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Odete Roitman não desgruda de Beatriz Segall

Atriz comemora 60 anos de carreira no teatro, fala da felicidade de voltar à TV em 'Lara com Z' e critica a geração de atores que pula o aprendizado nos palcos

Por Leo Pinheiro, do Rio de Janeiro
9 Maio 2011, 18h54

Beatriz Segall chega ao Teatro Fashion Mall, na Gávea, no Rio de Janeiro, onde está em cartaz com a peça Conversando com Mamãe, e logo vai à bilheteria cumprimentar as funcionárias. “Oi, você está justificando o seu salário e vendendo bastante ingresso hoje?”, pergunta a atriz. A súplica da menina para não ser demitida, seguida de um largo sorriso, deixa claro que as brincadeiras da dama do teatro são comuns por ali. Em seguida, a atriz carrega um bolo para dar à equipe de produção sem que haja qualquer motivo especial. “Não estamos comemorando nada. Ela simplesmente faz isso para agradar a gente, ela é uma mãezona”, responde a produtora do espetáculo.

Não se pode negar que a generosidade de Beatriz na vida real e no palco, mesmo interpretando uma mãe ameaçada de despejo pelo próprio filho, surpreende os que se lembram da atriz apenas no papel daquela que é considerada a maior vilã da tevê brasileira. “Pô, eu sou muito mais que Odete Roitman. Já fiz tanta coisa, os papéis mais diversos. Eu sou uma atriz de teatro, não sou uma atriz de um papel só”, faz questão de esclarecer, empurrando para fora da cena a personagem perversa.

Como uma mãe severa, ela aconselha aos jovens atores de tevê que estudem mais a profissão. “Sem teatro não se faz boa televisão. O teatro é fundamental”, afirma convicta, declarando que o tablado é a verdadeira casa do ator e que, por isso, decidiu comemorar seus 60 anos de carreira no palco. Confira trechos da entrevista da atriz ao site de VEJA:

Como é estar de volta à Globo, em Lara com Z? A melhor coisa de Lara com Z foi o período de gravações, que foi maravilhoso. Foi um convite do Wolf Maia, muito gentil, muito interessado para eu voltar. Ele me cercou de tanto carinho que eu não tive como dizer não. Por isso eu voltei. E foi muito bom. Eu me sentia uma rainha dentro da Globo porque me trataram muito bem. Os figurinos eram ótimos, as direções, talentosas. Os dois assistentes do Wolf são extremamente promissores, logo, logo vão dirigir novela sozinhos.

Nesse tempo afastada da TV, chegou a pensar em aposentadoria? Não! Deus me livre. Quando terminei de fazer Bicho do Mato, na Record, eu pensei: “Pelo menos umas férias longas eu quero ter. Vou ter um ano sabático”. Mas depois de um ano você começa a sentir cócegas e pensa: “Eu não acabei ainda. Não dá para acabar assim”. Quando apareceram os convites de umas peças interessantes, eu fazia, e, assim, fui ficando mais no Teatro. Não estava com pressa de voltar para à televisão. Eu fiquei muito assustada depois do Bicho do Mato porque foi uma novela que eu tive muito desprazer de fazer, porque era muito ruim.

Como está a reação do público na rua com a reprise de Vale Tudo? Eu nunca fui perseguida, registre aí! Esse negócio de dizer que no tempo da Odete Roitman eu não podia andar na rua é mentira. Eu andava na maior das calmas. As pessoas me tratavam muito bem. Eu nunca fui agredida, nunca houve uma situação desagradável, não existiu nada disso. E atualmente, com a volta da Odete Roitman ao ar, as pessoas me cumprimentam mais, sorriem mais. São mais agradáveis realmente.

