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Ivete Sangalo: ‘Sou uma pessoa muito sexual. Se rolar todo dia, estamos aí’

Cantora brinca com os boatos sobre sua sexualidade e diz que "o máximo que fez com mulher" foi beijar Hebe Camargo

Por Alvaro Leme
27 nov 2013, 11h24

Num ano em que uma extensa lista de famosos decidiu assumir sua homossexualidade, proliferaram especulações sobre celebridades prestes a sair do armário. Ivete Sangalo, com sua voz grave e sua capacidade de encantar homens e mulheres mundo afora, claro, entrou na bolsa de apostas e boatos, particularmente depois da revelação feita pela também baiana Daniela Mercury, que assumiu seu romance e oficializou a união com uma mulher. Em entrevista ao site de VEJA, Ivete fala de sua relação com o dinheiro, a família, a fama e Claudia Leitte, em quem enxerga sua influência musical. Não há inimizade, assegura. Mas a relação não vai além do respeito. No próximo dia 14, em Salvador, a cantora viverá um momento especial da carreira, com a comemoração de seus 20 anos de estrada – apresentação que dará origem a um DVD. Confira os principais trechos da conversa:

O tipo de música que a senhora faz é considerado menor pela crítica, apesar de popular. O que acha disso?

Como artista, seria uma bobagem eu discutir isso. O axé é para quem gosta de axé, entende? Não vou a um show de metal para ficar com cara feia dizendo que os caras estão gritando e quebrando guitarra cara. É quase ridículo eu falar isso, mas é verdade. Minha música vai chegar a quem gosta. Você não chega a uma loja e o cara está com uma arma na mão mandando alguém comprar. O público tem direito de gostar do que quiser. Isso não me incomoda. Mesmo. Tem gente que fala que não gosta da minha música, mas me adora.

Isso deve incomodar.

Eu acho é bom, sabia? A pessoa que vem me dizer que está feliz pelo meu sucesso, mas que prefere me ver conversando em vez de cantando, não vai mudar nada. Eu sei o que sou e o que eu faço.

A senhora diria que é a maior cantora do Brasil?

Nunca. Nenhuma de nós pode se autodeclarar a maior, porque é o público que determina. Acho que canto direito, sim. E hoje minha voz está mais rouca, mais madura. Eu canto achando que estou arrasando. Entro no palco para arrasar, sempre. Nunca fiz aula, é muito visceral meu modo de cantar. E o tipo de voz que tenho, contralto, é mais difícil de encontrar.

Existe amizade entre as cantoras baianas ou querem todas ver as colegas pelas costas?

Nem uma coisa, nem outra. As pessoas sentem um prazer estranho em torcer para que saia briga entre Daniela Mercury, Claudia Leitte e eu. É sempre alguém cutucando atrás de uma picuinha, o que é constrangedor para todas nós responder. A gente vai dizer o quê? Que se ama loucamente? Não. É uma relação de respeito, mas não posso dizer que telefonamos umas para as outras para bater papo. Quero que apareça alguém capaz de pontuar uma única situação em que me estranhei com Daniela ou Claudia, um olhar atravessado que seja. Agora, há cantoras que são amigas de frequentar minha casa, como Margareth Menezes e outras que não são do axé, como Solange, do Aviões do Forró, e Vanessa da Mata.

Considera que Claudia Leitte imita a senhora?

Acho que ela tem uma influência fortíssima minha. Agora, dizer que imita, não. Nem permito que meus amigos e família falem esse tipo de coisa. Mantemos respeito. Claudia é uma artista. Para ela, sendo artista, ter o objetivo de me copiar seria péssimo. Já falei a ela e falo a quem perguntar: ela sofre influência minha, mas apenas porque sou a cantora que, quando ela estourou, estava mais em evidência, era a mais próxima da realidade dela. Tem coisas dela que gosto, ouço e canto no trio elétrico.

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Em que momento da sua carreira percebeu que havia se tornado muito famosa?

Comecei a entender que era uma pessoa conhecida na Banda Eva. Você não sabe como é ser um artista famoso. Você não sabe. Não sabe. Até a hora que vira uma. Um dia encontrei uma pessoa que participou de um reality show em busca de fama, mas estava aterrorizada agora que todo mundo a conhecia. Acontece que essa escolha não é um jogo que você brinca e decide sair depois que acaba. Se eu dissesse hoje que vou largar a carreira, passaria ainda trinta anos sendo famosa. Entende? Então não é uma coisa boba, não.

A senhora se deslumbrou com a fama?

Cresci ouvindo meus pais repetirem que toda pessoa tem sua importância e considero que isso ajudou a não tirar o pé do chão, apesar de ganhar a vida mandando as pessoas fazerem exatamente isso. Gosto sempre de lembrar que, se estivéssemos num navio afundando, ninguém morreria no meu lugar pelo fato de eu ser famosa. E é bem fácil se perder, porque é um universo fora da realidade a bajulação, o assédio, a vontade das pessoas de estar perto de você. Agora mesmo, enquanto conversamos, tem maquiador, stylist, produtor e cabeleireiro a postos para me atender. É o tipo de coisa que mexe com a cabeça das pessoas. Por isso que artista é muito ensimesmado, achamos que as pessoas estão sempre falando da gente.

