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A mulher que transcendeu o século XVII através da arte

Após mais de três séculos, a italiana Artemisia Gentileschi, única representante feminina conhecida da arte barroca, tem pela primeira vez sua obra completa reunida numa exposição que segue até janeiro no Palazzo Reale, em Milão

Por Da Redação
27 nov 2011, 08h31

A pintora Artemisia Gentileschi (1593-1653) foi uma das primeiras mulheres historicamente reconhecidas por desbravar com seus pincéis o mundo até pouco tempo essencialmente masculino da arte. Ao contrário do que indica o final da história, sua trajetória não foi de glória, porém. Única representante feminina do barroco do século XVII, a filha do artista Orazio Gentileschi esperou mais de três séculos por seu reconhecimento. Acuada pela cultura patriarcal de sua época, ela teve muitas de suas obras creditadas a artistas do período – todos do sexo masculino. Só recentemente essas obras extraviadas foram identificadas como de Artemisia Gentileschi, e reunidas às demais criações da artista na primeira mostra a exibir toda a sua prpdução. A exposição História de uma Paixão, em cartaz desde setembro no Palazzo Reale de Milão, oferece até 22 de janeiro um vislumbre das telas e desenhos, além de documentos históricos inéditos da pintora.

Sua obra prima por retratar figuras religiosas e históricas, temas considerados inadequados para uma mulher. Adepta da técnica chiaroscuro – o contraste entre luz e sombra -, Artemisia é considerada uma das principais responsáveis pela difusão do estilo de pintura renascentista.

O simples fato de ser mulher definiu sua trajetória de uma maneira impensável nos dias de hoje. Pertencer ao gênero feminino foi capaz de afastá-la dos estudos. Artemisia não aprendeu a ler nem escrever e saó aprendeu a pintar porque o pai lhe ensinou. Quando completou 18 anos, Orazio Gentileschi designou ao parceiro Agostino Tassi a tarefa de ensiná-la a técnica da perspectiva. O mentor aproveitou um momento a só com a jovem e a violentou sexualmente. Artemisia guardou segredo sobre o ataque porque Tassi lhe prometeu casamento. Mas os abusos sexuais se tornaram frequentes e a jovem acabou por denunciá-lo à Justiça.

O julgamento, que foi realizado em 1612 e durou sete meses, teve grande repercussão. Para defender-se das acusações de abuso sexual, Tassi alegou que Artemisia era uma artista sem talento e, por isso, queria vingar-se dele. O fato, porém, de já ter sido acusado de violentar sua cunhada e de ter participado da morte de sua mulher pesou para a condenação de Tassi, que cumpriu apenas quatro meses dos cinco previstos no exílio de Roma, graças à influência política que tinha. Artemisia, por sua vez, foi acusada de não ser virgem no momento do estupro e teve que passar por um exame para concluir a quanto tempo ela havia sido deflorada.

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O episódio marcou profundamente a artista. Prova disso é a tela Giuditta che Decapita Oloferne, pintada logo após o julgamento. A cena sombria retrata a passagem bíblica em que a viúva Judite, com a ajuda de uma criada, decapita o capitão Holofernes para salvar o povo de Betúlia da invasão assíria. Em outra tela, Giuditta con la sua Ancella, Judite aparece com uma espada em punho e a cabeça de Oloferne num cesto. Representações pictóricas de mulheres em luta contra a dominação masculina passaram a ser uma constante em sua obra.

Na idade adulta, Artemisia casou-se e foi morar em Florença, onde teve seu primeiro filho. Em 1616, ela foi uma das primeiras mulheres a integrar o time de artistas da Academia de Design de Florença, em 1616. A vida de mulher casada não agradou a Artemisia, que deixou o marido após alguns anos. Seu talento artístico garantiu o suporte do mecenas Grand Duque Cosimo II, integrante da influente família Medici.

As circunstâncias sobre sua morte são desconhecidas. Esse é o motivo pelo qual os historiadores acreditam que Artemisia pode ter cometido suicídio. Um final não menos misterioso que a sua trajetória, impensável para uma mulher do século XVII.

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