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Em Tropa de Elite 2 os políticos são o grande inimigo da sociedade

Filme que estreia este fim de semana volta suas armas contra as milícias e expõe a ligação entre os políticos e o novo crime organizado

Por Rodrigo Levino, de Paulínia
6 out 2010, 04h18

Calcado na realidade recente do Rio de Janeiro, em que traficantes foram expulsos lentamente dos seus postos de comando nos morros para dar lugar a policiais corruptos que eliminaram os atravessadores e preencheram a vaga de um Estado ausente, o filme é ainda mais violento, embora menos impactante

O êxito de um produto pop pode ser medido, dentre outras coisas, pelo modo como se entranha no cotidiano das pessoas. Nesse quesito, Tropa de Elite foi aprovado com louvor. Bordões e gestos saíram da tela para as ruas na esteira do sucesso do filme que levou 2,5 milhões de espectadores aos cinemas, foi assistido por outros 10 milhões em cópias piratas de uma versão bruta vazada antes do lançamento oficial e levantou inflamados debates sobre o caráter político do truculento Capitão Nascimento (Wagner Moura), alçado à condição de herói nacional.

O filme também pôs holofotes sobre José Padilha, um diretor que não faz uso do escapismo dos que alegam “não ter nada para dizer além do que está na obra”. Padilha fala no filme e fora dele, sobre cinema, violência urbana, segurança pública, política partidária e é uma das vozes conscienciosas da sociedade brasileira.

Tanto estofo serviu para alimentar a expectativa do público desde que foi anunciada a continuação do título, ainda mais cercada de sigilo para que, ao contrário do primeiro, não chegasse aos camelôs antes dos cinemas.

Tropa de Elite 2 foi exibido pela primeira vez e sob forte esquema de segurança nesta terça-feira (05), em Paulínia-SP. Em resumo, o agora Tenente-Coronel Nascimento permanece no posto de herói, embora usando métodos e trilhando caminhos diversos daqueles que o marcaram, três anos atrás. Mas há outras minúcias a serem tratadas.

Se na estreia da saga o inimigo óbvio era o tráfico de drogas, combatido com vigor pelo supertreinado BOPE (Batalhão de Operações Especiais), o oponente em Tropa de Elite 2 é difuso e, como um polvo, alastra seus tentáculos pelo estado.

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Calcado na realidade recente do Rio de Janeiro, em que traficantes foram expulsos lentamente dos seus postos de comando nos morros para dar lugar a policiais corruptos que eliminaram os atravessadores e preencheram a vaga de um estado ausente, o filme é ainda mais violento, embora menos impactante.

“O sistema” a que tanto se refere Nascimento, sub-secretário de segurança do Rio de Janeiro, separado e pai de um adolescente de 16 anos com quem tem sérias dificuldades de relacionamento, começa no chefe de milícia da comunidade, passa pela imprensa sensacionalista ou omissa e ancora na política partidária. O tripé se retroalimenta. A manutenção da impunidade e do jogo de interesses fisiologistas rende audiência para um, votos para outros e dinheiro sujo para todos.

Mas há inimigos demais para enfrentar. O protagonista vacila diante deles e descreve em tantos pormenores essa rede que chega a soar didático. Repetem-se – sob aplausos da plateia – tapas, esbregues, tortura, tiros e execuções, mas é no ponto de inflexão do personagem, quando ele se alinha ao discurso de defesa dos direitos humanos e constata que a máquina de guerra azeitada com tanto zelo por ele alimentou empreitadas políticas alheias à sua vontade, que reside a grande questão do filme.

É em Fraga (Irandhir Santos numa atuação consagradora), um ativista de discurso enfadonho, que Nascimento encontra suporte para golpear mortalmente “o sistema”. Não sem antes penar com as consequências do desleixo que dedica à vida pessoal, e com as escolhas equivocadas que por pouco não fazem dele mais um cooptado pela máquina de moer caráter da banda podre do estado.

Depois de acostumar o público com sua ideologia na ponta da pistola, cumprindo a missão recebida e pedindo, aos berros, a saída de qualquer frouxo da tropa, Nascimento se mostra agora melancólico, por vezes impotente e sentindo o peso das responsabilidades de pai e figura pública exposta a interesses que já não controla. De certa maneira, capitula diante do ideário que sempre condenou.

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O que José Padilha faz ao construir a saga do personagem é cinema de primeira linha, inclusive realçando o abrandamento de postura, livrando-o de uma tediosa existência linear, que no caso do Capitão Nascimento era pontuada por solavancos. Tanto talento, vibrante na tela, quase se perde pela reflexão política indignada que embora sirva bem aos nossos tempos, se torna rasa como um sobrevoo publicitário sobre o Congresso Nacional, enquanto a voz do narrador acusa o topo da pirâmide do tal “sistema”.

Para quem vivia sob a égide do “faca na caveira, pancada na vagabundagem”, o protagonista abre o flanco para um mea culpa ao trocar a ação pelo discurso. A conclusão vai de cada espectador. Mas há um sentimento inescapável: é um baita anticlímax.

Assista ao trailer oficial do filme

https://youtube.com/watch?v=u5SBB4M3oTQ

Saiba mais

O prólogo de Tropa de Elite 2 é explosivo. Os primeiros 15 minutos de filme, quando são apresentados os principais personagens em meio a uma rebelião no presídio de Bangu I, liderada por Beirada (Seu Jorge), tiram o fôlego do espectador. A tensão é elevada com a presença de Fraga (Irandhir Santos), inicialmente um arquinimigo do Coronel Nascimento, que mais tarde se revelerá essencial para a sua luta contra a corrupção e o crime organizado. É nesse primeiro terço da filmagem que sabemos que Matias (André Ramiro) é que representa o BOPE na rua, já que Nascimento, por uma série de circunstâncias, alça voos cada vez maiores dentro da hierarquia da polícia. A partir daí, segue a montagem de um grande esquema de milícia, baseado em exemplos reais do Rio de Janeiro, entremeado de dilemas pessoais que marcam sobremaneira a vida e a postura profissional de Nascimento.

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