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Christopher Hitchens: o Reinaldo Azevedo deles

Por Da Redação
16 dez 2011, 11h15

Para os leitores do site de VEJA, talvez seja este o modo mais fácil de descrever o jornalista inglês Christopher Hitchens, morto nesta quinta-feira, aos 62 anos, das complicações acarretadas por um câncer: ele foi o Reinaldo Azevedo deles (sendo “eles” tanto os ingleses quanto os americanos, uma vez que Hitchens vivia desde 1981 nos Estados Unidos). Como o Reinaldo aqui do site, Hitchens era prolífico, polêmico, temível no combate – “um dos retóricos mais aterrorizantes que o mundo já viu”, na descrição de seu amigo romancista Martin Amis. Guiava-se por princípios e era incansável em sua defesa, em textos que combinavam de modo desconcertante lógica ferrenha e humor desbragado.

Também é possível descrever Hitchens como um herdeiro de Mark Twain, o clássico americano. Em 1888, Twain fez a seguinte defesa do jornalismo, atividade que exerceu por toda a vida: “Nosso ofício é útil… Ele tem um propósito sério, um alvo, uma especialidade que se mantém constante – a ridicularização de fraudes, a denúncia de falsidades pretensiosas, a aniquilação de superstições estúpidas por meio do riso.” Hitchens rezava pela mesma cartilha.

Ao longo de sua carreira, Hitchens exercitou a reportagem – deixou notáveis relatos de viagens ao Kurdistão, ao Iraque, ao Afeganistão, entre outros lugares – tanto quanto a resenha e a crítica cultural. Seus trabalhos mais célebres são as invectivas contra a religião (nisto ele estava em desacordo com Reinaldo Azevedo) e contra aqueles que adotaram uma posição ambígua diante dos atentados contra as Torres Gêmeas. Na primeira frente, Hitchens escreveu o best seller Deus Não é Grande, expondo as bases do seu ateísmo, e um ensaio cortante contra a Madre Teresa de Calcutá, recolhido no livro Amor, Pobreza e Guerra. Esse livro também traz alguns de seus ensaios mais importantes sobre o mundo pós-11 de Setembro. Hitchens foi muito vilipendiado pela intelectualidade de esquerda por apoiar a invasão do Iraque, em 2003. Mas ele estava convicto de que, naquele momento, uma resposta do Ocidente ao Islã radical era indispensável. Para Hitchens, os agentes de Bin Laden eram “niilistas em guerra contra a cultura como um todo”.

Hitchens, que abusou por toda a vida do cigarro e do álcool – sabe disso quem o viu numa passagem pela Festa Literária de Paraty, anos atrás – descobriu no ano passado que tinha câncer no esôfago. A doença progrediu rápido. Um de seus últimos textos, publicado na revista Vanity Fair, relata um tratamento avançado que fez no Anderson Cancer Center de Houston: um bombardeamento com prótons realizado ao longo de um mês. “É provavelmente uma benção que a dor seja impossível de descrever de memória”, disse ele sobre a experiência. Foi uma cepa resistente de bactéria causadora de pneumonia, adquirida durante o tratamento, que acabou por matar Hitchens.

No ano passado, o autor publicou uma autobiografia, Hitch-22, na qual escreveu que “gostaria de ‘fazer’ a morte de forma ativa, e não passiva”. Nos últimos meses, fez questão de dizer que a perspectiva da morte não o havia feito mudar de ideia sobre o ateísmo – agradecendo no entanto aos cristãos preocupados que lhe desejaram uma conversão de última hora.

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