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Tranquilo Favero: “Quero terminar meus dias no Paraguai”

Empresário brasileiro foi escolhido inimigo número um de sem-terra paraguaios

Por Carolina Freitas
13 fev 2012, 08h52

Rei da Soja ou Dono de Meio Paraguai. O empresário brasileiro Tranquilo Favero, de 74 anos, dispensa tanto uma quanto outra alcunha. No momento, pede apenas um pouco de sossego. “Só quero que me deixem trabalhar em paz. É a única coisa que sei fazer”, diz nesta entrevista concedida ao site de VEJA. O nome de Favero está todos os dias no noticiário e nos discursos exaltados dos carperos. Ele foi eleito inimigo número um do movimento sem-terra e suas fazendas estão na rota das invasões. Na última terça-feira, cerca de 8 000 carperos avançaram sobre as terras dele, em Ñacunday, no Alto Paraná, leste do Paraguai.

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De quem o senhor comprou as terras que tem hoje? Todas as terras que tenho foram compradas de proprietários privados e adquiridas durante quarenta anos de trabalho intenso. Os preços variaram bastante, mas todo o recurso veio do reinvestimento do que ganhei com a atividade agrícola.

O senhor tem título de cada hectare de terra que tem? De absolutamente todos. Não tenho um pedaço de terra sem o título de propriedade devidamente registrado.

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Quantos hectares de terra o senhor tem hoje no Paraguai? Posso dizer que as empresas das quais sou sócio têm muitíssimo menos terras do que especulam. Dizem que sou dono de 1 milhão de hectares. Hoje não existe nenhuma pessoa ou grupo econômico que tenha essa quantidade de terras no Paraguai.

Mas qual o tamanho total das propriedades do senhor? Sou acionista de várias empresas, mas não tenho terras em meu nome no Paraguai. Nesse momento sensível pelo qual estamos passando, não me parece prudente mencionar números já que isso poderia repercutir direta ou indiretamente sobre meus sócios ou sobre empresas com as quais nos relacionamos. Contudo, posso afirmar que a cifra que me atribuem é absurda. E posso dizer mais: pelo conhecimento que tenho do mercado paraguaio, duvido que existam pessoas ou grupos econômicos que tenham propriedades que correspondam a 30% do que querem me atribuir.

Que atividades o senhor desenvolve nessas terras? Agricultura e pecuária extensiva.

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Quanto das terras que o senhor comprou ao chegar ao Paraguai foram vendidas ou arrendadas? Sou produtor agropecuário e minha profissão está relacionada a isso. Vendi algumas terras nesses quarenta anos, mas minha atividade não é o negócio imobiliário.

Os carperos estão avançando sobre as terras do senhor em Ñacunday. Que medidas o senhor tomou para proteger a sua propriedade? Como estamos seguros de que todas as nossas propriedades estão devidamente documentadas, confiamos plenamente na Justiça paraguaia. Temos tomado todas as medidas legais possíveis para resguardar nossos direitos.

O governo de Fernando Lugo tem recebido líderes dos carperos para negociar. O senhor foi recebido pelo presidente para falar sobre as terras do senhor? Nunca fui convidado a discutir a questão dessas terras ou qualquer outro assunto com a presidência. Na minha opinião, não cabe ao presidente Lugo fazer esse convite, uma vez que a Justiça já declarou em diversas ocasiões que não existe nessa região terras sem registro ou que pertençam ao poder público.

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Os carperos colocam o senhor como inimigo número um deles. Como o senhor se sente diante de tanto ódio? Uma vez que tenho 100% de certeza sobre a legitimidade das terras do nosso grupo, o sentimento que me invade é de injustiça, depois de tantos anos de sacrifício. Não tenho ódio de ninguém. Só quero que me deixem trabalhar em paz. É a única coisa que sei fazer.

Milhares de brasileiros que vivem e cultivam terras no Paraguai vêm sofrendo agressões e ameaças dos carperos. Que conselho o senhor dá a esses brasileiros? Que mantenham a calma, uma vez que a Justiça vai prevalecer sobre essas acusações ilegítimas e sem fundamento. Quando essa situação acabar, sairemos fortalecidos.

Como o senhor avalia a atuação do presidente Fernando Lugo diante do conflito entre carperos e produtores rurais brasileiros no Alto Paraná? Prefiro não opinar sobre isso. Basta acompanhar os comentários publicados pelos jornais locais.

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Como o senhor avalia a atuação do Itamaraty e do governo Dilma Rousseff diante da situação? Como disse antes, tenho certeza absoluta que, cedo ou tarde, a Justiça paraguaia deixará as coisas claras. O governo brasileiro tem expressado publicamente sua preocupação a respeito do que vem acontecendo em Ñacunday. Sabemos que representantes dos dois governos têm se reunido para tratar do tema.

O senhor procurou a embaixada para relatar os abusos em suas terras? Nos reunimos em várias oportunidades, com toda a documentação necessária. Eles estão cientes da situação atual.

Se as terras produtivas do Alto Paraná chegarem a cair nas mãos dos carperos, que destino o senhor acha que elas terão? Não cogitamos essa possibilidade porque somos os legítimos donos das terras e não temos a intenção de vendê-las a ninguém nesse momento. Além disso, os carperos não têm condições de mantê-las, tanto pela carência de nível técnico quanto pela falta de recursos financeiros.

Com essa insegurança institucional no Paraguai, qual a possibilidade de o senhor vender o que tem e voltar para o Brasil? Nenhuma. Tudo o que tenho está aqui. Sou naturalizado paraguaio há 25 anos e pretendo terminar meus dias nesse país maravilhoso.

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