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Obras da Cidade da Música entram na reta final

Projeto iniciado na gestão Cesar Maia e duramente criticado por Eduardo Paes chega à fase de conclusão com custo total de 515 milhões de reais

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 Maio 2011, 14h26

Complexo te 12 salas de ensaio, uma sala de música de câmara, uma videoteca, três salas de cinema, uma sala de eletroacústica, um restaurante, quatro cafés, uma sala de exposição e a majestosa Grande Sala, que poderá variar de 1.250 a 1.780 lugares

Passada quase uma década de obras e muitas críticas, é chegada a hora da arrancada final para a Cidade da Música. A estrutura gigante de concreto armado no encontro das avenidas das Américas e Ayrton Senna, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, parecia congelada desde que, em 2008, o então prefeito Cesar Maia ‘pré-inaugurou’ o complexo cultural. Mas a faixa descerrada no apagar das luzes do governo teve efeito contrário. Em seu início de gestão, o prefeito Eduardo Paes não poupou críticas ao projeto milionário. Para evitar criar no imaginário da população um tributo ao antecessor e rival político, o novo alcaide deixou tudo que dizia respeito à Cidade da Música na geladeira e contratou uma auditoria, que levantou indícios de irregularidades.

Cesar Maia começou a manifestar sua intenção de construir o complexo em 2002. Um ano depois, convidou o prestigiado arquiteto francês Christian de Portzamparc, mentor da Cité de la Musique, em Paris, para criar um marco semelhante no Rio. Os gastos de da obra e as discussões sobre as prioridades do Rio fizeram Cesar Maia enfrentar uma saraivada de críticas da opinião pública e a artilharia pesada de seus opositores. A Cidade da Música, que a princípio custaria 86 milhões de reais e seria inaugurada em 2004, ficará pronta por 515 milhões de reais no começo do segundo semestre de 2011. Até 2008, foram gastos 431 milhões. Na gestão de Paes, a partir de 2009, o investimento já chegou a 42 milhões e outra parcela no mesmo valor ainda será desembolsada.

Esfriada – ou esquecida – a polêmica que sempre cercou o projeto, a gestão de Eduardo Paes retomou a Cidade da Música. Dentro das paredes angulosas cinzentas, a atividade tem sido intensa na hoje chamada Cidade das Artes. Um grupo de 700 funcionários trabalha diariamente para aprontar o espaço a uma nova inauguração – inegavelmente mais completa. Só então o monumento faraônico de 90 mil metros quadrados de área construída deverá, enfim, ganhar vida.

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Entre alguns de seus espaços, estão 12 salas de ensaio, uma sala de música de câmara, uma videoteca, três salas de cinema, uma sala de eletroacústica, um restaurante, quatro cafés, uma sala de exposição e a majestosa Grande Sala, que poderá variar de 1.250 a 1.780 lugares. “Deslumbrante”, exclama o secretário municipal de Cultura, Emilio Kalil na entrada para a Grande Sala. Antes do elogio, Kalil não deixa passar incólume os ‘jeitinhos’ arranjados para a pré-inauguração de Maia. “Esse carpete foi daquela inauguração apressada”, explicou.

Dentro dessa sala, de onde Maia discursou em 2008 sobre a importância do empreendimento, algumas obras tiveram de ser refeitas. As poltronas importadas foram todas retiradas na gestão de Paes para terminar etapas executivas que haviam sido puladas. Divergências à parte, a ordem é seguir à risca o projeto inicial. O palco, que estava fixo, será automatizado. Ele aumentará ou diminuirá de tamanho para atender às necessidades de uma ópera ou a de uma orquestra. Os quatro camarotes móveis, acionados para concertos, também estão em fase final. O acabamento do isolamento acústico está sendo feito apenas agora. Os operários também trabalham na mudança de todos os corrimãos das escadarias da Cidade das Artes, antes de madeira e agora de aço.

“É como uma mudança de casa: o pedreiro está saindo, mas não saiu”, resume Kallil. É ele, talvez, uma das pessoas mais animadas do governo com a inauguração do espaço. “Aqui, o delírio é o limite”, diz, enquanto faz uma de suas visitas à obra. No primeiro andar, ele avista o térreo, repleto de lagos: “Olha que beleza é embaixo”. O secretário imagina que o monumento vá se tornar, em uma menor escala, uma espécie de Lincoln Center, onde milhares de pessoas poderão circular diariamente.

Gastos – Na ponta do lápis, o secretário municipal de obras, Alexandre Pinto da Silva, bem menos animado, contesta a relevância da futura casa da cultura fluminense. Pelas contas dele, com os reajustes da inflação, daria para ser construída uma nova Transoeste- corredor expresso exclusivo para ônibus que está em andamento para atender às demandas dos jogos olímpicos de 2016 – cujo custo é de 800 milhões de reais.

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“Essa obra não seria feita por nós. Nossas decisões de investimento são para esporte de massa, saúde pública, transporte, educação. No momento, estamos construindo quatro arenas cariocas que levarão espetáculos mais populares à cidade”, afirma Silva. No ritmo atual da obra, ele estima que seria possível ter começado e encerrado tudo em três anos, não em nove. Mas, como a obra foi herdada pela gestão de Paes, não resta alternativa: “Se a gente não conclui, fica o governo responsabilizado pela degradação”.

Da forma que Maia entregou a Cidade das Artes, pode-se dizer que 70% estava encaminhado, sobretudo a parte estrutural. Faltava a montagem dos equipamentos e das salas. Desses 70%, Pinto acredita que 20% tiveram de ser refeitos pelas empreiteiras, como as instalações, colocadas na correria. “Nós voltamos a tocar a obra no ano passado. Estamos fazendo com a tranquilidade necessária para a execução de obras desse porte e desse nível de sofisticação. Não dá para fazer às pressas”, argumenta, sem deixar de apontar as falhas na execução do projeto ocorridas na gestão anterior.

Apesar do cuidado com a finalização da Cidade das Artes, será difícil associar o monumento ao Eduardo Paes. O prefeito mais longevo do Rio, Cesar Maia, deixou sua marca para sempre na cidade com a edificação do complexo cultural. “Ficará para a posteridade da Cidade. A polêmica foi exagerada por politicagem. É isso que gravará meu nome nela. Se tivessem inaugurado quatro meses depois (no primeiro semestre de 2009, já no governo de Paes) ninguém se lembraria da autoria”, afirma Cesar Maia, em um surto de modéstia.

Acusado de superfaturamento e de improbidade administrativa pela CPI instaurada na Câmara dos Vereadores, Maia defende o seu projeto. “E a reforma do Maracanã de um bilhão de reais? Cultura é a base da educação. Se a educação é uma prioridade, a cultura é uma preliminar. Não há ópera sem Metropolitan, não há artes plásticas sem Moma, não há artes práticas sem Louvre. O Rio em seu relançamento como cidade global requer um equipamento desta qualidade”, argumenta.

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Depois de pronta, a Cidade das Artes demandará 35 milhões de reais anuais para a manutenção. Antes disso, espera-se o fim das obras para dar início aos serviços de limpeza, checagem da segurança e últimos retoques. Em seguida, será a vez da fase de soft opening, para testar, aos poucos, o espaço – como foi feito com o Theatro Municipal do Rio, reinaugurado em etapas após a última reforma. A inauguração, de fato, está prevista para 2012, o que coincidirá com o aniversário de 10 anos da criação do monumento. “Não adianta discutir o passado. A casa está aqui e precisa ser ocupada. Abandonar seria um crime”, afirma Kalil.

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