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‘Os gringos reconheceram a paixão e a qualidade do trabalho’, diz diretor de ‘Uma História de Amor e Fúria’

Elogiado pela imprensa americana, o longa ‘Uma História de Amor e Fúria’ já deu um passo a mais que ‘O Som ao Redor’, promessa brasileira que morreu na praia: o filme entrou para a lista dos pré-selecionados da competição e pode ser a primeira animação nacional a concorrer a uma estatueta dourada

Por Rodrigo Salem, de Los Angeles
5 jan 2014, 13h17

Na lista dos 19 semifinalistas da categoria de animação do Oscar 2014, o longa brasileiro Uma História de Amor e Fúria tem uma boa torcida para se tornar o primeiro filme nacional do gênero a disputar uma estatueta em Hollywood. Além da vitória em Annecy, festival francês que é considerado o principal na área, o longa amealha elogios da imprensa especializada americana, coisas que servem de compensação ao diretor Luiz Bolognesi. Ele esperava vender 50.000 ingressos no circuito brasileiro, mas ficou com pouco mais da metade disso, 30.000. Agora, vê a performance do longa mudar para melhor. Confira entrevista com Luiz Bolognesi:

Como você recebeu a notícia de que está entre os 19 pré-indicados ao Oscar 2014? Acho que é um feito e uma surpresa, porque o Brasil não tem a menor tradição em animação. Conseguimos isso com um grupo de moleques talentosos, que se apaixonaram pelo projeto há sete anos e nunca o largaram, apesar das dificuldades. Uma História de Amor e Fúria não era mais um “job” para esses animadores. Os gringos reconheceram essa paixão e a qualidade do trabalho. Tanto que vários se aproximam, chocados, perguntando como conseguimos fazer uma animação com tanta qualidade e com um orçamento baixíssimo.

E o que você fala para eles? Que brasileiro é um bicho criativo, que pega uma caixa de fósforos e faz samba (risos).

O desenho foi um fracasso de público no Brasil. O reconhecimento internacional compensa esse resultado frustrante no país? Por um lado, compensa. Eu esperava algo em torno de 50 000 pagantes no Brasil e admito que entrei em uma depressão com esses números. Mas o mal-estar acabou dois meses depois, quando ganhamos o Festival de Annecy. Hoje, depois de percorrer tantos festivais, ter o filme lançado em DVD e contrato de exibição assinado com a HBO, já batemos os 100 000 espectadores, 70% deles fora do Brasil. Fui para Estocolmo, Chile, México, Coreia, Japão, França… O filme voltou dos mortos.

Como o DVD está sendo recebido, com a possibilidade do Oscar? Ainda não temos números de vendas, sei apenas que ele está bombando entre os pirateiros (risos). Mas posso dizer que viramos o jogo com a pré-indicação ao Oscar. Quando Uma História de Amor e Fúria saiu nos cinemas brasileiros, começamos perdendo por 2 a 0. Agora está 5 a 2 para a gente.

O que representaria uma indicação inédita do Brasil ao Oscar de animação? Seria bom para toda a animação brasileira, porque cortaria o estranhamento do mercado internacional e nacional e abriria portas para outros projetos. Tem muita gente fazendo animação autoral.

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Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky
Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky (VEJA)

Você dedicou quase dez anos da vida a esse projeto de animação. Pensa em repetir a dose? Quando eu terminei, pensei comigo mesmo: “Nunca mais faço outro”. Foi muito difícil, quase quebrou minha produtora (Buriti Filmes, tocada em parceira com a mulher, a cineasta Laís Bodanzky). Se não fosse a Gullane Filmes, o desenho talvez não tivesse saído. Mas, quando teve a premiação em Annecy, os meninos que trabalharam comigo me ligaram e disseram: “Agora não tem jeito, você vai ter de fazer outro desenho”. Acabei mudando de ideia.

O que seria essa nova animação? Comecei a escrever o argumento há pouco tempo com um grupinho de roteiristas, porque não quero fazer sozinho. Se chamará Travellers (Viajantes) e será sobre a infância nas grandes cidades, como as crianças vivem em locais como São Paulo, Xangai ou Nova York e, ao mesmo tempo que não têm tempo para ser crianças, criam um mundo paralelo fantasioso. Será um filme para toda a família e não tão dark quanto Uma História de Amor e Fúria.

O ano de 2013 não teve grandes destaques na animação. Isso pode favorecer Uma História de Amor e Fúria na indicação ao Oscar? Sim, 2013 não foi incrível para a animação. Talvez tenha sido o primeiro ano sem uma animação entre os 100 melhores filmes da Variety. As produções americanas estão fracas, acho que a Pixar vai ficar de fora do Oscar, o que é inédito.

Quais são os grandes concorrentes? O filme de Hayao Miyazaki é barbada, mas precisamos ficar de olho na distribuidora Gkids, que tem dois filmes entre os 19 semifinalistas: Ernest and Celestine não é uma obra-prima e ainda não vi A Letter to Momo, mas precisamos respeitar. O fato de termos vencido Annecy ajuda, nos dá mais chance. É como se tivéssemos ganhado a Palma de Ouro da animação.

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A cabeça pensa na indicação de 16 de janeiro? Vamos na humildade, mas sem cabeça baixa. Se o filme for finalista, teremos de montar uma estratégia. No entanto, minha agenda está normal, preparada para não ter nada disso. Não estou em clima de “já ganhou”. Fiz dez anos de capoeira e sei que você precisa estar concentrado no jogo e não na menina da roda.

Você é um roteirista muito premiado. É diferente a sensação de receber tantos prêmios como diretor de uma animação feita quase na raça? Todo mundo investiu mais do que recebeu e é um alívio saber que o filme deu retorno. Antes de mais nada, é um alívio para a minha equipe. Imagina passar sete anos trabalhando e notar que o produto final é um mico (risos). Todo mundo me falava que o filme era sensacional, mas eu não tinha essa certeza. Eu sentia medo de ser uma vergonha nacional e ir direto para o DVD.

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