Como assim?

Artista acha que qualquer coisa que fizer vão reparar, o que até é verdade em alguns casos e situações. Mas o que acontece é que a gente exagera a importância que tem na vida das pessoas. Todo mundo já tem um instinto de brilhar, e é só você olhar o Instagram para confirmar isso. Pode até ser que a pessoa gaste meia hora do dia dela pensando naquele famoso, mas o artista costuma pensar que foi o dia inteiro. Por outro lado, existe gente que gasta tempo falando coisas sobre nós. Se eu fosse me preocupar com isso, poderia fazer um dossiê enorme.

Então vamos às coisas que as pessoas falam a seu respeito. Que a Xuxa é sua namorada, por exemplo.

Hummm, quem me dera. Moderna. Não namoramos, não. A gente é muito amiga. Eu poderia até namorar se eu fosse lésbica. Se eu gostasse de mulher, ela já teria recebido uma cantada. Paquerei meu marido fervorosamente, olhares sensuais, misteriosos até conseguir o meu objetivo. Não sou homossexual.

O Brasil não terá uma surpresa com Ivete Sangalo como teve com Daniela?

A surpresa mesmo foi para o público, não para a vida dela. Não vou ficar aqui dizendo a você o que sou ou não. Mas, até onde sei, minha predileção é por homens. Nunca fiquei com mulher, apesar de ter sido cantada muitas vezes. Aliás, acho ótimo quando acontece. O máximo que fiz com mulher foi beijar Hebe Camargo, a mais linda que conheci. Vou ter essa lembrança sempre na minha vida. E dei selinho, de brincadeira também, em Mônica Iozzi, do CQC.

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Também dizem que buscar Dalila é um código para buscar cocaína.

Oi? Por que, você já mandou buscar a sua assim? Ô, meu Deus, coitado de Carlinhos Brown, autor da música, que é tão careta. A verdade é que qualquer um pode atribuir música a qualquer coisa, não é? Isso aí é folclore. São elucubrações carnavalescas. O cara está tão doido que manda buscar uma Dalila. Eu não gravei com essa intenção.

Há quem atribua sua eletricidade no palco ao uso massivo de cocaína. A senhora usa drogas?

Aí eu falo de uma forma bem rigorosa: não uso, não gosto, não gosto do ambiente delas. Deus me defenda. Cansei de ouvir história de que o enfermeiro que é amigo da vizinha da prima de alguém me atendeu num hospital com overdose. Parte do meu público é adolescente, e tenho medo que eles achem que preciso disso para fazer o que faço no palco. Não preciso estar drogada. Não poderia ter 20 anos de estrada com esse vigor se usasse droga. Não dá, não tem condição. Perco noites apenas fazendo show, exceto por isso, não é em noitada. É vendo filme com meu marido ou com meu filho. Não bebo, não fumo. Tomo uma taça de vinho e já é demais, porque odeio aquela sensação de delay, de velocidade alterada do álcool. Nunca nem experimentei drogas. Isso pode soar cafona, mas eu nunca vi cocaína. Convivi com pessoas que usam, vi com boca travada, pó no nariz, coisa que me deprime demais. Agora, a droga, eu não vi. Tenho um pouco de medo. Uma vez estava fazendo uma festa de final de ano, havia vários artistas, eu estava dividindo camarim com uma galera e uma rapaziada convocou para cheirar. Fiquei quietinha no meu canto, me sentindo uma menina desprotegida. Não tenho relação nenhuma com droga.

O governador do Ceará, Cid Gomes, foi investigado por ter pago 650.000 reais à senhora pela inauguração de um hospital na cidade de Sobral. Muito dinheiro, não?

É a média do meu cachê. Não vou ficar discutindo por que cobro isso, mas é um valor proporcional à dedicação que tenho com meu trabalho, acrescida de um pequeno plus. Eu trabalho muito. Tenho meu mérito.

Ainda assim, é bastante dinheiro. As pessoas questionam se o governo não deveria ter gasto com melhorias para a população. O que pensa a respeito?

É duro responder isso, mas meu papel é fazer show. Essa é minha responsabilidade: chegar no horário, entrar no palco com tudo, atender a imprensa e receber os fãs. Pensar no que é feito com o dinheiro público tem que ser preocupação dos governantes, assim como dar escola, segurança e saúde. Não faço nada que não seja através do meu trabalho. Não tenho peso na consciência por isso, nem receio de responder as coisas, mesmo porque não fiz nada de ilegal. Dentro da lei eu posso ser contratada por prefeituras para fazer show? Sim, e já fiz muitos. Agora, se não pudesse na lei eu nem faria, porque tenho pavor de canalhice. Claro, por ser conhecida posso ecoar causas bacanas, e faço isso. Dou assistência a mulheres no interior da Bahia que não sabiam nem sequer o que era a palavra ginecologista. Não faço para que ecoe ou para minha imagem.

