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Viúva de Santiago Andrade tentou convencê-lo a mudar de profissão: ‘Mas era o sonho dele’

Corpo do cinegrafista é velado no Rio por amigos, familiares e colegas de profissão, que vestem camiseta onde se lê: 'Poderia ter sido um de nós'

Por Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
13 fev 2014, 09h16

(Atualizado às 13h)

Santiago Andrade morreu realizando um sonho. Ele sempre quis ser repórter cinematográfico, gostava mesmo da ação. E apesar dos apelos da mulher para que procurasse uma profissão mais tranquila, ele nunca desistiu de fazer o que realmente gostava. “Eu pedia para ele procurar uma atividade mais leve, mas este era seu grande sonho. Ele respondia: ‘Gosto de tiro, porrada e bomba'”, contou Arlita Andrade, que nesta quinta-feira vela o corpo do seu grande amor. Foram trinta anos de vida juntos, expressados na camiseta que ela vestia, onde se lê: “Santiago, sempre te amarei”.

Muito emocionada, Arlita comentou com os jornalistas as circunstâncias da morte do marido, atingido por um rojão na cabeça durante um protesto no Centro do Rio de Janeiro. O aumento da violência, lembrou ela, era uma preocupação constante de Santiago Andrade. “Tenho pena desses dois rapazes. Faltou amor na vida deles”, disse, referindo-se a Fábio Raposo e Caio Silva de Souza, presos por acender o artefato que matou o cinegrafista. Para evitar outras tragédias, ela fez um apelo à população: “Por favor, sejam mais amigos, mais tranquilos e tenham amor um pelo outro”.

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O corpo de Santiago Andrade foi velado no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária da capital. Familiares chegaram ao local, pouco depois das 8h, vestindo camisa do Flamengo, time do coração dele. Uma bandeira do clube também cobria o caixão, que ainda tinha um tripé com uma câmera em miniatura. Dezenas de pessoas, entre parentes, amigos e colegas de trabalho, acompanharam o velório, que foi fechado ao público às 11h, para uma cerimônia reservada da família, antes da cremação. O cinegrafista teve morte cerebral anunciada na segunda e parte de seus órgãos – coração, fígado, rins e pulmões – foram doados. Ele deixa a mulher, uma filha e três enteados.

Colegas – Alguns jornalistas fizeram uma camiseta estilizada, com os dizeres: “Poderia ter sido um de nós”. Vanessa, a filha do cinegrafista que emocionou o país ao relatar o momento de despedida que teve com o pai, cobrou mais segurança para os jornalistas no trabalho, especialmente os da emissora que Santiago trabalhava. O diretor nacional de jornalismo da Band, Fernando Mitre, disse que o momento é de indignação, mas também de reflexão. “É preciso rever toda a nossa cobertura jornalística”, comentou, alertando que mudanças são necessárias também na legislação, que precisa ser mais rigorosa.

Ao fim do velório, um grupo de cinegrafistas de outras empresas abordou o presidente da TV Bandeirantes no Rio, Daruiz Paranhos, para cobrar a contratação de auxiliares de motoristas. O cinegrafista Daniel Andrade reiterou a diferença que faria na cobertura a presença de um auxiliar e lembrou que Santiago era tão cauteloso ao ponto de citar que o zoom da câmara era um recurso para acompanhar conflitos à distância. Na cobertura em que foi atingido pelo rojão, Santiago estava sem auxiliar e também acumulava a função de dirigir o carro de reportagem. Aos cinegrafistas, Paranhos disse desconhecer que faltavam auxiliares de cinegrafista.

Santiago era um homem precavido, sabia que era essencial em casa, com a família, contam os colegas da Band. Mas nem todo o cuidado o livrou de ser atingido pelas costas por um morteiro acionado pelos manifestantes. “Se ele soubesse que estava na linha de tiro, jamais teria ficado lá. Era muito cauteloso, dizia que não estava ali para tomar pancada”, contou o também cinegrafista Sérgio Colonese, amigo de Santiago há onze anos. “Ele não se preocupava apenas com ele, queria sempre ter certeza de que toda a equipe estava em segurança”, acrescentou a repórter Camila Grecco.

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Homenagem – A morte de Santiago Andrade foi lembrada também em um ato na praia de Copacabana, Zona Sul do Rio. Uma cruz negra de 15 metros foi estendida na areia junto a uma faixa, que diz: “Em memória de quem morreu no exercício da profissão de valor indispensável para a democracia”. Em um tripé, uma câmera foi colocada apontada para baixo, simbolizando o fim da carreira do cinegrafista. A homenagem é do movimento Rio de Paz.

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