Então é lenda que a senhora não gosta de ser lembrada pelo papel de Odete Roitman? É claro que me dá muito prazer saber que sou muito lembrada. Mas até hoje me chamam de Odete na rua. Eu entro em uma loja e tem sempre um caixeiro para me chamar de Odete. Isso é muito chato, fica repetitivo, chega a um ponto que você não aguenta mais. Pô, eu sou muito mais que Odete Roitman. Já fiz tanta coisa, os papéis mais diversos. Eu sou uma atriz de teatro, não sou uma atriz de um papel só. A Odete já me rendeu histórias engraçadas. Teve uma vez que um ladrão veio me assaltar, mas quando ele resolveu me levar para o meu carro, eu virei, tirei o chapéu e olhei para ele; na hora que ele viu a minha cara, ele disse: “sujou, é a Odete Roitman”. Daí ele saiu correndo (risos).

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Qual é sua avaliação das novelas de hoje? Comecei a ver a novela das nove porque o Herson, que trabalha comigo aqui no teatro, está fazendo o vilão da trama maravilhosamente bem. Agora a novela deu uma melhorada, mas estava muito fraca no começo. Durante muito tempo a única coisa boa que tinha na novela eram as cenas do Herson com a Ana Beatriz Nogueira, que é maravilhosa também. Os dois é que carregavam a novela. Mas está melhorando. Ultimamente eu vi uns dois ou três capítulos que não estavam maus. Isso é a minha opinião. Não estou dizendo que o público está achando a mesma coisa, por favor registre aí. Não estou pontificando.

Por que acha que a qualidade das telenovelas não é mais a mesma? Eu acho que a falta de conhecimento, de preparo, contribui muito para a queda da qualidade da televisão brasileira. Mesmo sem a escola certos talentos sobressaem, mas seriam muito melhores se tivessem um aprendizado. Intuição é importantíssima, é indispensável para um ator, mas não é suficiente. Você tem que estudar para desenvolver os dons pessoais que você já tem e os que você adquire. Para mim o estudo, a preparação é essencial. Sem Teatro não se faz boa televisão. O Teatro é fundamental. Hoje qualquer um que faz cinco minutos de televisão é chamado de ator. No meu tempo não. Você levava muito tempo para ter coragem de preencher uma ficha, escrevendo atriz no lugar da profissão. Eu escrevia prendas domésticas, porque achava, e acho ainda, que atriz é um título para alguém que é um profissional consagrado. Eu acho muito engraçado quando essa meninada que está por aí se diz atriz. É lamentável considerar atriz alguém que apareceu no Big Brother ou é modelo. É lamentável que a televisão se preste a este tipo de jogo.

E como foi seu começo nos palcos? Ser atriz estava dentro de mim desde criança, mas isso nunca tinha vindo à tona. Até que, depois que me formei como professora de francês e já estava dando aula havia cinco anos, eu fui convidada para fazer um filme (A Beleza do Diabo, de Romain Lesage). Aquele trabalho serviu para me provar que eu ainda tinha muito a aprender. Daí eu entrei para a escola de arte dramática antes de me dizer atriz. A profissão não era nada bem vista. Meus pais queriam me obrigar a continuar professora. Meu pai ficou muito triste quando eu disse que seria atriz. Minha mãe deu apoio, suporte, até me levava aos ensaios.

Como é a mãe da peça? É uma mãe muito simples, uma pessoa muito pouco letrada, mas muito inteligente, racional e sensata. Ela é esperta. Ela conduz muito bem a relação com o filho. É uma peça para se emocionar, para rir e para chorar. Esse papel tem sido uma dádiva desde os ensaios com a Susana Garcia, mulher do Herson. Ela na verdade é uma médica, que há poucos anos resolveu experimentar ser diretora de teatro, e eu acho que o Brasil ganhou muito. Acho que a medicina perdeu e o Teatro brasileiro ganhou porque ela é uma excelente diretora. É um achado.

Serviço

Conversando com mamãe

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Teatro Fashion Mall 2 (Endereço: Estrada da Gávea, 899, 2º piso – São Conrado)

De 18 de março a 29 de maio. Sextas e sábados, 21h; domingos, 19h.

Preço: R$ 80,00 inteira; R$40,00 meia

Classificação: 14 anos

Informações: (21) 2422-9800

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