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Em Frankfurt, escritor chinês xinga Mo Yan e o classifica como “intelectual do regime”

Liao Yiwu repudiou a entrega do prêmio Nobel de Literatura ao seu conterrâneo

Por Da Redação
12 out 2012, 19h42

O escritor chinês Liao Yiwu, famoso pelo poema premonitório Massacre, escrito um dia antes da violenta repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989, atacou nesta sexta-feira o Prêmio Nobel de Literatura 2012, seu compatriota Mo Yan, qualificado como “canalha” e “intelectual do regime”.

“Mo Yan há poucos meses organizou um ato com 100 escritores no qual cada um deles transcreveu um texto de Mao como mostra de fidelidade ao regime. Isso já nos dá uma ideia do personagem em questão. Trata-se de um canalha”, afirmou Liao em visita à Feira do Livro de Frankfurt.

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No próximo domingo, Liao receberá o Prêmio da Paz dos Livreiros Alemães por seu trabalho contra a repressão na China, que já lhe rendeu quatro anos de prisão e o exílio em Berlim. Liao Yiwu se considera o extremo oposto de Mo Yan. “A China é uma ditadura, e um escritor não pode deixar de lado a questão moral”, completou Liao.

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O escritor dissidente soube que Mo Yan recebeu o Nobel de Literatura quando já estava no trem que o levaria de Berlim a Frankfurt, o que o fez lembrar de outra situação similar quando, na primeira vez que esteve na Alemanha e no mesmo trajeto ferroviário, soube do Prêmio Nobel da Paz dado a Liu Xiaobo em 2010. “Daquela vez, eu e meus amigos ficamos muito contentes. Era um prêmio que fortalecia a luta pela justiça na China e nos fazia acreditar que havia um sistema de valores universal”, declarou Liao.

“A situação é parecida, mas Mo Yan é visto por todos os que lutam contra a opressão na China como um intelectual do regime. O prêmio agora nos faz pensar que o sistema de valores do Ocidente é muito difuso.”

Na China, o Nobel de Literatura 2012 respondeu nesta sexta-feira aos críticos pedindo que leiam seus livros e vejam que foram escritos “sob uma grande pressão”. De fato, Mo Yan tem boas relações com as autoridades chinesas. Mas em 2008, ao jornal espanhol El País, ele deu a dica de como dizer o que pensa sem sofrer perseguição: “Ainda há coisas que não podem ser ditas de forma direta, embora a situação seja melhor do que no passado. E um bom escritor sabe encontrar a melhor maneira de contar o que deseja”. Sobre Liu Xiaobo, que cumpre pena de 11 anos, Mo Yan disse torcer para que o opositor alcance sua liberdade “o mais cedo possível”.

Luta pela liberdade – Liao passou a ser perseguido pelo governo chinês em 3 de junho de 1989, quando escreveu Massacre, uma premonição da tragédia ocorrida no dia seguinte em Pequim. “Nessa época, eu era um poeta e, politicamente, um anarquista. Ao ver que os tanques seguiam em direção à praça, fiquei tão irritado que tive que me expressar.”

Por causa deste mesmo poema, Liao passou quatro anos preso, experiência que relatou em livro. O regime expropriou seus manuscritos em duas ocasiões e, por isso, o livro teve que ser escrito três vezes. “Tirei força para escrever o livro três vezes dos medos que sentia. A prisão é uma experiência que transforma as pessoas em animais e, somente através da escrita, eu poderia me libertar disso.”

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Após deixar a prisão, Liao, que também é músico, percorreu a China e contou o que viu em vários livros que, segundo ele, refletem uma “China invisível” que pouco tem a ver com o país oficial.

Essa outra China e a lembrança do massacre da Praça da Paz Celestial são os dois eixos das preocupações de Liao. “O massacre está vivo na lembrança de muitos.” No entanto, não existe uma discussão pública na China pelo tema. “Até 1989, sonhávamos com a democracia. Mas, desde o massacre, muitos não fazem outra coisa a não ser pensar em dinheiro.”

Atualmente, o escritor chinês não espera muito da política e diz que, independente do sistema vigente, todo intelectual deve manter uma posição distante, mas continua confiando em seus leitores e na sociedade civil. “Acredito em um sistema de valores que é universal e, por isso, meus livros seguirão vivos”, declarou Liao, que não pensa em visitar as editoras chinesas que estão na Feira de Frankfurt. “Os que estão aqui não me interessam. São os representantes da cultura oficial do regime.”

(Com Agência EFE)

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