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Morre Gore Vidal, crítico versátil do ‘império’ americano

Romancista, ensaísta, jornalista e dramaturgo foi autor de centenas de obras

Por Da Redação
1 ago 2012, 03h16

O romancista, ensaísta, jornalista e dramaturgo Gore Vidal, um dos mais respeitados intelectuais americanos do pós-guerra, morreu na noite desta terça-feira, aos 86 anos, em sua casa em Los Angeles. Segundo o sobrinho do escritor, Burr Steers, Vidal faleceu devido a complicações de uma pneumonia.

Polivalente, Vidal foi autor de centenas de obras, entre novelas, peças, roteiros e ensaios. Talvez o maior trabalho de sua carreira seja a grandiosa série de sete livros denominada Narrativas do Império. Escrito ao longo de 33 anos, o ciclo de novelas históricas retrata a ascensão dos Estados Unidos desde a independência até a transformação do país em uma potência hegemônica. Entre suas outras obras de destaque estão as sátiras Myra Breckenridge (1968) e Duluth (1983), o livro de memórias Palimpsesto (1995), além do romance A Cidade e o Pilar, que causou escândalo ao ser lançado em 1948 por retratar abertamente um protagonista homossexual. Vidal também escreveu o drama político The Best Man (1960), peça que teve uma trajetória de sucesso na Broadway. Como roteirista de cinema, ajudou a escrever o épico Ben-Hur (1959), estrelado por Charlton Heston.

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Gore Vidal, o cronista do Império

Livro de memórias é um baú explosivo

Ativismo – Porém, maior que a carreira de Vidal como romancista – suficiente para lhe garantir um lugar entre os maiores escritores americanos do século XX -, é a sua trajetória como ensaísta. Politizado, o escritor sempre foi visto como um pensador independente, usando sua prosa elegante e erudita, embora também ácida, para opinar sobre um vasto leque de assuntos: religião, homossexualidade, filosofia, crítica literária, entre outros. Sua veia política acabou levando-o a se candidatar a uma vaga no Congresso americano em 1960 pelo Partido Democrata. Acabou derrotado e optou por se concentrar na literatura. “Os escritores mostram a verdade como a veem. Os políticos nunca abrem o jogo de fato. É impossível ser as duas coisas. Eu obviamente nasci escritor”, confessou em uma entrevista a VEJA em 2000.

Crítico ferrenho de valores considerados caros aos americanos, como o patriotismo e o cristianismo, Vidal se opôs às guerras do Vietnã e do Iraque e irritou os conservadores de seu país ao apregoar o “fim da civilização americana” – corrompida pela influência das grandes corporações e da indústria bélica. Na última década, voltou sua artilharia para a administração de George W. Bush, chamando o ex-presidente de “o homem mais estúpido dos Estados Unidos”. Apesar de não poupar os democratas de sua língua (ou caneta) afiada – Vidal considerava os dois grandes partidos dos EUA lados diferentes de uma mesma moeda -, tinha ligações históricas com o partido de Barack Obama. Seu avô, Thomas Gore, foi senador democrata por Oklahoma entre 1907 e 1921. Vidal também era irmão de criação de Jacqueline Kennedy, amigo íntimo da primeira-dama Eleanor Roosevelt e primo distante do ex-presidente Jimmy Carter e do ex-candidato à Presidência Al Gore – a quem Vidal teceu o seguinte ‘elogio’ em entrevista a VEJA: “Num sistema completamente corrupto, sua inteligência ocasionalmente brilha na escuridão”.

Contemporâneo de Truman Capote e Norman Mailer, Vidal também gozava do status de escritor-celebridade nos Estados Unidos. Entre seu círculo de amigos – e rivais – estavam John Kennedy, Jack Kerouac, Tennesse Williams, Orson Welles, Paul Newman, Frank Sinatra e Marlon Brando. Era figura frequente em programas de rádio e televisão e um nome conhecido até para aqueles que não estavam familiarizados com sua obra – mais do que um intelectual, se tornou uma personalidade de destaque nos EUA. Recentemente, dublou a si mesmo em participações especiais nos desenhos Os Simpsons e Uma Família da Pesada.

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Ricardo Setti: O dia em que entrevistei o grande escritor Gore Vidal

Trajetória – Nascido Eugene Luther Gore Vidal Jr. em 3 de outubro de 1925, na Academia Militar de West Point, no estado de Nova York, o intelectual era um filho da elite econômica e política dos Estados Unidos. Seu pai havia sido jogador de futebol americano e basquete na juventude, antes de se transformar em um dos pioneiros da aviação comercial americana – fundou três companhias aéreas, entre elas a que viria a ser a TWA (adquirida em 2001 pela American Airlines) e foi diretor do Departamento de Comércio Aéreo dos EUA durante o governo do presidente Franklin D. Roosevelt. Já a mãe de Vidal, Nina Gore, era filha do senador Thomas Gore, foi atriz da Broadway e socialite. Os dois se divorciaram quando ele tinha 10 anos de idade.

Vidal passou a infância na capital Washington, mas por um breve período foi estudar na França, de onde voltou após o início da II Guerra Mundial. Na adolescência, o escritor estudou na Academia Phillips Exeter, um colégio particular de elite em New Hampshire. Aos 18 anos, preferiu se alistar no Exército a entrar para a Universidade de Harvard. Serviu durante a II Guerra nas Ilhas Aleutas, onde coletaria o material para escrever Williwaw, seu primeiro romance. Em 1946, saiu do Exército e nos dois anos seguintes viveu em Antigua, na Guatemala, onde escreveu Em um Bosque Amarelo e A Cidade e o Pilar. Em seguida, foi morar em Nova York para se firmar como escritor profissional. No período pós-guerra, ficou amigo da autora francesa Anaïs Nin e do grande dramaturgo americano Tennessee Williams.

Orgulhoso de seus “milhares” de casos amorosos com homens e mulheres ao logo da vida, Gore Vidal passou cinco décadas ao lado de seu companheiro Howard Austen, que conheceu nos anos 1950, quando Austen era um estudante recém-formado de apenas 21 anos. Com ele, viveu muitos anos entre a Califórnia e sua villa no sul da Itália, até se mudar definitivamente para Los Angeles em 2003, quando o namorado de longa data morreu, aos 74 anos.

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