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‘O que o Sebastião Salgado faz é heroico’, diz filho

Juliano Ribeiro Salgado codirigiu o documentário 'O Sal da Terra', exibido em mostra paralela do Festival de Cannes, com o diretor alemão Wim Wenders

Por Mariane Morisawa, de Cannes
21 Maio 2014, 22h46

“O Sebastião é muito reservado. Conta a história das pessoas, só que ninguém conta a história dele”

Quando era pequeno, Juliano Ribeiro Salgado estava acostumado a ver o pai, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, passar de seis a oito meses por ano viajando para fazer séries de fotografias que o tornaram famoso em todo o mundo, como Trabalhadores e Êxodos. Cresceram um pouco distantes, até que o filho, começando a carreira no cinema, foi convidado pelo pai para uma viagem à Floresta Amazônica. Ali começou a gênese do documentário O Sal da Terra, codirigido por Juliano e o cineasta alemão Wim Wenders, de Asas do Desejo e Pina, e exibido na mostra paralela Um Certo Olhar no 67º Festival de Cannes. O filme traz um pouco da biografia de Sebastião Salgado e as experiências que ele viveu em 40 anos de carreira. Juliano Ribeiro Salgado conversou sobre o projeto com o site de VEJA:

O cineasta Juliano Ribeiro Salgado
O cineasta Juliano Ribeiro Salgado (VEJA)

Quando foi que pensou: vou fazer um filme sobre meu pai? Na verdade, essa ideia foi crescendo com o tempo. Não imaginava que fosse fazer um filme sobre ele, pelo menos não agora, achava que ia fazer quando eu mesmo fosse um velhinho. O que aconteceu foi que o Sebastião me convidou, em fevereiro de 2009, para uma viagem no meio da Floresta Amazônica, 300 quilômetros ao norte de Santarém, em mata fechada, no território dos zoés, um povo que foi contatado 15 anos atrás. Eles ainda vivem de um modo totalmente preservado. E nós passamos lá algumas semanas.

O senhor cresceu um pouco distante do seu pai, devido ao trabalho dele. Essa viagem foi fácil? Para te falar a verdade, no início não me sentia muito seguro com a ideia de estar num lugar tão isolado, junto com meu pai, durante tanto tempo. A gente tem uma relação boa, mas o Sebastião é uma pessoa muito focada. Ele vem trabalhando há 40 anos, desde que nasci, praticamente, viajando seis, oito meses por ano. Quando ele estava em casa, continuava trabalhando muito. Nossa comunicação sempre foi boa, mas um pouco distante. Eu tive medo de que estar por tanto tempo num lugar isolado com ele não ia ser tão legal. Só que foi o contrário, foi muito bom. Junto com os zoés, que são um povo maravilhoso, calmo e simples, a gente se encontrou. E a gente se encontrou de novo quando ele viu minhas imagens. Ficou tocado com meu olhar sobre ele, rolou uma emoção entre a gente, acho que foi um dos motivadores para eu viajar de novo com ele.

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Mas como soube sobre o que o filme ia falar? Não queria que fosse sobre as viagens, tinha de ser algo complementar em relação às fotografias, senão não tinha muita razão. Desde que eu era criança, o Sebastião, ou Tião, como é chamado em casa, voltava das viagens contando mil histórias, dos encontros, das coisas que ele testemunhou, dos lugares que marcaram nossa história recente. E então eu sabia que tinha um material humano, de testemunho, de experiências que ele tinha tido que podiam ser muito ricas e que trazem um conhecimento da humanidade que os mortais comuns não têm.

E como foi que terminou codirigindo o filme com Wim Wenders? Pois é, só que alguém já tinha encontrado o Sebastião e anunciado que queria fazer um filme com ele. E esse alguém era uma das maiores figuras do cinema mundial, o cara que fez alguns dos filmes mais marcantes, como Paris, Texas, Asas do Desejo, Pina: o alemão Wim Wenders. A gente começou a conversar, ele, um gênio, eu, um jovem diretor, mas com conhecimento dessas histórias do Sebastião. E nessas conversas encontrou uma forma de contar a história do Sebastião, que podia caber no formato de um filme de cinema. Eu já tinha filmado algumas coisas, mas aí o Wim entrevistou o Sebastião, coisa que eu não podia fazer. Ele entrevistou o Sebastião de forma muito cinematográfica para contar a história de um homem que sai pelo mundo e depara com experiências cada vez mais duras e mais fortes nos últimos 40 anos. Ele tem um jeito de encontrar as pessoas muito empático e chegou um momento que ele não conseguiu enfrentar mais o mundo desse jeito, durante o genocídio em Ruanda. Nesse momento, ele não conseguia mais fotografar e teve de se reinventar, descobrir um novo jeito de fazer as coisas.

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O Sebastião topou de cara? Ou ele ficou um pouco reticente de fazer um filme que ia contar as histórias que ele viu, mas também a história dele? O Sebastião é muito reservado. Conta a história das pessoas, só que ninguém conta a história dele. Acho que era reticente. Mas desde o início, quando eu mostrava as primeiras imagens, ele se emocionava muito, então essa comunicação por meio das imagens foi acontecendo, e o filme foi acontecendo. E ele acabou se entregando, confiante, para a gente.

O trabalho do Sebastião Salgado é muito solitário, não? Pois é. O Sebastião trabalha sozinho, viaja sozinho, confronta esses lugares perigosos sozinho. De um jeito que eu, pessoalmente… O cara é meu pai, eu considero o que ele faz heróico. Tenho muita admiração. Achei que essas experiências que ele acumulou, que não passam pelas fotografias, mereciam ser compartilhadas pelo maior número de pessoas, porque há lições que nós todos podemos aproveitar.

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