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Talento de cantora e sadismo do público explicam sucesso de Amy Winehouse

Com shows erráticos e vida conturbada, a carreira da cantora atrai curiosos interessados em um par de hits e saber se ela conseguirá terminar as apresentações

Por Rodrigo Levino
10 jan 2011, 20h50

O epíteto de gênio se aproxima de um sacrilégio. Fosse por Frank, um disco confuso que congrega elementos de R&B, bossa nova e chill out, Amy estaria fadada ao esquecimento.

A cantora inglesa Amy Winehouse quebrou no último dia 08, em Florianópolis (SC), um jejum de dois anos sem fazer shows. Ao confundir o microfone com uma garrafa de água, visivelmente alterada, Amy prenunciou o que se seguiu desde então com shows erráticos no Rio de Janeiro e o desmoronamento no palco enquanto cantava em Recife (PE), na última quinta-feira (13). Esperar uma apresentação impecável para o encerramento da turnê neste sábado (15), em São Paulo, é apostar numa loteria.

Surpresa, caso haja alguma, será margear os extremos: um completo colapso — Recife seria um ensaio? — ou um show impecável sem que ela erre ou esqueça uma letra sequer. O histórico, nesse caso, não é a favor da cantora.

Escolada – Nem bem chegou ao Brasil, Amy Winehouse rendeu um punhado de notícias do tipo que pipoca a toda hora desde o começo da sua carreira. Roubou bebidas alcoólicas dos quartos vizinhos no hotel em que está hospedada, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, deixou um seio à mostra dos fotógrafos, exibiu machucados no corpo e recebeu a visita de Ron Wood, guitarrista do Rolling Stones, outro contumaz ébrio.

Há quatro anos, desde que lançou o disco Back to Black, Amy alimenta os fãs com um par de hits e dezenas de escândalos. Na maioria dos concertos a cantora mal se sustenta nas pernas, fora deles, não tem sequer uma discografia que sustente a carreira ou justifique o frenesi dos fãs . Além deste disco, e apesar da gravadora ter posto no mercado cinco álbuns – incluindo sobras de estúdio e um registro ao vivo – há o mediano Frank, de 2003, que a tornou conhecida.

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Amparada por integrantes da equipe, Amy deixa a piscina do hotel
Amparada por integrantes da equipe, Amy deixa a piscina do hotel (VEJA)

Se resumido à voz, seu talento é inegável. Mas ela não é uma performer como Janelle Monáe, que fará alguns shows de abertura da turnê, e é pouco provável que as letras que compõe tratando de dramas e bebedeiras se equilibrassem sem a simbiose dos versos com a vida da cantora, como se dá com Rehab, seu maior hit. A música serve ao mesmo tempo de apelo à massa e passe livre para a própria decadência assistida em detalhes. O epíteto de gênio se aproxima de um sacrilégio. Fosse por Frank, um disco confuso que congrega elementos de R&B, bossa nova e chill out, Amy estaria fadada ao esquecimento. Sustentando o estrondoso sucesso de Back to Black, que alcançou a marca de 25 milhões de unidades comercializadas no mundo inteiro há um produtor talentoso e músicos competentes.

Midas – A saber, Mark Ronson e The Dap-Kings, a poderosa banda que acompanha a cantora americana Sharon Jones. Talentoso, com boas referências e ouvido afiado, Ronson talhou a carreira de Amy como um revival genérico da música soul dos anos 1970. As canções enfadonhas de Frank deram lugar a organicidade, arranjos de peso e melodias assobiáveis.

Tentativa semelhante o produtor arriscou com a branquela Nikka Costa, em 2001, quando dirigiu o disco Like a Father. Filha do produtor Don Costa, que trabalhou com Frank Sinatra, Nikka – que tem a voz pendida a Bette Davis, musa da música negra americana – falhou quando a carreira pediu carisma. Amy destacou-se no quesito e Ronson fez jus ao mérito.

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Com o alicerce de uma produção caprichada e a divulgação de uma grande gravadora, foi um pulo para as rádios. Para o noticiário diário, bastaram flagras de bebedeira, confusão, uso de drogas, brigas públicas da cantora com o ex-marido Blake Fielder-Civil e fracassadas tentativas de livrar-se do vício e voltar a gravar. O que serviu para cativar menos uma platéia cantando músicas de cor e salteado — já que elas nem são tantas — e mais espectadores de um reality show lastimável, vide os aplausos após o tombo em Recife..

Sadismo – Se musicalmente Amy passa longe da inventividade das musas do jazz americano com quem foi desavisadamente comparada, como Ella Fitzgerald e seus scatches, ou Billie Holiday, em cuja interpretação repousava a dramaticidade da história negra recente nos EUA e o uso de drogas como a heroína, resta o sadismo para complementar o sucesso.

O atrativo dos shows rareados da cantora não é o passo de dança arriscado ou a energia das interpretações, antes disso, a dúvida quanto a se ela pisará no palco ou conseguirá cantar todas as músicas do repertório.

Do penteado de coque altíssimo criado pelo inglês Alex Folden ao som meticulosamente planejado por Mark Ronson, a carreira Amy Winehouse corre o risco de passar para a história como um apanhado de escândalos a ponto de ter transformado um promissor talento numa farsa alimentada por um público mórbido e uma crítica de parâmetros largos.

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