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‘Vivemos o maior estelionato político-eleitoral da história’

Para o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), quadro de 'impeachment' já tem grande apoio e crise econômica ainda não chegou ao ápice

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 set 2015, 17h18

‘O PT tem a característica de responder sempre com jargões, frases de efeito e palavras de ordem como se fosse política estudantil’

Líder do Democratas na Câmara dos Deputados, o pernambucano Mendonça Filho foi um dos signatários de um pedido para que Eduardo Cunha (PMDB) apresentasse logo o roteiro para a tramitação de pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Mendonça lembra que o Partidos dos Trabalhadores que hoje acusa a oposição de golpismo endossou atos para tentar tirar os ex-presidentes Itamar Franco, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso do poder. “A presidente não tem moral para falar em golpe já que o legado do PT sempre foi de utilização, até de forma banal, do instrumento do impeachment“, diz. Leia a entrevista ao site de VEJA.

O senhor defende a saída da presidente. A renúncia seria a solução? A renúncia é uma questão de vontade pessoal. Ninguém pode obrigar alguém a renunciar. Mas o quadro do país se agrava a cada instante. A ingovernabilidade, que é uma realidade percebida por qualquer pessoa que acompanha a política brasileira, pode levar à renúncia, mas vai depender de uma questão de ordem pessoal. A maior dificuldade para que isso aconteça é o temperamento dela e a imagem de uma pessoa que não se dobra. Mas ninguém está falando da inflexibilidade de convicções. Estamos falando de uma nação que está sofrendo, que está sem um líder com credibilidade, que está sem caminhos e sem alternativas para um horizonte de médio prazo, de três anos. Imaginar que o país vai viver uma situação de permanente crise política e institucional por conta de uma inflexibilidade pessoal, é difícil encarar isso como uma coisa natural. Qualquer pessoa sensata, em uma situação como esta, levado ao limite desta crise e ao impasse permanente, renunciaria porque seria um bem para democracia, um bem para o país.

E o impeachment? Impulsiona-se cada vez mais a alternativa do impeachment. É uma decisão do Congresso. Do ponto de vista político, o impeachment é a saída, o instrumento que se tem para uma crise como esta, muito embora eu veja que é uma saída traumática, dura, difícil, que não é levada adiante de forma muito fácil. Tanto é que boa parte dos agentes econômicos que fazem cálculos falavam que o caminho há dois, três meses, mesmo com pedaladas e crimes praticados e com conexões possíveis da Lava Jato com a campanha presidencial, era melhor administrar a crise. Agora já houve uma mudança desse contexto e o quadro de impeachment já tem grande apoio.

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Qual o ‘prazo de validade’ desse governo? Qualquer pessoa sensata e que conheça um pouco de política percebe que as dificuldades são enormes para o governo, que não tem liderança e não tem agenda para o país. O vai e vem de propostas apresentadas e retiradas, os avanços e recuos com a CPMF, com as alíquotas de Imposto de Renda, com os números do Orçamento, tudo isso agrava a situação e nos leva à conclusão de que esse ambiente tende a se complicar, porque a crise econômica ainda não chegou ao seu ápice.

A crise vai piorar? Vai piorar, claramente. A inflação está 9,5%, o desemprego é crescente e deve se agravar, a arrecadação está caindo e a recessão está aumentando. Parte dos que foram os primeiros prejudicados pela crise econômica ainda estão vivendo do ciclo final do seguro-desemprego e não terão mais direito ao benefício. A política do governo também está excluindo beneficiários do Bolsa Família. Esse pessoal que se satisfazia com a remuneração do Bolsa Família vai começar a procurar emprego e não vai encontrar. Com a crise longe do fim, a tensão social tende a aumentar, trazendo uma grande e grave repercussão no meio político.

