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Turismo da Bahia fica refém da onda de crimes

Setor sofre as consequências da falta de segurança desde que PMs pararam. Bares e lojas fecham mais cedo e pousadas perdem reservas para o Carnaval

Por Cida Alves, de Salvador
8 fev 2012, 09h43

Em uma terça-feira de fevereiro com calor de 35 graus Celsius e a exatamente duas semanas do Carnaval, o Pelourinho, um dos principais pontos turísticos de Salvador, deveria estar cheio de turistas aproveitando o verão enquanto esperam a chegada da maior festa da capital baiana. No clima de férias, os turistas relaxam e gastam bastante, movimentando o turismo na cidade e garantindo o sustento dos comerciantes para aguentar a baixa temporada do pós-carnaval. Porém, os donos de lojas, restaurantes e pousadas da região viram o vai-e-vem de visitantes ficar cada vez mais tímido depois do início da paralisação dos policiais militares da Bahia, que já completa nove dias.

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“Os poucos turistas que ainda vêm trazem pouquíssimo dinheiro no bolso e andam sem máquina fotográfica nem joias, com medo de serem assaltados”, conta César Gonçalves, de 70 anos, que tem uma loja de quadros na Praça Terreiro de Jesus, no Pelourinho. Chegou aos comerciantes a notícia de que um cruzeiro com 3.000 passageiros deixou de parar em Salvador por causa da falta de segurança. E Gonçalves tem medo de que o mesmo ocorra com outras embarcações. Na rua, os comerciantes são unânimes em dizer que o movimento caiu pela metade.

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Na pousada de Eduardo Stival, de 31 anos, os pedidos de reserva para o Carnaval despencaram. “Nessa época eu costumo receber uns cinquenta e-mails por dia com solitações de reserva. Hoje, se eu recebo cinco, é muito. Nem quero contabilizar o meu prejuízo para não passar raiva”, afirma. Uma cliente dele, que costuma passar o verão todo na capital baiana pediu o dinheiro da reserva do Carnaval de volta para antecipar o retorno para casa depois de ser assaltada na semana passada. “Eu tive que devolver, por uma questão de humanidade. O que eu vou fazer?”, diz Stival, que está com apenas seis dos 24 quartos de sua pousada com hóspedes – a pior ocupação desde que inaugurou o estabelecimento, há dois anos.

Jaques Wagner e Rui Costa
Jaques Wagner e Rui Costa (VEJA)

Para a Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis da Bahia, se a greve da PM continua, vai prejudicar principalmente as reservas de última hora, que representam cerca de 20% da ocupação dos hotéis para o período do Carnaval. Mesmo com um registro de cancelamento de 10% dos pacotes de viagem para a Bahia nas agências, a associação de hotéis afirma que até agora não houve grande impacto no setor, mas o desfecho da greve nesta semana seria decisiva para que o setor não seja impactado de forma significativa. Segundo a associação, Salvador recebe cerca de 600.000 turistas no Carnaval.

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Comércio e bares – Já o comércio, bares e restaurantes têm um cenário bem mais pessimista. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da Bahia (Abrasel-BA), Luiz Henrique Amaral, a queda do movimento desde o início da greve da PM variou de 50% a 90%, de acordo com as características de cada estabelecimento.

Os bares que abrem à noite foram os mais prejudicados, porque as pessoas não ficam mais nas ruas nesse horário. “Nosso setor trabalha com lazer e entretenimento e ninguém consegue pensar nessas duas coisas com um caminhão do Exército na frente”, disse Amaral. Só no mês de fevereiro, a queda no faturamento dos bares chega a 25%. “Esse é o pior momento para perder, pois na época do Carnaval é que nós temos o maior pico de faturamento do ano”.

Segundo a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia, o prejuízo do comércio é de 60 milhões de reais por dia. Muitos estabelecimentos estão fechando as portas mais cedo, como os shoppings Lapa e Piedade, em pleno centro de Salvador. Os dois centros comerciais estão encerrando as atividades às 17h30, quando o horário normal seria às 22 horas.

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“Até agora já foram cerca de 400 milhões em perdas, tanto por permanecerem fechados como por causa dos saques e destruição de algumas lojas”, afirmou o presidente da federação, Antoine Tawil. Segundo ele, não é apenas a capital que está sofrendo os impactos econômicos da greve, que também está refletindo em Feira de Santana e Vitória das Conquista, outras duas grandes cidades da Bahia, onde muitas lojas só estão funcionando até as 14 horas.

“O turismo é o segmento mais sensível da economia. Qualquer convulsão social, surto de doença ou outro tipo de problema, respinga logo no turismo”, disse o presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens na Bahia (Abav-BA), Pedro Galvão. Segundo o presidente, reuniões estão sendo realizadas com a Secretaria de Turismo de Salvador para discutir quais medidas serão tomadas caso a greve continue. “Ninguém quer vir para um lugar inseguro, ainda mais em uma festa com milhares de pessoas nas ruas. A segurança é fundamental”.

De acordo com ele, uma estratégia de ação está sendo preparada, e um dos objetivos é recuperar a imagem do estado que, para ele, ficou arranhada com o episódio da greve, que resultou em uma escalada da violência na Bahia. Desde o início do movimento grevista, o número de homicídios chegou a 120, uma média de 15 por dia, bem acima da média diária do ano passado, de 4,2.

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(Com reportagem de Marina Pinhoni)

Mercado Modelo, um dos principais pontos turísticos de Salvador, na tarde de terça-feira: vazio por causa da falta de segurança
Mercado Modelo, um dos principais pontos turísticos de Salvador, na tarde de terça-feira: vazio por causa da falta de segurança (VEJA)

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