Silenciosa e com lágrimas nos olhos, uma das bilheteiras vendia os últimos ingressos
Talvez até Federico Fellini ficasse impressionado com a quantidade de flashes disparados no hall de entrada do cinema Belas Artes, na região central de São Paulo, na noite da última quinta-feira. Eles quase superaram os dos paparazzis que perseguiam Marcello Mastroianni em La Dolce Vita, um dos seis filmes clássicos exibidos nas sessões derradeiras do cinema que, aos 68 anos, foi obrigado a desligar de vez os projetores.
Enquanto nas poltronas havia um misto de indignação, tristeza e esperança, na calçada, uma pequena multidão discursava contra o fechamento de um dos poucos cinemas de rua que restam na capital paulista. “Salvem o Belas Artes. Cinema já. Loja não” e “Belas Artes? Bela grana”, gritavam as faixas de protesto. Silenciosa e com lágrimas nos olhos, uma das bilheteiras vendia os últimos ingressos.
Todas as 1.040 cadeiras espalhadas pelas seis salas estavam ocupadas. Nas telas, além do clássico de Fellini, O Leopardo, de Luchino Visconti, No Tempo do Onça, de Charles Riesner, O Joelho de Claire, de Eric Rohmer, O Águia, de Clarence Brown, e Queimada, de Gillo Pontecorvo.
Antes do início das sessões, André Sturm, o homem à frente do cinema, que lutou até o último instante pela sobrevivência do espaço, entrou nas salas para avisar que aquela noite deveria se prestar a uma celebração da sétima arte.
No começo, esse estímulo funcionou. Depois de quase três horas de filme, a saída foi bem diferente. A vida real lentamente se impôs às imagens da Fontana de Trevi que agonizavam na retina. A chegada à rua trazia a certeza de que aquela fora uma última sessão de cinema.
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