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A vida de Norman Mailer contada por sua última casa

Apartamento em NY reúne quinquilharias que alimentavam o gosto do escritor pelas experiências que a vida tem a oferecer

Por Joseph Berger, The New York Times
30 Maio 2011, 08h14

Entre os móveis, fotografias e quinquilharias que lotam o curioso apartamento de Norman Mailer em Brooklyn Heights (NY), o visitante pode ter uma noção do apetite voraz do escritor pela colcha de retalhos de experiências que a vida tem a oferecer.

Existe um “button” da quixotesca campanha de Mailer à prefeitura de Nova York em 1969, no qual se lê “Eu dormiria melhor se Norman Mailer fosse prefeito”. A foto original, enquadrada, tirada por Milton H. Greene das pernas de Marilyn Monroe, uma obsessão do escritor e tema de dois livros afetuosos. E uma fotografia de Mailer lutando com José Torres, campeão dos meio-pesados. Torres ensinou Mailer a boxear sob a condição de que este o ensinasse a escrever.

O versátil Mailer morreu em 2007 aos 84 anos. Norris Church, sua esposa durante 27 anos, morreu em novembro passado, aos 61 anos. Seu filho Michael, uma das nove crianças que o escritor teve ou adotou com as seis mulheres com quem se casou, tomou conta do apartamento, estranho cruzamento entre a sala de visitas vitoriana e a cabine de um veleiro.

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Michael e seus oito irmãos colocaram o apartamento, no quarto andar de uma cooperativa habitacional, com vista para o calçadão, a Estátua da Liberdade e o porto, enquadrando a paisagem da Baixa Manhattan, à venda por 2,5 milhões de dólares, pretendendo dividir o dinheiro apurado. Eles ainda não decidiram o que fazer com os móveis, livros e bibelôs, mas provavelmente vão dividi-los. Michael Mailer disse que eles podem aceitar ofertas por alguns pertences de alguém que, por exemplo, planeje criar um Museu Norman Mailer.

“É complicado vender um apartamento de família, porque existem muitas lembranças. Muitos de nós não estamos nem um pouco entusiasmados em vendê-lo. É um lugar incomum e somente alguém com uma sensibilidade e estilos particulares compraria. Se for para uma família, não é muito prático. É um lugar perigoso.”

Michael, 47 anos, produtor de cinema, se encarregou de mostrar o apartamento a visitantes, o que exige subir em escadas náuticas, bravos parapeitos estreitos bem em cima da sala de estar e caminhar numa prancha para embarque e desembarque para ver o “ninho do corvo”, onde Mailer escrevia. “O papai gostava de uma visão enquanto escrevia.” Norman Mailer quebrou o telhado de arenito pardo para criar uma aventura náutica de vários andares não apenas para seus filhos brincarem, mas também porque o escritor, filho das calçadas do Brooklyn, havia se transformado num marinheiro apaixonado.

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Enquanto conduz o passeio, Michael conta histórias sobre os objetos. Ele se lembra de como o pai – que escreveu um livro sobre a luta no Congo (então conhecido como Zaire), em 1974, entre Muhammad Ali e George Foreman – lhe deu um par de luvas de boxe quando ele tinha seis anos e, depois, pediu a Torres para lhe ensinar a lutar. “Ele achava que faria bem se eu desenvolvesse autoconfiança física.”

Michael aprendeu tão bem que seus colegas de escola em Provincetown, Massachusetts, “pararam de pegar no pé” e, quando aluno de Harvard, chegou às quartas de final da competição amadora Golden Gloves em Lowell, Massachusetts, cidade retratada recentemente no filme O Vencedor. Mais tarde, Mailer levou Michael para ser seu colega de treinamento na Gramercy Gym, em Manhattan. “Meu pai costumava falar: ‘Se eu soubesse lutar boxe do jeito que escrevo, seria campeão mundial dos pesos pesados’.”

O apartamento tem a jukebox Wurlitzer que Norman Mailer deu à esposa em 1979, quatro anos depois de se conhecerem enquanto ele fazia uma turnê de divulgação no Arkansas. Ela cresceu adorando jukeboxes de restaurantes no Arkansas e esta máquina está cheia de músicas de country e western. Mas também existem gravações sugerindo que Mailer estava bancando o Pigmalião e queria que ela gostasse de canções como Chattanooga Choo Choo, de Glenn Miller, e Ain’t Misbehavin’, de Fats Waller.

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Escrevendo sete horas por dia e levando a vida que teve, ele também se ausentava bastante. Norman disse ao filho em seus últimos anos: “Eu não poderia ser o escritor que sou hoje e ser um pai melhor para você”. O filho respondeu: “Sempre preferi a qualidade à quantidade.”

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