‘Reality’ trata do embaralhamento entre realidade e ficção
Filme é estrelado por detento que faz parte de grupo teatral de presidiários
Matteo Garrone mostrou que o cinema italiano estava vivo e tinha futuro com Gomorra, Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2008. Era a história violenta e sem glamour de meninos recrutados pela Máfia em Nápoles. O tom de Reality, o filme que rodou em seguida e que também venceu o Grande Prêmio do Júri em Cannes, só que na edição deste ano, é totalmente diferente, com um quê das comédias italianas do passado e dos filmes de Federico Fellini. Mas é igualmente vivaz.
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Luciano (Aniello Arena) é dono de uma peixaria em um bairro popular da cidade, onde vive com a mulher Maria (Loredana Simioli) e três filhos em um prédio quase em ruínas – o dinheiro, ali, não sobra. É aquele tipo clássico de família italiana, barulhento, briguento e muito divertido. O patriarca adora aparecer e costuma se vestir de mulher para animar casamentos.
Quando a versão italiana do Big Brother começa a fazer a seleção para uma nova edição, Luciano acha que vai ser escolhido e começa a ficar obcecado com a ideia, apesar de não se encaixar no perfil normalmente selecionado para reality shows. As fronteiras entre a realidade e a ficção embaralham-se na vida e na cabeça do protagonista como nesses programas, em que o encenado e o documentado são misturados.
Reality fala de uma Itália em crise, em que a única saída para melhorar de vida é um caminho, digamos, alternativo. Como entrar para o Big Brother. Mais: participar de um reality é uma maneira de ficar famoso e, portanto, de existir, em um mundo cada vez mais superpovoado e despersonalizado. A fantasia chamada de “show de realidade” embaça a visão do que realmente acontece — na TV e na vida.
Garrone sabe disso. Ele filma como se os personagens estivessem em um delírio coletivo. É um contraponto e tanto em relação ao realismo cru de Gomorra, e por isso Reality surpreende quem conhece o trabalho anterior do diretor. A ressalva fica com o final: apesar de uma atuação estupenda de Aniello Arena, preso há 18 anos por assassinato e membro do grupo de teatro La Fortezza, composto por detentos, o diretor parece não saber para onde ir a partir de determinado ponto, e no fim embarca de vez na fantasia.
Reality, de Matteo Garrone*
Quarta (24), às 21h40, no Cine Sabesp
Quinta (25), às 21h30, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 3
*programação sujeita a alterações
Ingressos individuais
Segundas, terças, quartas e quintas: R$ 15 (inteira) / R$ 7,50 (meia)
Sextas, sábados e domingos: R$ 19 (inteira) / R$ 9,50 (meia)
* Para adquirir ingressos no dia da sessão, somente nas salas de cinema
* A Central da Mostra não vende ingressos avulsos, apenas os pacotes
Venda pela internet
No site Ingresso.com, o ingresso poderá ser adquirido com antecedência (de quatro dias a um dia) da sessão