Cartas inéditas ligam J.D. Salinger ao protagonista de ‘O Apanhador no Campo de Centeio’
A correspondência, trocada entre o autor americano e uma moça canadense de 1941 a 1943, ficou guardada por 70 anos. Nos textos, Salinger flerta com leitora e mostra personalidade semelhante à de seu personagem mais conhecido
A correspondência foi guardada em uma caixa de sapatos até 2007 pela canadense Marjorie Sheard, quando ela, então com 89 anos, mudou-se para uma clínica de repouso. As cartas passaram aos cuidados de um parente da canadense, mas com o aumento de seus gastos na clínica, a família decidiu vendê-las para um museu
Uma série de nove cartas escritas pelo autor americano J.D. Salinger foi descoberta recentemente pela Morgan Library & Museum, de Nova York, e seu conteúdo divulgado ao jornal The New York Times. Segundo artigo da publicação, as mensagens mostram um rapaz divertido, inclusive parecido com o protagonista de seu livro mais conhecido, O Apanhador no Campo de Centeio, Holden Caulfield.
A correspondência foi trocada entre 1941 e 1943 por ele e Marjorie Sheard, uma moça canadense aspirante a escritora que costumava ler os contos de Salinger publicados em revistas como Esquire e Collier’s. Ela havia procurado o rapaz em busca de dicas, que ele ofereceu prontamente, indicando revistas literárias de pequeno porte que poderiam se interessar pelos escritos de Marjorie.
As conversas giravam em torno de leituras que ele recomendava, como O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e de seus próprios escritos. Ele cita histórias em que trabalhava na época, algumas, inclusive, que não conseguia terminar. “Ele ainda estava no começo da carreira, mas sua voz já estava lá”, disse o curador da Morgan Declan Kiely ao New York Times.
O escritor, que viveu recluso e sempre se esquivou de exposições na mídia, mostrou um lado mais leve de sua personalidade. Ele chegou a flertar com Marjorie em algumas cartas, como na que pede para a moça lhe enviar uma foto sua, para que ele pudesse conferir sua aparência. Apesar de pedir desculpas pela inconveniência na mensagem seguinte, quando a canadense lhe manda uma imagem, ele responde: “Garota furtiva, você é bonita”.
A correspondência foi guardada em uma caixa de sapatos até 2007 por Marjorie, quando ela, então com 89 anos, mudou-se para uma clínica de repouso. As cartas ficaram com um parente da canadense, mas com o aumento de seus gastos na clínica, a família decidiu vendê-las para a biblioteca e museu, que já exibe parte da correspondência de Salinger. O valor pago pela Morgan à família de Marjorie, hoje com 95 anos, não foi divulgado.
A sobrinha da canadense, Liza Sheard, afirmou em entrevista ao jornal americano que as cartas tinham grande valor sentimental, principalmente porque sua tia nunca publicou algo que escreveu e passou toda a vida como dona de casa. “Parece uma fantasia”, disse ela. “As cartas mostram uma jovem mulher que escreveu para um famoso e fala com ele como se eles fossem iguais.”