Convidado de honra na Feira do Livro de Frankfurt em 2013, o Brasil apresentou nesta quinta-feira seu programa para o evento, com destaque para a diversidade criativa do país. “Um lugar cheio de vozes e de permanente recriação cultural”, foi um dos lemas em que o presidente do Comitê Organizador, Galeno Amorin, mais insistiu durante a apresentação.
No total, devem ser investidos 10 milhões de euros (quase 13 milhões de dólares ou cerca de 26 milhões de reais) no programa e o Ministério de Cultura do Brasil quer destinar mais 35 milhões (cerca de 45 milhões de dólares ou 90 milhões de reais) até o ano de 2020 para que o trabalho de divulgação da cultura do país tenha continuidade depois da feira. “A Feira de Frankfurt de 2013 deve ser só o começo”, disse Amorin.
A ideia da diversidade esteve presente no ato desta quinta até nas bolsas dadas como brinde aos presentes ao encontro, que podiam escolher entre cinco cores. “Aprendi nestes dias que o Brasil é como um caleidoscópio multicor”, disse o diretor da Feira do Livro de Frankfurt, Jürgen Boos. No evento de 2013, o país será representado por cerca de 70 autores, cujos nomes ainda não foram divulgados, mas que deverão provir de diferentes regiões e cultivar diversos gêneros.
Inclusive, o plano do comitê organizador é que também participem da feira autores de livros técnicos e científicos. A seleção dos 70 autores estará a cargo de um grupo de trabalho formado pelo crítico Manuel de Costa Pinto, a professora de literatura Maria Antonieta Cunha e Antonio Martinelli, em representação do Ministério das Relações Exteriores. “O grupo apresentará em breve os critérios de seleção que devem ser os mais transparentes possíveis. Em todo caso, não me desagradaria que a lista suscitasse uma polêmica similar às convocações para a seleção de futebol, porque isso mostraria que a literatura tem a mesma importância”, disse Amorin.
Para a atual edição da Feira de Frankfurt, se deslocaram nove escritores, entre os quais se destaca Milton Hatoum, que participará no domingo na cerimônia na qual a Nova Zelândia entregará ao Brasil simbolicamente o rolo no qual a cada ano é inscrito um fragmento de uma obra clássica do país convidado. O Brasil, no entanto, não quis escolher apenas um texto clássico. Como “país cheio de vozes”, decidiu fazer uma seleção de frases de diversos autores representativos que vão desde clássicos de Machado de Assis até autores mais recentes como Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Também há clássicos do Modernismo como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Haroldo de Campos.
“Somos cheios de vozes que em muitos casos mal cabem em nossa voz. Só a antropofagia nos une”, começa o texto que o Brasil escreverá no rolo. A frase final vem de Oswald de Andrade, fundador do chamado movimento antropofágico que via a cultura brasileira como resultado de um ato de canibalismo cultural, que consistia em devorar, assimilar e digerir outras culturas.
Amorin disse que, embora a imprensa internacional costume registrar com admiração o crescimento econômico do Brasil, a percepção das transformações culturais que houve no país nas últimas três décadas é pequena. Para ele, ainda se tende a pensar no Brasil em termos de estereótipos, como samba, praia e futebol, mas a literatura é um “bom meio para relativizar esses estereótipos”.
“Nos anos 1960 e 70, se deu o ‘boom’ da literatura latino-americana e alguns brasileiros como Clarice Lispector e Guimarães Rosa foram beneficiados. Mas em geral foi um ‘boom’ da literatura escrita em espanhol’, disse Amorin. “Na Feira de Frankfurt de 2013, podemos começar a corrigir esse desequilíbrio”, acrescentou.
(Com agência EFE)