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Omar, o novo padre popstar

Pároco do Cristo Redentor é fotografado por turistas, treina atores da Globo, coordena os eventos da Arquidiocese do Rio e prepara CD de samba

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 mar 2012, 07h20

“Essa história de que o Cristo é da França é o maior caô”, diz padre Omar, em bom carioquês

No alto do Cristo Redentor, ele já é um ídolo. Na subida para chegar a uma das mais belas vistas do Rio, todos conhecem Padre Omar. “Nunca vou lá em cima, mas sempre dou a sorte de encontrar o senhor aqui”, diz a ascensorista do elevador que leva os passageiros ao Corcovado. De camisa social, de frente para estatua-símbolo da cidade, olha para o monumento com o mesmo deslumbramento de um turista. Momentos depois, envergando a batina que guarda na capela Nossa Senhora Aparecida, aos pés do Santuário do Cristo Redentor, mesmo quem não o conhece percebe que está diante do padre mais pop do Rio.

Omar Raposo é o novo nome da Igreja católica fluminense. Guardião do santuário, o pároco está envolvido em mais projetos do que parece ser humanamente possível cuidar. Sua nova preocupação é um CD com 13 músicas. Quase todas em ritmo de samba. Um clipe com Diogo Nogueira promete alavancar ainda mais a imagem do padre.

Quando não está celebrando as missas no Cristo e em uma igreja no centro da cidade, padre Omar é o coordenador de eventos da Arquidiocese do Rio, o encarregado de cuidar de toda a logística da Jornada Mundial da Juventude e o responsável por distribuir as réplicas de três metros do Cristo Redentor por todos os continentes. Uma das recompensas virá agora em março. Ele, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes vão entregar uma dessas imagens ao papa Bento XVI, em Roma. Envolvido em reuniões com integrantes da Igreja e com o secretariado do estado, sobra pouco tempo para outras atividades além da de padre. Mas padre Omar se multiplica.

Aos 32 anos, conta que engordou alguns quilos desde que ingressou na vida do celibato. E lá se vão oito anos. A vontade de tornar-se padre veio em 1997, quando viu o papa João Paulo II passar com o papamóvel pelo Rio de Janeiro. Aos 18 anos, entrou no seminário, de onde saiu ordenado em 2004. Desde então rodou por algumas igrejas até parar por seis anos na Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, onde vive até hoje – apesar de não mais celebrar missas na paróquia.

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Por ordens médicas, padre Omar teve de voltar a se exercitar. E aproveita a proximidade da praia e da Lagoa Rodrigo de Freitas para fazer caminhadas. Os momentos à beira-mar ajudam a mudar a silhueta para suportar mais duas funções: ele prepara sua estreia na PUC-Rio, lecionando uma disciplina religiosa, e planeja seu retorno ao futevôlei, nas areias da zona sul. Antes, ‘sua praia’ era o Pepê, na Barra da Tijuca.

Fotos no Cristo – Fora do ambiente da Igreja, o jeito e a forma de falar são de um carioca comum. “Essa história de que o Cristo é da França é o maior caô”, diz padre Omar, referindo-se a uma antiga polêmica sobre o verdadeiro autor do projeto da estátua – o francês Paul Landowski (1875-1961)

ou o brasileiro Heitor da Silva Costa (1873-1947). Sua relação com o Corcovado é tão grande que até o outro lado do mundo é testemunha. “Depois do Cristo, acho que sou a pessoa mais fotografada do Brasil”, brinca Omar, que já se deparou com uma imagem sua no aeroporto da Austrália, dividindo o mesmo painel com o Cristo Redentor. Quando está no santuário, ele é só sucesso. Câmeras fotográficas do mundo todo tentam enquadrá-lo. Ao caminhar pelo Corcovado com a água benta em mãos, o alvoroço é inevitável. Mas nada parecido com o dia em que o grupo Jonas Brothers esteve por lá. Adolescentes alvoroçadas chegaram a rasgar a sua batina na confusão. São os ossos do ofício de ser o padre do santuário de maior visibilidade e, justamente por isso, disputado por seus pares na Igreja.

Quem imagina ser tranquila a vida de padre certamente não conhece a rotina de Omar. “Quando saio de casa, não sei bem o que vou fazer”, conta. Além dos encontros agendados, imprevistos fazem parte do dia-a-dia. “Em um mesmo dia posso celebrar um casamento e fazer um enterro”, diz.

A batida lembra a dos artistas. E com eles Omar também tem hora marcada. Ele dá consultoria a atores da Rede Globo, quando algum deles se prepara para representar um padre nas novelas. O trabalho quase passou para além das oficinas de interpretação. Certa vez, a Igreja chegou a autorizar sua participação no último capítulo de uma delas (foram tantos convites que ele nem lembra mais dos nomes dos folhetins), mas esse, como afirma, é um tipo de fama que não interessa ao padre.

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Quando sobram algumas horas no dia, assiste aos telejornais e lê livros. Os últimos foram O livro do Boni e A Cabeça de Steve Jobs. Dos tempos em que não pensava em por a batina, não abre mão dos jogos do fluminense. E, em partidas decisivas, arruma uma vaga na agenda para viajar e ver o seu time jogar. Emociona-se sempre quando ouve um dos cantos clássicos da torcida tricolor: “A benção, João de Deus / Nosso povo te abraça…“, o hino feito para a primeira visita de João Paulo II, que o inspirou, e adotado pelo clube das Laranjeiras.

Viagem, aliás, é com ele mesmo. Sempre que possível, padre Omar dá uma escapada do Brasil para passar uma semana em Roma. Fica de olho na internet para ver os cursos de música e de comunicação oferecidos nas universidades italianas de Santa Cecília e de Santa Croce, onde costuma ir uma vez por ano. Mas nem sempre a vida de Omar foi tranquila. Ao ser ordenado padre, a primeira igreja para a qual foi enviado ficava dentro do Complexo do Alemão. E vinha à cabeça a frase que sua mãe disse quando o filho revelou que se tornaria pároco: “Seja um bom padre da enxada à embaixada”.

Mas os tempos melhoraram para padre Omar. Formado em música pelo Conservatório Brasileiro de Música, tornou, em 2012, real o sonho de gravar um CD. A obra será lançada logo depois da páscoa pela EMI e fará parte também da estratégia de divulgação da Jornada Mundial da Juventude. O produtor é o mesmo que trabalhou por 11 anos com o padre Marcelo Rossi, o maior sucesso da Igreja Católica do Brasil. Fazer sucesso na música – e em tantas outras áreas -, como bem sabe, não é fácil. Mas Omar também não tem dúvida de que o momento de embaixada chegou.

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