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Scott Pilgrim Contra o Mundo é forte candidato a marco da cultura pop contemporânea

Ao fundir linguagem de quadrinhos, cinema, TV, videogame e música, o filme que estreia neste fim de semana é o retrato de uma geração mergulhada em informação

Por Rodrigo Levino
5 nov 2010, 21h55

Seis anos e um milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos depois, Scott Pilgrim foi adaptado para o cinema pelo diretor Edgar Wright com referências que se congregam de tal forma que tornam o filme um exemplar acabado do que os especialistas chamam transmídia ou multiplataforma

Quando Scott Pilgrim Contra o Mundo estreou em agosto, nos Estados Unidos, um crítico de cinema novaiorquino gastou preciosos minutos na TV alegando que era o pior filme do ano, que não havia nenhum sentido no roteiro, particularmente no fato de Scott (Michael Cera), o protagonista, ter de enfrentar sete ex-namorados de Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), para conquistar seu par romântico, como se disputasse uma partida de videogame.

A fala do crítico embutia um fosso geracional. Scott Pilgrim, o filme e a história em quadrinhos no qual se baseia, resume tão bem o espírito da atual época de acesso ilimitado a informação, ao entretenimento e variados referenciais culturais inseridos na vida do jovem, que torna difícil a compreensão dos, por assim dizer, não iniciados.

Por isso é justo dizer que, por se apropriar de e misturar várias linguagens – cinema, quadrinhos, música, videogame, seriados de TV e animação -, a obra representa um marco na cultura pop recente.

Retrato de uma geração – Lançado em 2004 pelo quadrinista canadense Bryan Lee O’Malley, à época com 25 anos de idade, a primeira das seis edições de Scott Pilgrim (o nome tem origem numa música da osbcura banda Plumtree) deu início à saga do jovem universitário que mora no tedioso Canadá, divide apartamento com um amigo homossexual, joga videogame, toca numa banda de rock de garagem, faz compras pela internet e não encara a vida com empolgação digna de nota – até se apaixonar perdidamente por Ramona Flowers, uma garota descolada recém-chegada de Nova York.

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Michael Cera, abre de Scott Pilgrim
Michael Cera, abre de Scott Pilgrim (VEJA)

O ponto de virada da narrativa no quadrinho acontece quando, para ficar com Ramona, Scott tem de enfrentar e derrotar os ex-namorados dela. A partir daí, as linguagens se fundem e o que era uma história de amor desenhada com influências de mangá, os quadrinhos japoneses de traço hiperbólico, ganha aspecto de videogame com as batalhas disputadas por moedinhas características dos games.

Seis anos e um milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos depois, Scott Pilgrim foi adaptado para o cinema pelo diretor Edgar Wright. Na tela, as referências se congregam de tal forma que tornam o filme um exemplar acabado do que os especialistas chamam transmídia ou multiplataforma: uma história em quadrinho que virou filme, depois base para um jogo de videogame, cujo protagonista tem uma banda de rock com músicas autorais, trilha sonora dos comerciais de TV e teasers de animação. É preciso fôlego: há muita coisa para dar conta e, provavelmente, não se aprende a lidar com tanto do dia para a noite. Sintetizar é um dos méritos da obra de O’Malley.

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Um sucesso sem receita – Para Erico Assis, o tradutor do quadrinho Scott Pilgrim no Brasil, “o diferencial de Bryan Lee O’Malley é manejar com muita habilidade narrativa, música indie, games, quadrinhos underground americanos; mangá, moda, sitcoms e comédia romântica”. Por manejar, entenda-se contar uma história em que os elementos citados por Assis se diluem naturalmente, sem parecer atochados no enredo. Um exemplo: Pilgrim faz menção ao gestual de Seinfeld quando entra em casa sob aplausos de uma claque invisível. Durante as brigas, aparecem na tela as onomatopeias características de HQ.

“O’Malley é viciado em videogame, rock e internet. Scott Pilgrim foi o modo que ele encontrou para dialogar com a própria geração. Isso faz dele o primeiro cara que cresceu mergulhado na cultura dos anos 2000 a ter uma obra bem sucedida. Ou seja, não tem receita. Ele é fruto de uma época e domina esses códigos”, teoriza o editor André Conti, responsável pela publicação da obra no Brasil.

Scott Pilgrim influencia de videogame
Scott Pilgrim influencia de videogame (VEJA)

“Dominar o código” é uma boa expressão para explicar o atônito crítico de cinema novaiorquino diante do filme, que estreia neste fim de semana no Brasil. Com informação por todos os lados e sem se preocupar com didatismo, Scott Pilgrim se alinha a filmes que historicamente resumiram uma época e definiram o que diferencia uma geração das demais.

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O paladino da crítica esbravejando contra o filme parecia só um personagem de videogame que não aceita a derrota. Como dizem os apreciadores de games, um perfect knock out: um nocaute perfeito.

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