A proposição do impeachment não desrespeita o resultado das urnas? O PT sempre responder aos desafios com frases de efeito e palavras de ordem, como se fosse política estudantil. Ela repete esse mantra de que impeachment é golpe e desrespeita as urnas como se o mantra, por si só, tivesse o poder de alinhar a opinião pública com as suas posições. Mas essa tese não se sustenta. Primeiro porque o impeachment é um instrumento democrático. Ele á duro e radical, raramente aplicado nas democracias presidencialistas como a brasileira, mas é, sim, aplicável. É um processo de julgamento político e jurídico pelo Parlamento. O impeachment já foi tentado, por ironia do destino e contrariando as teses petistas, pelo próprio Partido dos Trabalhadores, cujo líder na época, Jaques Wagner, protocolou uma representação por crime de responsabilidade contra o então presidente Itamar Franco. Antes disso, houve o episódio de Collor, contra quem o PT protagonizou discursos inflamados. E hoje Collor é o fiel escudeiro do governo no Senado Federal. Também o PT, já no governo Fernando Henrique, chegou a protocolar pedido de impeachment pelas mãos de José Genoino, José Dirceu, Luiza Erundina e Miro Teixeira. Por tudo isso, a presidente não tem moral para falar em golpe, já que o legado do PT sempre foi de utilização, até de forma banal, do instrumento do impeachment. Dilma, por outro lado, cometeu o maior estelionato político-eleitoral da história do Brasil, com 40 bilhões de reais de pedaladas fiscais realizadas para ganhar a eleição. Isso se comprova com a atitude atual do governo de reduzir programas sociais. Já tivemos governadores cassados pelo TSE por causa de programas sociais lançados em ano de eleição. Ela infla programas sociais com fins eleitorais e imagina que isso não vai dar em nada.

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Mesmo na oposição, contudo, ainda há quem resista ao impeachment. Para mim, o argumento já está dado. O Tribunal de Contas da União condenou o governo no caso das pedaladas fiscais e essa condenação já foi publicada em acórdão. A única coisa que falta julgar são as contas de 2014. As contas são o todo e as pedaladas são parte, mas as contas têm uma simbologia política brutal, porque reconfirmam o que já foi sentenciado pelo TCU. E no caso das contas, a decisão do tribunal é de opinião técnica. Quem faz o julgamento é o Congresso Nacional. Ainda temos os elementos de delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato, porque a campanha dela recebeu dinheiro do esquema da Petrobras, de desvios da estatal. Isso também tem que ser apurado. Governadores foram cassados por muito menos. Se fosse um prefeito ou um governador de um estado periférico, não tinha escapatória. Numa democracia madura, Dilma não tinha chegado sequer ao dia da eleição. Haveria uma mobilização e seria insustentável a posição dela.

O ex-presidente Lula agora vai viajar pelo país para tentar reverter o quadro de crise política. Isso ajuda? Acho que o ex-presidente Lula quer é salvar a sua biografia. Ele sabe que em algum momento atuou para se distanciar da presidente Dilma e dizer ‘toma que o filho é teu’. Depois, viu que ele afundaria junto com o PT e com Dilma. Ele está afundando. Estão todos no mesmo barco. Dilma era considerada o Lula de saias. Seu mandato tinha a missão de tomar todas as instituições por dentro, de desmontar as engrenagens democráticas que o Brasil construiu com tanto custo. Agora, Lula se vê obrigado a ir para a linha de frente e vai enfrentar pela primeira vez na vida um ambiente político de grande adversidade no qual a sua retórica demagógica não vai fazer mais eco. O que vai falar mais alto é a simbologia da corrupção, muito clara para o povo. E o peso da crise econômica, gerada pela incompetência e irresponsabilidade dos governos petistas.

Se a presidente Dilma deixar o poder, acha que o PMDB deve coordenar um governo de transição? Evidentemente que uma saída para uma crise como esta exige unidade e união para se ter uma agenda para a frente, para o futuro do país. Ninguém pode simplesmente buscar uma saída para a crise, que é o impeachment, ou uma eventual renúncia da presidente Dilma, e depois dizer que não tem compromisso e que só terá compromisso com o Brasil em 2018. Mas não gostaria de fazer esse debate agora porque acho que o que deve atrair os esforços agora não é a composição de um futuro governo. A gente tem que buscar agora é uma saída para a crise. E uma saída para a crise é tirar o PT do poder.

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Com a situação econômica se agravando e o dólar batendo recordes sucessivos, o pacote fiscal com a volta da CPMF será aprovado no Congresso? O pacote fiscal já fracassou. Tudo que significar aumento de imposto não passa, ainda mais em um governo sem credibilidade como o governo da presidente Dilma. A CPMF não passará. Não tem ambiente nem espaço político para a CPMF passar e os governadores não terão força para ajudar. A crise fiscal permanece. O governo precisa cortar na carne, reduzir ministérios, reduzir o número de cargos comissionados, fundir empresas, privatizar empresas, diminuir o número de agências reguladoras e tirar o aparelhamento petista que existe dentro delas.

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