar para a editora o texto de ‘Por que só as princesas se dão bem?’, que escrevi para minha afilhada. Devemos lançar em abril. É o primeiro livro infantil da minha vida, mas também não pretendo escrever para crianças. Só estou fazendo este porque uma amiga da minha afilhada disse a ela: “É impossível a sua dinda ser escritora. A gente não vê nenhum livro dela!” E aí decidi escrever um livro só para ela, para ‘esfregar na cara’ da amiguinha (risos). É um livro que satiriza a coisa de toda pirralha querer ser princesa. Isso me irrita um pouco. Na minha época Branca de Neve não era princesa, e agora é uma das princesas da Disney. Qualquer mulher é transformada em princesa na Disney. O livro é sobre uma menina que vai passar um dia de princesa. E ela não vai curtir, porque princesa tem que fazer chapinha, não pode ter cabelo encaracolado, não pode comer, não pode abraçar, porque tem protocolo, tem que inaugurar hospital, biblioteca. Princesas têm um dia horrível! Acho que esse vai ser o primeiro e único infantil, mas não sei ainda…

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Você leu ou se interessou por ‘Cinquenta Tons de Cinza’?

Comecei a ler. Cheguei à página 150. Parei, porque me encantei por um livro chamado ‘Jesus Me Ama’, do mesmo autor de ‘Maldito Karma’ (David Safier). Estava lendo os ‘Cinquenta Tons’ porque precisava entender, como li só o primeiro Harry Potter. Tenho amigas que amaram e amigas que odiaram ‘Cinquenta Tons’. Eu não odiei, mas estou longe de ter amado. Mas se vamos falar de literatura erótica, prefiro falar de Hilda Hilst. Parei no meio porque nada me chamou atenção. O livro é bacana, entendo o fenômeno. Na minha época eram as coleções ‘Sabrina’, ‘Samantha’. A autora de ‘Cinquenta Tons’ achou o que as pessoas queriam ler. Pegou um filão, entendeu que havia uma falta de textos eróticos para mulheres e foi muito feliz. Simples assim, como é com todo fenômeno literário.

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