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Os vazios assustadores do campo

Xavier Dolan, jovem diretor canadense, foge dos estereótipos fáceis e redundantes para construir um suspense psicológico perturbador

Por Diego Braga Norte 27 out 2013, 11h48

Com apenas 24 anos e já com quatro longas na carreira, o ator e diretor canadense Xavier Dolan é uma espécie de enfant terrible do cinema mundial. Assumidamente gay, suas obras sempre tocam na temática homossexual. Mas ele consegue fazer isso de uma maneira adulta, sem estereótipos, sentimentalismos ou autopiedade, quase sempre presentes em obras que tratam do mesmo tema. Essa maturidade precoce o levou a ser premiado logo em seu primeiro título como diretor (Eu Matei Minha Mãe) no festival de Cannes de 2009. Com apenas 20 anos ele recebeu a láurea de melhor diretor estreante.

Em seu novo trabalho como diretor e ator, Tom na Fazenda, Dolan interpreta o protagonista Tom, um jovem publicitário de Montreal que parte para uma fazenda no interior do Quebec, no Canadá francês, para ir ao enterro de um amigo e colega de trabalho. Com um cabelo estiloso, jaqueta de couro e tatuagens, o jovem urbano destoa da paisagem rural e das pessoas do campo. Tom sente-se nitidamente desconfortável hospedado na fazenda junto com a mãe e o irmão de seu falecido amigo.

Agathe (Lise Roy), a mãe, nutre grandes expectativas em relação a Tom e espera que ele faça um belo discurso e conte algumas histórias no dia do funeral. Já Francis (Pierre-Yves Cardinal), o irmão, trata Tom de maneira rude e o ameaça com frequência, fisicamente inclusive. Após o enterro, tudo o que Tom mais quer é dar o fora daquele ambiente hostil e voltar para a cidade. Porém, a família que o hospeda, aos poucos, vai conseguindo enredar o jovem publicitário, seja por manifestações de afeto ou rompantes de fúria. Francis força Tom a ficar, pois a presença do jovem da cidade alegra sua mãe. E a própria mãe, muito abalada, faz de tudo para preencher a ausência de seu filho morto. A situação chega ao limite quando Tom decide fugir e descobre que Francis tirou as rodas de seu carro para impedi-lo de ir embora.

Sem opção e isolado em uma área rural, Tom decide entrar no jogo da família. Aos poucos, vamos descobrindo que a relação de Tom com o jovem falecido era mais que uma simples amizade. E Francis, que alterna momentos de educação amável com explosões de fúria violenta, passa a gostar da companhia do publicitário da cidade grande. Ambos começam a se entender cada vez melhor e paulatinamente o bronco do interior vai revelando sua sensibilidade, como o gosto pelas música e dança de tango. A melhor convivência, no entanto, não é suficiente para Tom querer ficar e, nas brechas que a família deixa, ele tenta fugir da fazenda.

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Assim como a fazenda em que o filme se passa, a história é pontuada por amplos espaços vazios e cabe aos telespectadores ir preenchendo. Em nenhum momento é mencionada a causa da morte do amigo de Tom e pouco sabemos sobre o passado dos dois ou da família, mas em um suspense crescente o enredo vai nos fornecendo pistas do que aconteceu ou pode ter acontecido. Xavier Dolan faz de Tom na Fazenda um thriller psicológico que questiona o preconceito contra homossexuais e demonstra o medo dos gays de se assumirem perante a família e a sociedade. Convenhamos, não é fácil fazer um suspense sem a presença de serial killers e com temas tão complexos. Dolan faz e consegue agradar.

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