Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Uma perigosa brecha para os maus policiais

A migração da Corregedoria da Polícia Civil para a Secretaria de Segurança aumentou em 60% o número de policiais demitidos por infrações graves. Projeto que entra em pauta esta semana quer acabar com o avanço

Por Carolina Freitas e André Vargas
22 ago 2011, 19h40

Será votado nesta semana, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), um projeto do deputado Campos Machado (PTB) que, se aprovado, representará um enorme retrocesso para a segurança pública no estado. O projeto diz respeito ao funcionamento da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo. Em 2009, o órgão saiu da esfera do delegado-geral da Polícia Civil e foi entregue à Secretaria de Segurança Pública. Sob o comando do secretário Antonio Ferreira Pinto, a corregedoria, que fiscaliza a conduta dos policiais, se tornou exemplo de combate à corrupção. A proposta é que tudo volte a ser como era.

Levantamento do site de VEJA feito com base em dados da Secretaria de Segurança Pública mostra que o número de maus policiais civis demitidos aumentou 60% desde 2009. Um lembrete: os agentes só são punidos com demissão se tiverem cometido infrações graves, como, agressão física, peculato (apropriar-se ou desviar dinheiro ou bem público ou particular), prevaricação (deixar de cumprir com a função ou desobedecer a lei no cumprimento da função para proveito próprio) e concussão (exigir vantagem indevida para cumprimento da função).

Um basta na corrupção

  1. • A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo foi anexada ao gabinete do secretário de Segurança em agosto de 2009, por decreto do então governador José Serra
  2. • De 2007 a 2008, antes de a corregedoria funcionar sob comando do secretário da Segurança, foram demitidos por faltas graves 182 policiais
  3. • De 2009 e 2010, com a corregedoria já anexa ao gabinete do secretário, o número de policiais demitidos foi de 290 – aumento de 60% em relação ao período anterior
  4. • Trabalham na corregedoria 544 funcionários, sendo 133 delegados. Boa parte desses servidores foram trocados na configuração atual do órgão
  5. • A função da corregedoria é apurar abusos e crimes cometidos por policiais civis. Os malfeitos mais graves podem ser punidos com a demissão do policial. São eles: corrupção e agressão física
  6. • Por dia, o órgão recebe de cinco a oito denúncias. Todas são apuradas e, se houver indícios da irregularidade, se transformam em sindicâncias ou inquéritos
  7. • Denúncias contra maus policiais podem ser feitas de forma anônima pelo plantão 24 horas da corregedoria, no (11) 3231-5536

Fonte: Secretaria de Segurança de SP

Nos dois anos anteriores à mudança, 2007 e 2008, os processos da corregedoria resultaram na demissão de 182 policiais civis. Depois do decreto, entre 2009 e 2010, foram 290 demissões – 108 a mais do que no período anterior, ou 60%. Até junho de 2011, o órgão já demitiu 44 maus policiais. “A vinculação da corregedoria ao secretário trouxe independência à apuração, não há mais o que temer ao investigar policiais”, disse ao site de VEJA o corregedor-geral da Polícia Civil, Délio Marcos Montresor. “A medida derrubou a corrupção. Hoje, a maioria das prisões que fazemos é de ex-policiais ou de pessoas tentando se fazer passar por policiais, não mais de policias.”

Continua após a publicidade

Tirar a corregedoria do comando da Polícia Civil também deu celeridade a investigações emperradas há anos. O maior símbolo da ineficiência do órgão foi o caso de extorsão ao traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía. Preso pela Polícia Federal (PF) e extraditado para os Estados Unidos, Abadía disse em depoimento que pagou resgate de três subordinados e da mulher de um deles, sequestrados e achacados por policiais civis de Diadema, na Grande São Paulo.

Palavras do traficante: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos, da Polícia Civil).” O caso havia sido denunciado dois anos antes à corregedoria, mas só foi analisado em julho de 2009, depois que Ferreira Pinto assumiu a Secretaria de Segurança Pública.

Quatorze policiais foram indiciados por extorquir dinheiro de Abadia e de outro traficante colombiano, conhecido como El Negro. Os policiais arrancaram dos bandidos 2,7 milhões de reais. A anexação da corregedoria ao gabinete do secretário ocorreu um mês depois, por um decreto de 25 de agosto de 2009.

“Nossa estratégia é de solução rápida para os casos mais graves”, diz Montresor. “Dá-se o exemplo do que acontece com quem agir mal. A grande maioria dos policiais civis de São Paulo é composta de boas pessoas. Os maus são poucos, mas aparecem muito.” Em outras palavras, implantou-se um mecanismo simples e eficaz: a punição de um malfeito desencoraja a ocorrência de outros malfeitos.

Continua após a publicidade

Corrupção – No estilo que lhe é peculiar, Campos Machado fala, fala, mas não consegue explicar em que devolver a corregedoria à Polícia Civil melhoraria a segurança pública do estado. Na falta de argumentos, insiste que ter feito a mudança por decreto, em 2009, foi inconstitucional. “O secretário poderia botar a corregedoria ao lado do gabinete dele, mas não mudar a lei”, diz.

Advogado criminalista por formação, Campos Machado tem trânsito com lideranças da polícia. Neste caso, encampa um desejo de parte da corporação. Há dois anos, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) ameaça recorrer à Justiça contra o decreto que alterou o funcionamento da corregedoria. “A relação com o secretário (Antonio Ferreira Pinto) nunca foi amistosa. Ele nunca nos recebeu”, reclama o presidente do Sindpesp, George Melão.

Na Assembleia, o PSDB promete barrar a iniciativa de Campos Machado. “Não podemos enfraquecer o modelo da política de segurança”, diz o deputado e líder da bancada tucana, Orlando Morando. Para aprovar o projeto, derrubando o decreto atualmente em vigor, é preciso obter a metade dos votos dos 94 deputados.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.