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Marília Carneiro explica o processo de construção dos visuais de ‘Ti-ti-ti’

Figurinista da Globo desde 1973, ela inventou o look das meias de lurex de 'Dancing Days' e promete mais modismos para a novela das sete, que estreia hoje

Por Milene Chaves
19 jul 2010, 18h17

Marília Carneiro é a famosa figurinista da rede Globo. Famosa porque, além de trabalhar na emissora há 37 anos, ela assina a criação de muitos “modismos de novela” – uma categoria específica da moda nacional, feita de peças de roupa, maquiagem, cabelos e acessórios que aparecem na telinha e, como mágica, multiplicam-se nos corpos de gente como a gente pelas ruas do Brasil. Um exemplo basta: é dela o look com meias de lurex coloridas, combinadas com sandálias de salto alto, usadas em 1978 por Sônia Braga em Dancing Days.

De figurino de novela, portanto, Marília entende. É por isso que a ela foi dada a missão Ti-ti-ti, remake da trama de 1985. “Existe uma expectativa muito grande. Minhas assistentes dizem que estão loucas para ver a novela estrear para que eu volte a trabalhar, pois não paro de dar entrevistas”, disse Marília por telefone, do seu acervo no Projac, no Rio de Janeiro.

A expectativa chama a atenção. Veículos de internet especializados em celebridades, jornais de circulação nacional e programas de variedades na TV aberta e a cabo colocaram não os famosos do elenco, mas o figurino deles, na pauta. O que torna a tarefa da figurinista ainda maior. “Em 1985, as coisas não tinham apelo de moda como têm hoje. Tentar adiantar algum modismo de fora, que não tenha chegado aqui ainda, é mais difícil hoje”.

O resultado do desafio se mostra nesta segunda-feira, quando estreia a novela, das 19h. Na entrevista a seguir, Marília fala de seu ofício e de como construiu o visual dos personagens principais da trama.

Como se pensa em um figurino de novela?

Lendo a sinopse, em primeiro lugar. A fulana é pobre, classe média, classe alta? E aí se vai pensando nos detalhes, buscando referências. Uma tia pão-dura, por exemplo, como ela se veste? Às vezes a gente pensa até no signo que a personagem teria, ou no perfume que ela usaria. Não existe método. O físico do ator pode me inspirar. A Malu (Mader) tem pernas lindas, a Guilhermina Guinle tem costas ótimas.

Quem foi uma referência importante para Ti-ti-ti?

Nesta novela eu estudei muito a Anna Wintour (diretora da revista Vogue americana, ela inspirou o papel de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada). Precisava entender sua motivação, seu trabalho. Ela não serve de referência para nenhum personagem em especial, mas o ambiente é muito rico, dá a sensação de poder e riqueza que a moda costuma transmitir. É bom para saber do que se está falando pois, de 1985 pra cá, a moda virou um verdadeiro negócio. Na primeira Ti-ti-ti, poucas pessoas tinham acesso à moda. Hoje, não. Ainda que a moda carioca fosse famosa – Gregorio Faganello e Marco Rica “aconteciam” naquela época -, hoje eu tenho um leque de estilistas muito maior.

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A equipe é formada por quantas pessoas?

Sou eu, a Lucia Daddario, que é figurinista também, mais seis assistentes e, pela primeira vez, uma consultora de moda, a estilista Eliza Conde. Ela desenvolve produtos que não têm dentro de nenhuma loja. Eu era avessa a fazer roupa, porque não tinha muito tempo, não sei modelagem, os assistentes não sabem costurar. Mas com a Eliza aqui, já fizemos desde trench coat até jaquetinha de couro. Agora, por exemplo, está saindo um blazer de seda preto, sem forro, molenga, para a Claudia Raia. A Globo tem um departamento de costura enorme, especializado em vestidos de época ou em roupas para caracterizar personagens cômicos do Zorra Total, por exemplo. Mas um ateliê como esse, é a primeira vez que fazemos aqui.

Algum artista se opõe a vestir algo?

É difícil. Nesse ponto, nós já conversamos tanto a respeito dos meandros da personalidade do personagem que fica difícil alguém dizer não. Vou colocando o ator de cúmplice.

As roupas usadas são compradas?

As roupas que vêm da loja, nós compramos com uma verba chamada “de implantação”. Depois, há outra de “manutenção”. De quanto é? Ah, não posso dizer. Para uma pessoa, é muita coisa. Mas para vestir 70 atores, não é. Não falta nada, mas não é nenhuma fortuna.

Esta Ti-ti-ti vai lançar moda?

Vai ter modismo para se fartar! Mas uma peça só acontece se o personagem acontecer. Não adianta colocar uma roupa esplendorosa se o personagem for rejeitado. Espero que a Malu seja a porta-voz dos principais modismos.

RAIO-X: como foram pensados os personagens principais de Ti-ti-ti

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Jacques Leclair (Alexandre Borges)

“Ele é lânguido, magro e com cabelo alisado com escova, como o do costureiro Dener. Leva uma pitada de Karl Lagerfeld, com seus babados e óculos escuros. Ele é pomposo, de gosto duvidoso, vive num ambiente nouveau riche. Adota um festival de mau gosto, como os tecidos com brilho, e arrojos absurdos, como um colete xadrez, usado com lenço de flor e paletó de listras.”

Victor Valentim (Murilo Benício)

“Ele diz que vem da Espanha, fala um portunhol de doer no ouvido. A inspiração é espanhola, com uma maquiagem de John Galliano (estilista inglês, responsável pela maison Christian Dior, famoso por vestir figurinos-fantasia) – a barbicha e o bigodinho dele, por exemplo.”

Ariclenes (Murilo Benício)

“Eu o vejo meio como Jerry Lewis, com roupa de quem não quer nada. Ele anda de ônibus, não tem um centavo no bolso. A roupa precisa ser velha e neutra. Para ele, comprei muito em brechó coisas dos anos 1960 e 1970. Usa casaquinhos do tempo do onça.”

Jaqueline (Claudia Raia)

“A biografia dela é peculiar. Sua mãe a perdeu em Woodstock. Ela teve banda de rock e pichou muro, mas tem olho pra moda, vai consertar os excessos de Leclair. Ela tem informação; vai para o estádio de futebol com casaco de grife, mas amarra uma bandeira na cabeça. Sua referência é a (marca francesa de luxo) Lanvin, com muitos drapeados, tecidos fluidos e bijuterias grandes.”

Rebeca (Christiane Torloni)

“É o avesso da Jaqueline. Pensei na Jackie Kennedy. Ela é comedida nas cores e formas. É minimalista, nunca coloca uma joia.”

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Suzana (Malu Mader)

“Editora-chefe da revista de moda da novela. Sustenta o ex-marido, é antenadérrima, mas mais sóbria do que a Jaqueline. Carine Roitfeld (diretora da Vogue Paris) é a sua referência. Acho ela bem mais interessante do que a concorrente, Anna Wintour. Faz uma mistura corajosa de lantejoula “de tia” com jeans e casaqueto Chanel. Vai ter a ponta do cabelo pintada de claro.”

Bruna (Giulia Gam)

“É uma figura bem Gilberto Braga; uma mulher elegante, educada, contida, sóbria. Usa marrons, beges e pérolas. É absolutamente clássica.”

Luísa (Guilhermina Guinle)

“Dona de uma agência de modelos, tem o cabelo bastante fashion, meio moicano. As tendências militares estão todas com ela, os decotes nas costas. Não pensei em ninguém para construir este figurino; ela foi nascendo.”

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