Como é sua relação com dinheiro?

Hoje é mais tranquila. Vivi uma euforia de dinheiro porque, quando comecei a carreira, não tinha nenhum. Comecei a ganhar e gastei bastante até que uma hora me estabilizei financeiramente e a euforia acabou. Não invisto em boi, como muita gente, mas em terrenos. Uso o mesmo carro há quatro anos. É muito ou pouco tempo sem trocar?

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Muito. Principalmente para quem ganha 650.000 reais por show.

Pois eu não tenho nem vontade de trocar. Compro joia, roupa, mas sem exagero. De uns anos para cá, passei a ponderar antes de comprar. Como qualquer mulher, sou louca por bolsa, mas não tenho paciência de carregar. Na hora que estou na loja e me imagino com aquele peso nas mãos, acabo desistindo. Sapatos, tenho muitos. Mais que qualquer outra coisa. Como não uso o tanto que poderia, fico culpada de gastar dinheiro se não dou conta dos que tenho. Tenho que lembrar de trocar de bolsa, senão uso a mesma a vida inteira.

Há dois anos, a senhora afastou seu irmão do comando de sua empresa, a Caco de Telha. Por quê?

Decidi cuidar eu mesma dos meus negócios. Apenas isso.

Seu irmão desviou dinheiro seu?

Ele nunca fez isso. Não fez nada disso. Começamos a discordar sobre o modo de tocar os negócios e, quando você trabalha com alguém por quinze anos, essas divergências se tornam pesadas a ponto de um não querer ouvir a opinião do outro. Por exemplo: a quantidade de gente trabalhando. Antes, mesmo que tivesse uma pessoa na empresa capaz de trocar uma lâmpada, acabávamos contratando um terceiro para isso. Isso não é roubo, mas é uma forma de burlar, como se eu fosse cantar num show e fizesse playback. Fiz um eletrochoque de gestão, reduzi em 50% a quantidade de funcionários. Assumi uma postura de menos pessoas na empresa. Como muitos eram da família, muitos parentes saíram. O objetivo não é manter a família trabalhando, é manter a empresa funcionando.

Quem da sua família ainda está na empresa?

Minha irmã, Cintia, que divide a administração comigo e com meu empresário, Fábio Almeida. Aprendi a tocar minha carreira em duas frentes: uma lúdica, outra prática. Ou seja: tem a parte gostosa de escolher música, me emocionar gravando, conhecer outros artistas e pensar nos shows, mas agora não descuido do lado chato, burocrático. Agora analiso gráfico, planilha, ainda que a administração seja em parceria com minha irmã, Cintia, e meu empresário, Fabio Almeida. Faço duas reuniões toda semana.

Como é a relação com seu irmão. Vocês ainda se falam?

Sim. Só não temos uma relação de trabalho. E, por causa disso, não temos uma relação tão intensa quanto antes. Aí vão me perguntar por que isso. Porque eu quis assim. Fizemos um acordo e paguei a ele uma quantia que não vou comentar. Ponha aí que paguei dois chicletes e um mingau.

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A senhora faz quantos shows por mês?

Em média, oito a dez. Desde que optei por ter um avião próprio, há dez anos, isso facilitou muito a minha vida. Porque não escolhi isso por luxo, mas porque evitava que eu ficasse exausta. Eu preciso estar inteira para fazer os shows que gosto. Chego aos lugares disposta a fazer o melhor show da minha vida. Como volto para casa sempre, acabo passando mais tempo com meu filho do que meu marido, que trabalha muito fora. Sou uma mãe presente.

Tem vontade de ter mais filhos?

Toda a vontade. Estamos tentando sempre. Sou uma pessoa muito sexual. Se rolar todo dia, estamos aí para qualquer negócio. Meu marido (o nutricionista Daniel Cady) é doze anos mais novo que eu, mas a gente nem se lembra disso. No começo, eu estranhava a diferença de idade, mas hoje acho que ele é duas vezes mais velho que eu. Ele é espírito velho. Sem contar que meu marido é um gato.

E a senhora, se considera uma gata?

Eu me considero. Eu me acho incrível, bicho. Isso é um problema sério que eu tenho. Mas eu me acho mesmo, sacou? Sou uma mulher muito saudável. Eu gosto de mim. Não sou aquela pessoa descontente com nada. Quando digo me acho incrível é porque está tudo certo. Não acordo e fico pensando que queria ter o corpo assim ou assado. Qualquer mulher se cobra, mas você não pode ser refém de você mesma. Tem aquela celulite, o peito não é mais o mesmo… Você se chatear porque você viu algo que alguém não viu. Eu tenho uma barriguinha, o que vou fazer? Não vou pirar, desculpa. Como minha saladinha com salmão, frango, mas a vida tem outros valores.

Já fez plástica?

Coloquei peito, mas não sei nem o quanto coloquei.

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