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Salman Rushdie: ‘Versos Satânicos não seriam publicados hoje’

Para o escritor, que lança livro de memórias sobre o período em que viveu clandestino após receber ameaça de morte do Irã, mundo está cheio de medo e nervosismo

Por Da Redação
18 set 2012, 12h30

O escritor anglo-indiano Salman Rushdie lança nesta terça-feira Joseph Anton, autobiografia em que relembra os 13 anos que passou na clandestinidade por causa de Versos Satânicos, romance que, em 1989, lhe rendeu uma sentença de morte (fatwa) proferida pelo aiatolá Khomeini, do Irã.

“Seria difícil hoje publicar um livro crítico sobre o Islã hoje”, disse o escritor de 65 anos em entrevista à BBC, num momento em que os violentos protestos contra o filme americano A Inocência dos Muçulmanos se espalham pelo mundo árabe. Versos Satânicos se incluem nessa leva de livros que dificilmente viriam ao mundo hoje.

Joseph Anton leva no título o codinome de Rushdie na clandestinidade, quando ele juntou os primeiros nomes de dois de seus escritores preferidos, Joseph Conrad e Anton Tchekov. Para seus guarda-costas e para os policiais responsáveis por sua proteção, Rushdie era apenas “Joe”. O livro é uma crônica dos anos em que o autor britânico de origem indiana teve de se mudar constantemente de casas vigiadas por homens armados. Ele lembra o que escreveu em seu diário na época: “Eu estou amordaçado e preso (…) Eu quero jogar futebol com meu filho no parque. Vida comum, banal, um sonho para mim inacessível”.

Recompensa – Hoje, Rushdie vive a maior parte do tempo em Nova York. O Irã assegurou em 1998 que a fatwa não seria aplicada. Mas o sucessor de Khomeini declarou em 2005 que Rushdie era um apóstata e que poderia ser morto impunemente. E o governo do conservador Mahmoud Ahmadinejad declarou em 2007 que a fatwa ainda é válida. No domingo, uma fundação religiosa iraniana que colocou sua cabeça a prêmio aumentou para 3,3 milhões dólares a recompensa por seu assassinato, dizendo que se Rushdie tivesse sido morto antes, A Inocência dos Muçulmanos não teria sido filmado. Rushdie declarou na segunda-feira na televisão indiana NDTV que o filme era “o pior vídeo já feito”, mas que não poderia haver justificativa “para assassinato e caos”.

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As memórias contêm o relato do assassinato do tradutor japonês de Versos Satânicos e de seu colega italiano, esfaqueado em sua casa. Passagens mais leves evocam os policiais que faziam a proteção de Rushdie e de que quem ele gostava muito. Principalmente Fat Jack e Dennis, the Horse, que transgrediram regras para tornar sua prisão suportável, deixando, por exemplo, que ele fosse ao cinema, uma vez que as luzes se apagassem. Eles também levaram seu filho a um campo de esportes da polícia, formando “uma equipe improvisada de rúgbi”.

Vida pessoal – Uma vez, Fat Jack, um especialista em tiro, usou seus talentos para ganhar um urso de pelúcia para seu filho em um parque. Outro episódio: o plano sofisticado desenvolvido por seus guardas quando Rushdie teve que ir ao hospital para um tratamento dentário. “Eles tinham preparado um carro fúnebre e me transportariam anestesiado em um saco”. Mas o esquema não foi necessário. Viver na clandestinidade teve um impacto significativo sobre a sua vida familiar. Ele se separou da segunda e da terceira esposa, que admite ter traído.

O fim da fatwa em 1998 foi para ele uma vitória “na luta pelas coisas que contam”. Mas, 14 anos depois, Rushdie lamenta que os escritores que criticam o Islã ainda sejam atacados por extremistas com um “vocabulário medieval”. Segundo ele, são sempre as mesmas acusações: blasfêmia, heresia, insulto, ofensa.

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